segunda-feira, 13 de abril de 2009

Tiradentes MG

O Rafael e a Lu vieram com a Aline de Brasília, dormimos no meu apartamento, alugamos um carro e descemos para Tiradentes, 190 km de BH. Lá estava ela, a cidade pequena, histórica e aconchegante, repleta de turistas de diversos estados lindeiros e alguns turistas estrangeiros perdidos entre as maravilhas do Barroco. Emoldurada pela Serra de São José, um maciço belíssimo e muito alto, a cidadezinha colonial se espalha em poucas quadras como patrimônio tombado pelo Iphan em 1938. Tiradentes recebeu este nome logo após a Proclamação da República, em homenagem ao alferes Tiradentes da Inconfidência Mineira (1789), herói brasileiro com o nome inscrito no Livro dos Heróis do Panteão da República (na praça dos Três Poderes, em Brasília, projeto do Niemeyer).
Tiradentes tem algumas das igrejas barrocas peculiares do Brasil (próximo post...). Fundada em 1702, foi o local no país que mais teve ouro de superfície. Isto atraiu muitas pessoas para a região e com as pessoas, numa combinação inseparável, as igrejas. Os prédios religiosos são poucos, mas fogem do luxo ostensivo do Barroco europeu (reinventado no Barroco de Salvador), e escapam do improvisado e espetacular Barroco brasileiro de Ouro Preto. São especiais ao seu modo. Projetadas sob condições precárias, executadas com a mão-de-obra inexperiente da colônia, longe dos vigilantes olhos conservadores da Metrópole, desenvolveram uma leviandade toda sua. A simetria não é tão simétrica, os movimentos dos panos de fachada não são tão dinâmicos, as colunas não são tão ricas, a talha não é tão profusa. Mas é esta rusticidade que dá o encanto e nos transporta no tempo, junto ao casario nas ruas estreitas e o calçamento pé-de-moleque, na escuridão da noite, mal iluminados por lampiões artificiais, vamos convivendo com a atmosfera mágica e rude de um Brasil colônia, um país em formação. Repisando pedras pisadas por nossos ancestrais, refazendo seus caminhos, outras roupas, outras línguas, somos todos parte de uma só construção.
Tiradentes é uma testemunha das dificuldades de viver no passado diante da intolerância e incerteza do mundo natural, da simplicidade e da ignorância, mas especialmente (para mim) da luta árdua de colonizar o desconhecido. De lutar contra o natural, de perseguir a beleza sem concessões, de adaptar-se ao inesperado, de transformar o mundo hostil ao seu redor em um mundo conhecido e suportável. Em Tiradentes sinto-me parte disso tudo. Como se todo o esforço para criar aqui um país tivesse sido recompensado. Talvez não importem os percalços, o Brasil nasceu, tropeçou mas está aqui. Nessas horas, em lugares que foram nossa história, sinto uma sensação gostosa de herdeiro de uma herança de luta, vontade e conquista, que me traz outra sensação, arcar com uma contrapartida de cidadão, parte de uma história que construíram para mim e que tenho de ajudar a construir para quem vier. O passado está em Tiradentes, talvez o futuro também esteja.

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