terça-feira, 24 de novembro de 2009

Crepúsculo II

Se você caiu neste blog procurando algo sobre Crepúsuclo, a saga, vá para http://www.intrinseca.com.br/crepusculo/serie/serie.php . Senão, fique por aqui e leia.
Vou voltar para o Kafka. Quando ele era vivo, vendeu pouquíssimos livros. Chegou ao cúmulo de ter uma edição completa de seus contos vendida como papel para reciclagem. Por sorte, o cara que comprou resolveu guardar três livros, e um deles veio parar no Brasil e está exposto no Rio. Não são poucos os exemplos deste tipo. Depois do evento da livraria (leia o post Crepúsculo, abaixo deste) fiquei pensando em todos esses escritores que escreveram obras que se tornaram lendárias, e se eles teriam a mesma oportunidade nos dias de hoje. Não que eu não concorde que Stephenie Meyer tem talento. Tem. Assim como Sidney Sheldon, Ken Follet, Marion Zimmer Bradley, J.J.Benítez, Nora Roberts e muito antes Agatha Christie, Arthur Conan Doyle e Ian Fleming. O problema é que esses escritores basearam suas carreiras em uma única história contada de diferentes maneiras. Não é bem o caso da saga Crepúsculo (qualquer semelhança com Romeu e Julieta...), mas não dá para dizer que não é o caso dos demais. Sidney Sheldon tem uma mulher sofrida que enriquece e se vinga de um homem, vingando todas as mulheres do mundo em todos os homens. Ou o contrário. Agatha Christie tem um suspeito preferido que não é o culpado. E por aí vai. Em um mercado editorial de alta copetitividade, J.K.Roling que criou Harry Potter teve seus originais devolvidos sem edição 15 vezes. Fico pensando em quantas devoluções Truman Capote teria com A Sangue Frio, ou Bonequinha de Luxo (aliás, escreva Bonequinha de Luxo no Google e você vai encontrar 122 mil resultados, a maioria falando sobre o filme, como se o livro nem existisse). Pense em Goethe e Fausto, quem ia querer comprar um livro de um cara que achou um cachorro negro na rua e levou para casa? bem...este talvez funcionasse, se tivesse um labrador preto na capa, correndo na chuva com as orelhas para trás. E Tólstoi? "Todas as pessoas felizes se parecem. As infelizes, cada uma é infeliz à sua maneira". Se bem que as histórias em si já existam, cansa ler tudo de novo em outra ordem, mesmo que Madame Bovary, de Flaubert, pudesse ter sido escrito por Sidney Sheldon (perdoem-me, eu não sei o que digo), ou A mulher de trinta anos pudesse ter sido escrito por Marta Medeiros (perdoem-me muito mais), ainda asism é demais. Quando eu tinha uma locadora de video com meu irmão, as crianças adoravam alugar sempre o mesmo filme. Os adultos achavam isto estranho, mas se você parar para pensar, vai ver que as séries literárias são exatamente assim. No fundo temos medo do desconhecido. Medo de tentar e errar em uma sociedade da informação baseada na chance única e no acerto a qualquer custo, que não consegue entender que errar é uma das maneiras de descobrir como fazer certo. Assim fica mais fácil sofrer com a mocinha de Ken Follet, ou com um self-made man de Sheldon, é como ter certeza de que no fim tudo dá certo. Difícil é encarar Holly Golightly tendo uma overdose, Gregory Sansa virando inseto, Gatsby morrer de tristeza sem nada mais para conquistar ou Fausto tentar recomprar sua alma por amor à sua amada. Faz a gente pensar. Pobre Heminghway, pobre Kafka, pobre Balzac, nos dias de hoje teriam que escrever "O que aprendi com a câmara de gás", "Metamorfose - seu caminho para o sucesso", "Sou mulher! - Porque ter trinta anos não é crime". Salve a literatura universal!

2 comentários:

Paulo Ricardo Bregatto disse...

Mano velho!!
Vc está escrevendo cada vez melhor!! Rolei de tanto rir quando li "o buraco negro lá em casa" e identifiquei, por tabela, vários "buracos negros" que tenho espalhado por onde vou!!
Espero que tudo esteja super bem contigo!!
Um abraço forte e colorado do amigo de sempre, Bregatto

Marcelo Pontes disse...

Salve, salve mestre Bregatto!
Que saudade véio! Que bom saber que vc anda por aqui de vez em quando, vou me esforçar para manter a audiência. Um grande abraço, e avante colorado!