sábado, 21 de agosto de 2010

Privacidade, Andy Warhol, George Orwell e o Facebook

Na fila do caixa eletrônico, uma camerazinha no teto fica me olhando. No cruzamento de duas avenidas, uma câmera chamada Domus filma os infratores em 360 graus. No meu blog (este) entra quem quer e lê sobre a minha vida, escreve o que quiser nos comentários e vai embora. Pelo Google, mesmo que eu não queira, colocando meu nome aparecem X citações. Onde foi parar a tal privacidade?

George Orwell em "1984" (escrito em 1949!) já tratava da privacidade como um tema que seria crítico no futuro. O tal "Grande Irmão" (Big Brother, em inglês, de onde saiu o nome do programa que assombra a TV brasileira todos os verões) ficava observando todas as pessoas do planeta o tempo todo em grandes telas que diziam: "The Big Brother is watching you", algo do tipo, O Grande Irmão está de olho em você, ou coisa parecida. Ainda não chegamos lá, mas estamos no caminho.

Depois foi a vez de The Judge (O Juiz) com Stallone, um megadetetive hiperviolento que é descongelado para perseguir um serial killer em um mundo do futuro onde tudo funciona, e as pessoas são vigiadas o tempo todo por câmeras e dispositivos que, inclusive, emitem multas quando o cara fala um palavrão.

Andy Warhol falou que  "um dia, todos terão direito a 15 minutos de fama", mas alguns filósofos contemporâneos já falam que "um dia, todos terão direito a 15 minutos de privacidade". É verdade que Warhol estava se referindo às celebridades instantâneas que estavam surgindo nos anos 60 e como a exposição pública se tornara uma meta de todos.

Atualmente cada compra que realizamos com cartão de crédito gera um banco de dados a nosso respeito. Não só informações básicas sobre onde moramos, qual banco utilizamos, nossa idade ou o número do cartão, mas informações sobre o que compramos, com que frequência, em que área física da cidade, em qual valor. Isso é uma importante ferramenta de mercado para quem que ir a fundo na pesquisa de clientes e buscar novos mercados ou mercados customizados.

Hoje o conceito de privacidade começa a mudar radicalmente. Já que estamos todos expostos, resta agora controlar o que pode e o que não pode ser exposto sobre nós. Matt Cohler, chefe da estratégia do Facebook (criado por Mark Zuckerberg), a maior rede de relacionamentos do mundo, explica que no passado privacidade era estar totalmente oculto ou totalmente visível das outras pessoas. Privado estava relacionado a segredo. Segundo Cohler, nos novos tempos, Privado não tem mais siginificado público versus oculto, mas sim quais informações quero compartilhar e com quem quero compartilhar. Dessa forma o Privado como a gente conhecia, secreto e pessoal, desaparece, e tudo que vamos ter serão níveis de acesso a nossas informações pessoais definidos por nós mesmos. Uma espécie de linha imaginária entre o que é nosso e de nossos amigos e o que é do mundo. Privado desaparece e surge o Nível de Compartilhado.

Depois disso tudo, acho que dá para dizer que a privacidade acabou, somos todos interligados, bem ao estilo de Hemingway, que tantas vezes citei aqui. Cada vez mais convergimos para uma visão familiar da humanidade, e as vezes tenho a sensação que estamos voltando para trás na genealogia da espécie, nos transformando em um único homem universal e uma única mulher universal. Adão e Eva, outra vez.
Privacidade não é aqui.

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá! Achei-o por acaso.Interessante, leve e consistente. Inclusão de receitas:10. Estamos interligados. A vida tornou-se um livro aberto de pág. arrancadas mostradas para os "compartilhados e permitidos". Com a globalização, passamos a ter amigos e namorados virtuais n/ sustentáveis fora da telinha. Somos conhecidos de quem nao queremos.Obrigados a "aceitar amigos" indesejados por estar ali, expostos. Sai do Facebook e vou para O Livreiro. A afinidade é maior. Abraços. Detalhe: virou favorito. Gostei.
Sandra Lima (prl1963@hotmail.com)