segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Resolução de Ano Novo

Eu nunca tomei resoluções de Ano Novo. Sempre me senti meio mal com isso, porque tinha a sensação que deveria mudar alguma coisa, afinal, o mundo estava mudando também. Será? Você já parou para se perguntar por que setembro (sete...) é o mês nove? Foram os romanos que alteraram o nosso calendário original, baseado em ciclos lunares. Um cara chamado Imperador Pompílio resolveu dividir o ano em 12, mesmo com o ano de 365 dias! O ano começava em março (deus Marte), abril (aprilis, de abrir as colheitas), maio (da deusa Maia, mãe de Hermes, o cara que corria para caramba), junho (da deusa Juno, com um temperamento terrível, casada com Júpiter, ciumenta como uma deusa deve ser). Depois começava a simplificação, quintillis, sextillis, setembro, outubro, novembro e dezembro. No final vinham janeiro e fevereiro. Como Pompílio errou nos cálculos, a cada dois anos precisavam colocar um mês extra de 22 ou 23 dias. Vamos combinar! Que negócio mais complicado! Imagine o cálculo de férias e décimo terceiro, recolhimento de impostos e ano escolar?

- Pai, esse ano tem quantos meses?

- Não sei filho, me perdi faz uns quatro.

Julio César resolveu a parada e no ano 46 a.C. criou o novo calendário. Esse ano ficou conhecido como "o ano da confusão" porque tinha um erro de 432 dias. Como o erro acumulado era enorme, os meses se sobrepuseram e o Ano Novo passou para Janeiro. Daí que setembro em diante saíram do lugar. Ei! Ninguém pensou em mudar os nomes? Passar setembro para novembro? Pensou. O Senado alterou o nome do mês quintillis (que agora não era o quinto, mas o sétimo) para Julius, em homenagem a Julio César, 31 dias. Quando Augusto César teve que fazer nova reforma no calendário em 8 a.C. aproveitou para colocar seu nome no mês sextillis e o chamou de Augustus (Agosto). Mas como tinha 30 dias, puxou um diazinho de fevereiro para ficar igual ao de Júlio César, fevereiro ficou com 28. E você meu amigo, que achava que empregar parente era uma sacanagem...o cara roubou um dia do calendário. Esse era profissional.

No Renascimento o Papa Gregório alterou tudo outra vez. Reduziu o ano para 365 dias e criou o ano bissexto, pois a cada quatro anos perdemos um dia (o ano tem 365 dias, 5 h 49 minutos e 12 segundos). Esse é o calendário que usamos hoje. Mesmo que 4 vezes o tempo perdido seja menos do que 24 horas...vai entender.

Agora, pense comigo. Einstein disse que o tempo não existe, é somente a maneira que tentamos explicar a vida (ou coisa parecida). A cada quatro anos recuperamos um pedaço do tempo, mas não comemoramos o Ano Novo 5 horas mais cedo no primeiro ano seguinte ao bissexto! Como disse Veríssimo (ou foi o Quintana?) contamos em anos porque é menos chato do que contar em dias. Além disso ainda teve um Calendário Positivista, do Auguste Comte (os meses tinham nomes de grandes homens da história, e cada dia tinha um homenageado. Ainda bem que não pegou: Eu nasci em Sócrates, no dia de Plutarco...), e ainda temos o Ano Judeu, o Ano Chinês, os Anos Muçulmanos. Daí que concluí que não preciso mesmo ter resoluções de Ano Novo. Vou ter resoluções pela minha própria lei, nos dias que quiser, se quiser, e contar os dias do jeito que eu achar divertido. Essa semana comecei a fazer academia. Meu Ano Novo já começou. E o seu?

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Crepúsculo II

Se você caiu neste blog procurando algo sobre Crepúsuclo, a saga, vá para http://www.intrinseca.com.br/crepusculo/serie/serie.php . Senão, fique por aqui e leia.
Vou voltar para o Kafka. Quando ele era vivo, vendeu pouquíssimos livros. Chegou ao cúmulo de ter uma edição completa de seus contos vendida como papel para reciclagem. Por sorte, o cara que comprou resolveu guardar três livros, e um deles veio parar no Brasil e está exposto no Rio. Não são poucos os exemplos deste tipo. Depois do evento da livraria (leia o post Crepúsculo, abaixo deste) fiquei pensando em todos esses escritores que escreveram obras que se tornaram lendárias, e se eles teriam a mesma oportunidade nos dias de hoje. Não que eu não concorde que Stephenie Meyer tem talento. Tem. Assim como Sidney Sheldon, Ken Follet, Marion Zimmer Bradley, J.J.Benítez, Nora Roberts e muito antes Agatha Christie, Arthur Conan Doyle e Ian Fleming. O problema é que esses escritores basearam suas carreiras em uma única história contada de diferentes maneiras. Não é bem o caso da saga Crepúsculo (qualquer semelhança com Romeu e Julieta...), mas não dá para dizer que não é o caso dos demais. Sidney Sheldon tem uma mulher sofrida que enriquece e se vinga de um homem, vingando todas as mulheres do mundo em todos os homens. Ou o contrário. Agatha Christie tem um suspeito preferido que não é o culpado. E por aí vai. Em um mercado editorial de alta copetitividade, J.K.Roling que criou Harry Potter teve seus originais devolvidos sem edição 15 vezes. Fico pensando em quantas devoluções Truman Capote teria com A Sangue Frio, ou Bonequinha de Luxo (aliás, escreva Bonequinha de Luxo no Google e você vai encontrar 122 mil resultados, a maioria falando sobre o filme, como se o livro nem existisse). Pense em Goethe e Fausto, quem ia querer comprar um livro de um cara que achou um cachorro negro na rua e levou para casa? bem...este talvez funcionasse, se tivesse um labrador preto na capa, correndo na chuva com as orelhas para trás. E Tólstoi? "Todas as pessoas felizes se parecem. As infelizes, cada uma é infeliz à sua maneira". Se bem que as histórias em si já existam, cansa ler tudo de novo em outra ordem, mesmo que Madame Bovary, de Flaubert, pudesse ter sido escrito por Sidney Sheldon (perdoem-me, eu não sei o que digo), ou A mulher de trinta anos pudesse ter sido escrito por Marta Medeiros (perdoem-me muito mais), ainda asism é demais. Quando eu tinha uma locadora de video com meu irmão, as crianças adoravam alugar sempre o mesmo filme. Os adultos achavam isto estranho, mas se você parar para pensar, vai ver que as séries literárias são exatamente assim. No fundo temos medo do desconhecido. Medo de tentar e errar em uma sociedade da informação baseada na chance única e no acerto a qualquer custo, que não consegue entender que errar é uma das maneiras de descobrir como fazer certo. Assim fica mais fácil sofrer com a mocinha de Ken Follet, ou com um self-made man de Sheldon, é como ter certeza de que no fim tudo dá certo. Difícil é encarar Holly Golightly tendo uma overdose, Gregory Sansa virando inseto, Gatsby morrer de tristeza sem nada mais para conquistar ou Fausto tentar recomprar sua alma por amor à sua amada. Faz a gente pensar. Pobre Heminghway, pobre Kafka, pobre Balzac, nos dias de hoje teriam que escrever "O que aprendi com a câmara de gás", "Metamorfose - seu caminho para o sucesso", "Sou mulher! - Porque ter trinta anos não é crime". Salve a literatura universal!

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Crepúsculo

Se você caiu neste blog procurando algo sobre Crepúsuclo, a saga, vá para http://www.intrinseca.com.br/crepusculo/serie/serie.php . Senão, fique por aqui e leia.

No final de semana fui numa dessas megalivrarias comprar um livro. Isso mesmo, podia ter ido na livraria comprar um computador, um mouse, uma TV de LCD, um som, um GPS, jogos para PC ou mesmo um livro. Fui pelo livro. Não tenho nada contra super-hiper-ultra livrarias, desde que elas não percam a noção do que são em essência. Perguntei para a menina que me atendia sorridente se ela podia procurar no sistema um livro sobre a vida do Kafka, não lembrava o nome, nem o autor, nem a editora, mas sabia que tinha Kafka em uma das palavras do nome. Ela me olhou apreensiva e hesitante tentou teclar no computador.

CA...

- Não, interrompi. É Kafka com K.

Mais uma tentativa. KAC...

Achei que não estávamos indo bem. Algumas pessoas em Brasília costumam não entender meu sotaque, por isso até parei de falar três e dez e agora digo trêis e déis. Tentei ser mais claro, carregando no sotaque fabricado.

- Kafka, como o escritor, com dois Kas.

Achei que assim, numa livraria daquele tamanho, vendendo livros, seria mais fácil ela entender. Kafka, o escritor.Sabe?
KAFIC...

- Não, não! eu ficando impaciente. Com K e depois K de novo, escritor da Metamorfose, O Processo, sabe?

A menina, coitadinha, nervosa diante do teclado, com medo de errar mais uma vez e até com medo de mim, contratada para as festas de final de ano, sem a menor idéia de quem era o tal de K-sei-lá ou do que escrever, me olhando de lado, arrisca outra vez. KKAFI... Eu desisiti.

- Olha, deixa que eu digito prá você... de saco cheio e louco para ler o livro, mas sem nenhuma esperança. Enter.
- Não tem.
- Hum...eu, ironicamente...Mas Crepúsculo tem né?
Ela abriu o sorrisão...
- Tem!Todos!
Crepúsculo, da saga Crepúsculo (Twilight) de Stephenie Meyer ela conhecia bem e tinha. Uma pilha na entrada da loja, com bonequinhos de plástico do Edward e da Bella. Me ofereceu os outros também, Lua Nova, Eclipse e Amanhecer e com uma alegria contagiante de quem ia vender todos para aquele cara que tinha um sotaque estranho e procurava um livro que ninguém conhecia.
- Obrigado, não vou querer, não.
- Mas são ótimos.
- Sei...ouvi falar.

*** Esta postagem continua em Crepúsculo II, aí em cima. Antes disso, não pense que eu não gosto da série, não tenho nada contra, não me xingue. Nem quero ser intelectual ou intelectualóide, é só uma constatação. Ah, e eu também leio livros de grande popularidade, uma vez só, é verdade, mas leio. ***