terça-feira, 6 de abril de 2010

Miojo

"A paz está garantida quando não se está com fome"
Momofuku Ando - criador do Miojo

Não sei o que acontece comigo, mas toda vez que vou fazer Miojo tenho que ler as instruções. Acho que tem a ver com alguma esperança sórdida dentro de mim de que a maneira de fazer macarrão instantâneo tenha mudado, e a fórmula seja mais simples ainda. Uma espécie de ultimate way to cook pasta, algo assim como uma idéia impressionante que revolucionaria o mundo da alimentação. Mas não. Meu Miojo desde os quinze anos de idade continua sendo cozinhado por 3 minutos em 450 ml de água fervendo.


Hoje, diante do desafio de mais um Miojo, fui para o Google para saber o que queria dizer Lamen (como disse Nelson Motta, imagine o que Flaubert escreveria se pudesse acessar o Google). Lamen é um macarrão japonês, e o Miojo nasceu em Taiwan, apesar de haverem registros de macarrões instantâneos desde o século XVI na China. Momofuku Ando, criador do lendário macarrão, teve a idéia após a guerra ao presenciar uma fila de pessoas famintas em frente a uma vitrine de fios de macarrão.

De fato, o que temos é que Miojo deveria ser tombado como patrimônio nacional. Por intermédio dele milhões de estudantes em repúblicas e longe da casa dos pais puderam se alimentar depois da aula, e não foram raros os casos onde um saquinho desses salvou um feriado inesperado de 7 de setembro com tudo fechado e nada para comer em casa. Unanimidade entre estudantes, solteirões, recém casados e descasados, inabilidosos cozinheiros e maconheiros, o bom e velho Nissin é praticamente uma instituição da larica provocada pelo uso de uma erva que a rapaziada fuma pelas praias do Brasil afora. 

Miojo não tem classe social, cor, raça, credo ou religião, serve sempre e para todos. Incrementado com creme de leite ou molho de latinha, ketchup, com requeijão ou ovo frito, coberto daquele corante com gosto de galinha caipira, bacon, carne (e recentemente picanha), nunca perde a essência. Basta ter um fogão, uma panelinha, água e um fósforo, e voilá! está pronta a refeição. Conheço pessoas que se tornaram psicologicamente dependentes de Miojo, e quando ele trocou de nome para Nissin tiveram que procurar ajuda especializada. Era como uma referência que desaparecia, seria como comer com um estranho toda noite depois da balada.

Se você leu todo este post, sabe do que estou falando. Se não sabe, benvindo* à Terra, estranho.

Miojo é Nissin!

*O vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, registra duas grafias para a saudação: "bem-vindo" e "benvindo".