domingo, 4 de setembro de 2011

Comer, comer

A primeira vez que comi estrogonofe, não comi. Na época se escrevia strogonoff e eu devia ter uns 10 anos. Me deparei com ele pela primeira vez em Novo Hamburgo, na casa de um médico que corria rally com meu pai. Era a maior casa que eu já tinha visto, com intercomunicadores nas salas, desníveis e um quarto somente para brincar. Tive pesadelos por semanas com um Cristo que sangrava rubis e uma santa de madeira em tamanho natural. As crianças foram levadas para a cozinha, e lá nos serviram estrogonofe. Foi um impacto impressionante. Imediatamente pensei em vômito de cachorro, um assunto que eu tinha experiência de muitos cachorros. E tinha também cogumelos, que minha mãe sempre dizia que eram venenosos e não podiam ser tocados nem comidos. Lá estava eu, diante de um prato de vômito de cachorro com cogumelos venenosos.

Mas não foi aí que começou meu tormento com a comida, sempre tive problemas para comer. Aos sete anos aprendi na escola de onde vinha o ovo de galinha, e só voltei a comer ovos quando fui morar sozinho, por pura necessidade. Parei de comer macarrão com carne porque num dia que tinha essa comida lá em casa minha mãe matou um rato. Levei anos para comer lagarto (que no sul se chama “tatu”), até descobrir que era uma simples alusão ao formato. Nunca comi fígado, rins, moela ou mesmo coração de galinha em churrasco. Quando sushi não era moda, nem sequer conseguia pensar em comer peixe, que dirá cru. Camarão era nojento demais, porque estudei em biologia que tem merda na cabeça. Mexilhões, ostras, mariscos para mim são como secreção nasal, nojentos, gosmentos e escorregadios. Peças que minha imaginação fértil sempre me pregou à mesa.

Não como pato, salmão nem codorna. Nunca havia comido carneiro, até ir para Dubai e ser obrigado por legítima falta de opção. A primeira vez que fui para Paris levei uma lista de coisas nojentas que não podia ter no cardápio: foie gras, cheval, scargot. Comer não é divertido para mim, é uma perda de tempo, chato, antiecológico. Por mais que isso pareça estranho, gosto mesmo de comidas pré-processadas: hambúrgueres congelados da Sadia, batata frita e sanduíches em geral. Meu cardápio tem tão pouca salada que em 1998 quando li “Os sete hábitos das pessoas de sucesso” do Steven Covey, coloquei na minha missão pessoal no item número 8: "Devo comer mais salada".

Algumas vezes sinto inveja de quem come de tudo e tem muita fome o tempo todo. Deve ser divertido planejar ir a um restaurante e ficar com água na boca, ou ficar feliz porque o restaurante é de buffet livre. Mas, honestamente,por enquanto vou continuar com minha dieta infantil, ser magro não vai me fazer mal.

Comida não é comigo!

Nenhum comentário: