terça-feira, 6 de setembro de 2011

Musicais


Assisti Nine agora, deve ser pela décima vez. É impressionante o efeito que os musicais têm sobre mim, principalmente naqueles com mulheres sensuais, sempre gostei. Se você tem mais de 40 anos deve lembrar de Jesus Cristo Superstar, um clássico dos anos 70, Se tem menos de 40, deve assistir. A Paixão de Cristo cantada na onda hippie. Depois tem outras maravilhas como Hair, com uma história surpreendente sobre dois caras muito diferentes que tem que encarar a convocação para a guerra do Vietnam em Nova Iorque.

Numa batida totalmente louca, mas absurdamente divertida, vem The Rocky Horror Picture Show. Uma história de horror mega-bizarra comandada por um inesquecível travesti chamado Dr Frank-N-Furter, vindo da galáxia Transsexual. O filme se transformou num cult mundial e em Porto Alegre (como no mundo todo!) nos anos 80 íamos para a sessão da meia-noite no Bristol para fazer as perguntas antes dos personagens e ouvir a resposta vinda da tela; cantar bem alto as músicas principais; gritar desesperadamente "Não! Não! Não!" quando Jane e o namorado dela resolviam pedir ajuda no castelo. Atirar pipoca (na Inglaterra eles atiravam arroz) durante o casamento, ou iluminar tudo com lanternas, além de abrir seu guarda-chuva (na Inglaterra cobriam a cabeça com jornal) eram coisas que matavam a gente de rir, gastando só uma entrada de cinema.

Depois Hollywood praticamente abandonou o estilo e passou pela fase tecnológica alavancada por Guerra nas Estrelas, Blade Runner três anos mais tarde e o que se chama popularmente de Néon Realismo. Quando os musicais voltaram, vieram com tudo. Chicago, com Catherine Zeta-Jones espetacular como Velda, e O Fantasma da Ópera, sobre o qual nem vou falar pra não ser repetitivo. Moulin Rouge e a montagem de letras de música popular contando uma história mágica de Satine, a prostituta deslumbrante no corpo de Nicole Kidman. Para mim, a versão de Roxanne (Sting) em ritmo de tango é uma obra prima. Recentemente Across the Universe com músicas dos Beatles, muito bem feito e envolvente, além de Mama Mia que não consigo gostar depois de ver o musical original, e, finalmente, Nine, motivo pelo qual comecei a escrever hoje.

Nem sei porque escrevi essa postagem. Durante muito tempo fui envolvido pelo cinema e agora tive vontade de conversar sobre isso. Acho que ando com saudade de bares, jantares, conversas com amigos. Nine me deixou melancólico, talvez seja o próprio roteiro, a sensação de que por mais que se tenha, tudo nunca é o suficiente até descobrirmos o que realmente importa. Profundo? Não, só falta do que fazer.
 

domingo, 4 de setembro de 2011

Comer, comer

A primeira vez que comi estrogonofe, não comi. Na época se escrevia strogonoff e eu devia ter uns 10 anos. Me deparei com ele pela primeira vez em Novo Hamburgo, na casa de um médico que corria rally com meu pai. Era a maior casa que eu já tinha visto, com intercomunicadores nas salas, desníveis e um quarto somente para brincar. Tive pesadelos por semanas com um Cristo que sangrava rubis e uma santa de madeira em tamanho natural. As crianças foram levadas para a cozinha, e lá nos serviram estrogonofe. Foi um impacto impressionante. Imediatamente pensei em vômito de cachorro, um assunto que eu tinha experiência de muitos cachorros. E tinha também cogumelos, que minha mãe sempre dizia que eram venenosos e não podiam ser tocados nem comidos. Lá estava eu, diante de um prato de vômito de cachorro com cogumelos venenosos.

Mas não foi aí que começou meu tormento com a comida, sempre tive problemas para comer. Aos sete anos aprendi na escola de onde vinha o ovo de galinha, e só voltei a comer ovos quando fui morar sozinho, por pura necessidade. Parei de comer macarrão com carne porque num dia que tinha essa comida lá em casa minha mãe matou um rato. Levei anos para comer lagarto (que no sul se chama “tatu”), até descobrir que era uma simples alusão ao formato. Nunca comi fígado, rins, moela ou mesmo coração de galinha em churrasco. Quando sushi não era moda, nem sequer conseguia pensar em comer peixe, que dirá cru. Camarão era nojento demais, porque estudei em biologia que tem merda na cabeça. Mexilhões, ostras, mariscos para mim são como secreção nasal, nojentos, gosmentos e escorregadios. Peças que minha imaginação fértil sempre me pregou à mesa.

Não como pato, salmão nem codorna. Nunca havia comido carneiro, até ir para Dubai e ser obrigado por legítima falta de opção. A primeira vez que fui para Paris levei uma lista de coisas nojentas que não podia ter no cardápio: foie gras, cheval, scargot. Comer não é divertido para mim, é uma perda de tempo, chato, antiecológico. Por mais que isso pareça estranho, gosto mesmo de comidas pré-processadas: hambúrgueres congelados da Sadia, batata frita e sanduíches em geral. Meu cardápio tem tão pouca salada que em 1998 quando li “Os sete hábitos das pessoas de sucesso” do Steven Covey, coloquei na minha missão pessoal no item número 8: "Devo comer mais salada".

Algumas vezes sinto inveja de quem come de tudo e tem muita fome o tempo todo. Deve ser divertido planejar ir a um restaurante e ficar com água na boca, ou ficar feliz porque o restaurante é de buffet livre. Mas, honestamente,por enquanto vou continuar com minha dieta infantil, ser magro não vai me fazer mal.

Comida não é comigo!