sexta-feira, 14 de agosto de 2009

O mundo é Lá

Arquivo. Imprimir. Imprimir. Pronto, lá vai o texto para a impressora. Ela bufa, geme, apita, ronca.
Nada de texto.
Jamais.

Todo mundo sabe que temos informações pessoais guardadas em algum e muitos lugares. Nós guardamos fotos no Picasa; frases no Twitter; Emails com textos enormes e powerpoints no Hotmail e no Gmail; músicas retiradas da internet pelo SoulSeek; filmes pelo Emule. Quando precisamos de alguma dessas coisas, não precisamos entrar em pânico, elas sempre estão lá. Mas onde é Lá? Confesso que essa frase roubei de Tom Vanderbilt, escritor do New York Times, num encantador e espetacular artigo chamado Datatecture (algo como Dadostetura, ou os lugares que chamamos de Lá em nosso mundo de informações guardadas a distância). No dia em que alguém recebeu em sua caixa de entrada meia foto que eu mandei pelo Hotmail, fiquei algum tempo pensando em onde vão parar as coisas que temos, ou pior, aquelas que desaparecem entre o computador e a impressora, ou entre meu teclado e a caixa de entrada de outra pessoa, ou mesmo as que simplesmente salvamos clicando sobre um botão laranja (como este post). Quem já passou pela estranha experiência de perder virtualmente uma página de texto entre o computador e a impressora (ou milhares) sabe do que estou falando. Uma antiga amiga costumava dizer que o inferno deve ser um lugar onde a gente está sempre atrasado para entregar um relatório e passa o dia inteiro tentando imprimir em uma impressora conectada em rede. Descobrir onde é Lá passou a ser o meu desafio esses dias.

Meia foto.No nosso novo mundo de virtualidades, Dali seria infantil.

Aprendi num livro que Virtual é o que não está presente, assim, concluí que Lá é um lugar virtual. Lá também é um lugar desconhecido, infinitamente distante, mas paradoxalmente acessível de qualquer lugar. Longe de tudo e permanentemente próximo. Lá eu posso esconder tudo, mas corro o risco de que tudo se torne público, ou posso publicar tudo e jamais ter algo visto por todos. Posso ser conhecido por qualquer um que eu não conheça, ou uma celebridade anônima. Seja onde for Lá, Lá tem que existir, porque no final das contas sempre há uma outra realidade independente por detrás do mundo real, Platão já sabia disso, e por isso acreditava no Mundo das Idéias. Em uma análise superficial, talvez o problema esteja entre o Lá e o Cá, o caminho que liga esses mundos esteja ainda em construção, e tantas mensagens se percam nessa via esburacada, ou fiquem enredadas sem saída na Larga Rede Mundial (World Wide Web).
A Terra era redonda, nos ensinou Galileu. Thomas Friedman escreveu "O mundo é plano", sobre um mundo linear, globalizado e previsível, mas agora começo a suspeitar que "O mundo é Lá".
foto: New York Times

Um comentário:

Clarisse disse...

Meu filho tem três anos de idade e dentro do seu mundo ainda tão minúsculo,mas tão cheio de novidades, ele tem a perfeita noção de um mundo virtual que o acompanha e o quanto lhe é útil, pois basta acessar o Youtube e começam os pedidos, onde ele mesmo já criou seus temas: "quero ver o do Robô (Wall-E)"; "quero ver o do macaco mexendo no lixo (Madagascar I)", "quero ver o do Pateta dançando (Toy Story II)" e assim vai...quando falo para ele algo que nunca ouviu, imaginou ou que ele julga impossível ele logo diz " Ah, igual o Arthur na internet.." E eu que quando era criança aqui no interior para assistir desenho por bastante tempo, só quando "caía o link". Ah, esse comentário não tem nada a ver com a postagem, abraço Marcelo!