quarta-feira, 13 de junho de 2018

Aviso: Este texto é um conto de aproximadamente 10 páginas, mas vai por mim, vale a pena ler...


A GREVE DOS GARÇONS

Os eventos que você vai conhecer agora ocorreram em 2018.

Eram dezenove e vinte e seis quando Aílson entrou no bar. Seus amigos já estavam lá desde as dezoito, então ele estava atrasado mais ou menos três rodadas de chope. Mesmo sendo uma terça-feira, ele e os colegas de trabalho achavam que o dia havia sido muito intenso, e que mereciam uma bebida antes de voltar para casa.  Aílson levantou o braço e com o indicador e o polegar em forma de pinça, levemente afastados, fez sinal para o Pereira, o antigo garçom de nariz proeminente, referenciando um código conhecido entre garçons e clientes que significava dois dedos de colarinho!

Instantes depois, Pereira veio deslizando entre as mesas, equilibrando a bandeja carregada com seis copos de chope de colarinhos perfeitos. Fez um gingado com a cintura para desviar de uma bolsa dependurada na cadeira, com um giro rápido dos quadris posicionou-se paralelamente à mesa e ao lado esquerdo do cliente. Sacou da bandeja um copo com a mão direita e pousou-o com maestria sobre a bolacha na frente de Aílson. Com a mesma destreza retirou uma comanda do bolso, e como um antigo escriba egípcio, marcou um sinal sobre a comanda que indicava que aquele sujeito, a partir de agora devia onze reais ao bar. Da mesma maneira graciosa e acrobática que apareceu, girou sobre os calcanhares e deslizou para as próximas mesas, sempre com um sorriso no rosto.

Aílson se entreteve com a conversa dos amigos e tomou seu chope tranquilamente, acelerando um pouco o passo do meio para o final do copo para tentar alcançar a rapaziada. E quando terminou o último gole, imediatamente ao largar a tulipa sobre a mesa levantou o braço, fazendo um breve movimento com a cabeça em busca do Pereira. Mas ele não estava lá. Do outro lado do bar uma loira também procurava um garçom. E por alguns instantes Aílson continuou procurando qualquer outro garçom, fosse o Amaral, o Carlinhos ou mesmo o Miguel, este muito lento e sem aptidões para a profissão. Mas não havia nenhum deles por ali. Uma suposição percorreu sua mente, dessas que passam pela cabeça da gente em bares, imaginou que talvez eles estivessem lá na cozinha em um briefing preparando-se para o movimento da noite, e lembrando-se ele mesmo do briefing da tarde de hoje na sua seção do trabalho teve ainda mais vontade de beber.

Impaciente, Aílson levantou-se. Girou ao redor do próprio corpo, os amigos perguntaram o que era, imaginando que a gostosa de vermelho tinha passado outra vez para ir ao banheiro. Mas não era isso. Então ele voltou a sentar e reclamou que não havia porcaria de garçom nenhum no bar. Ninguém deu muita importância para a declaração, até que o Costa resolveu tomar mais um.

Foi a vez de o Costa levantar o braço e girar a cabeça pelo salão percebendo o que Aílson percebera há alguns instantes atrás, que não havia porcaria de garçom nenhum. Ele queixou-se. Alberto também reclamou. Aílson se sentiu fortalecido e decidiu representar o grupo indo até o balcão para reclamar. No caminho entre as mesas percebeu muitas mãos levantadas, alguns acenos para ele, que vestido com uma camisa branca e calças pretas ficara parecido com o Pereira.

Ao chegar ao balcão do bar perguntou para o barman onde estavam os garçons. O barman estava ocupado lavando copos e conversando no whatsapp e respondeu que era sempre assim, quando a gente mais precisava deles, eles desapareciam. Aílson não se incomodou. Pediu quatro chopes e entregou a comanda ao barman que o serviu e marcou ele mesmo os quatro pauzinhos no papel. Somados ao primeiro, significava que agora o cliente devia cinquenta e cinco reais ao bar.

Aílson retornou à mesa e distribuiu os chopes. Já que não havia garçom, revezaram-se algumas vezes até o balcão, e ao final da noite pagaram as comandas diretamente no caixa, sem qualquer cerimônia. Ele voltou para casa de Uber, ainda pensativo no que havia acontecido no bar naquela noite e o que havia acontecido com os garçons. Como qualquer bêbado, teve muitas ideias incríveis e fez uma ótima teoria da conspiração, pena estar sozinho, pois estava na medida certa da bebedeira para fazer uma daquelas combinações de viagem que jamais vão acontecer, como conhecer o Himalaia, ir à próxima Copa do Mundo, ou mergulhar numa ilha incrível que alguém postou no Pinterest.

No dia seguinte o mundo seguiu seu curso. Já eram onze e quinze da manhã e ninguém na repartição tinha tomado um café. Qualquer um que trabalha no governo ou num banco sabe que o gerente geral, o coordenador, os assessores e os analistas podem morrer, mas se o tio do café não aparece, o caos está formado. O Secretário de Administração mandou chamar a coordenadora geral de serviços para perguntar onde diabos estavam os garçons que ele ainda não havia tomado nenhum café naquele dia. Ela também não sabia. Mandou um subordinado até a copa, onde as copeiras, vigilantes e o pessoal da limpeza reuniam-se ao redor de uma tela de televisão. O subordinado perguntou o que estava acontecendo, e os terceirizados informaram que não se falava em outra coisa na TV que não fosse a greve dos garçons. Um frio percorreu a espinha do subordinado. Ele sabia que o mensageiro sempre morria quando levava más notícias.

E foi assim que começou. Todos foram apanhados de surpresa com a greve dos garçons, inclusive o governo. Naquele mesmo dia a imprensa começou a falar na greve e em suas consequências, no desabastecimento, no aumento da gorjeta, nos garçons piratas, na falta de chope e na queda da produção de aves para o frango a passarinho. Na falta de informações, ouviu especialistas que preenchiam as lacunas falando qualquer bobagem, julgar o que ouve nos telejornais não era exatamente o forte da população.

No terceiro dia da greve os supermercados começaram a perceber um movimento atípico. Uma grande afluência de consumidores da classe média começou uma migração às compras. Carrinhos lotados e grandes filas nos caixas.  Os primeiros produtos que despareceram das prateleiras foram água engarrafada sem gás, papel higiênico, sabão para máquina lava-louça e salmão congelado. A mídia adorou a novidade. Preencheu suas colunas com fotos de prateleiras vazias sob títulos catastróficos como “Greve dos garçons pode vir a causar desabastecimento”, ou “Queda no PIB pode se dever à greve dos garçons” e “Fritas podem estar com os dias contados”. Tudo no tempo verbal que na língua portuguesa chamamos de Futuro do Presente Composto, ou de uma maneira mais coloquial, palpitando sobre o que pode acontecer sem ideia nenhuma do que realmente pode acontecer. Mas o importante era gerar notícia. Isso aumentou o medo da população com a possível falta de alimentos e incrementou a venda nos supermercados. Em menos de uma semana de greve o preço de uma bandeja de inox já havia subido setecentos por cento. No Mercado Livre, uma gravata borboleta antes anunciada por três e quarenta e nove agora já valia duzentos e cinquenta reais. Os analistas nos canais de notícias e na internet continuaram incentivando o caos, mas ninguém parou para analisar qual seria a provável relação entre garçons e falta de alimentos nos supermercados.

Alguns bares e restaurantes permaneceram atendendo, mesmo diante da enorme crise que tomava conta do país. No início, as filas para almoçar começavam por volta das seis da manhã. As pessoas deixaram de ir trabalhar para esperar a hora do almoço nas filas. Algumas pediram férias para poder ficar na fila e cumprir seu  horário. Mães levavam crianças de colo e exigiam o direito preferencial, e desvendou-se um curioso mercado de uso de idosos como marcadores de local na fila. Ainda que muitos insistissem, alguns dos estabelecimentos fixavam cartazes dizendo que somente serviam marmitas para levar se a marmita tivesse o selo do Inmetro.

Isso ocasionou um enorme problema para o Inmetro, pois não havia uma norma para marmitas. Uma emenda parlamentar foi votada às pressas no Congresso e instituída uma comissão para executar a norma em tempo recorde. Cada partido indicou dois parlamentares, e o orçamento da União foi alterado para comportar este novo custo. À noite, um dos idealizadores da comissão apareceu num jornal nacional de grande abrangência territorial exibindo um sorriso triunfante no rosto afirmando que a ideia era sua. A norma ficou pronta em menos de setenta e duas horas, e custou cerca de nove milhões aos cofres públicos, mas isso não era relevante, segundo informava o governo em seu bom e velho gerúndio, o importante era que a questão das marmitas estaria sendo resolvida.

Ninguém teve paciência de ler as duzentas e trinta e três páginas da Norma das Marmitas, na verdade, ninguém conseguiu passar das vinte e cinco primeiras páginas onde somente eram “definidos os conceitos utilizados nesta Norma”.

Não estando a questão das marmitas bem resolvida, a população apelou para a criatividade, e criatividade neste país significava pirataria. Em alguns dias as marmitas alternativas já circulavam ostentando um selo do Inmetro em holograma, mas que na verdade eram fabricadas no acesso três do Morro do Alemão no Rio de Janeiro. A Polícia Federal iniciou uma investigação para apurar os envolvidos, mas nunca conseguiu vencer uma hipótese de que teria sido um ex-presidente comunista quem havia desenhado o selo para as marmitas. A tese foi criada por uma revista de grande circulação nacional sem prova nenhuma, e suportada por procuradores e um juiz federal do sul do Brasil, mas depois de algum tempo, quando foi provado e comprovado que nada disso era verdade, ninguém mais lembrava como o assunto começou e a revista se calou.

Quando a crise parecia não ter fim, os comissários e comissárias de bordo, avaliando a similaridade entre o seu trabalho e o de garçons, optaram por declarar apoio irrestrito à greve e decretar também eles sua greve por tempo indeterminado. Assim, ao final da primeira quinzena a sociedade já enfrentava um de seus maiores desafios desde a superação da goleada de sete a um sofrida da Alemanha.

Com os aeroportos fechados o governo entrou em colapso. Como era junho, os parlamentares não poderiam ir até suas bases participar das festas juninas e nem seus netos podiam ir para a Disney. Sessões de emergência foram convocadas, e uma dispensa de licitação foi aprovada por quase unanimidade do parlamento autorizando a contratação de jatinhos particulares diante da iminente crise institucional do país justamente em pleno mês de junho e véspera da Copa do Mundo. Falta de comida nos supermercados, ninguém tomando caipirinha numa mesa de bar, zero pastéis de carne e queijo, nenhum kibe, tudo isso era suportável, mas deixar de participar das festas juninas era muito sacrifício para os nobres representantes do povo.

Na terceira semana diminuiu a oferta de estabelecimentos que podiam atender sem garçons. Mesmo as lanchonetes tipo pé-sujo, que nunca tiveram garçons, agora aumentavam o preço do ovo em conserva em trezentos por cento por culpa da crise. Naqueles locais que ainda atendiam, formavam-se filas quilométricas que duravam dias e dias. Mas com o aumento da tensão e o insuflamento do pânico pela mídia especializada (sim, agora havia uma mídia especializada em greves de garçons) os ânimos foram se acirrando, e a Força Nacional teve de ser convocada para conter a onda de violência que se alastrava nos bufês de quilo. Pessoas agredidas com vinagrete nos olhos, colher de pau na orelha e queimaduras de costeletas ao molho barbecue chegavam constantemente aos hospitais da rede pública. Muitos estabelecimentos fixaram cartazes onde se lia “O estabelecimento reserva-se o direito de cobrar a comida desperdiçada em brigas pessoais”.

Para ajudar a conter a onda de violência uma nova norma foi baixada pela vigilância sanitária proibindo nos bufês cenouras inteiras, comida quente e o uso de facas em bares e restaurantes. A população, em especial a classe média, correu para os supermercados e atacadões para comprar as últimas facas antes da proibição, e mesmo que a proibição fosse somente em bares e restaurantes, uma colher que antes custava dois reais passou a ser vendida no mercado informal por até duzentos reais.

Nas ruas a violência aumentava. Muitas lojas começaram a ser saqueadas e o exército foi convocado a patrulhar as ruas centrais de algumas capitais. Os analistas de internet e os especialistas de coisa nenhuma das redes sociais se calaram diante do fato, porque ninguém, nem mesmo o escritor mais criativo, era capaz de conseguir inventar qualquer ligação entre um chope que demora para ser servido e o roubo de uma smartv de 65 polegadas na véspera da Copa do Mundo.

Quem não se deu por vencida foi a classe média. Afinal, ela havia se acostumado com seus privilégios e não queria abrir mão disso de jeito nenhum. Não seria meia dúzia de garçons que só tinham ensino médio que iriam acabar com todas as conquistas que ela tivera com o próprio esforço, sem ajuda de ninguém e sem depender de esmola nenhuma do governo. Garçons piratas começaram a inflacionar  o mercado de festinhas de aniversário de crianças e jantares do Rotary. Um garçom mediano podia ser contratado a mil reais por quatro horas. Enquanto um garçom com luvas brancas e vestimenta completa valia cerca de três mil,  o mesmo garçom se tivesse cabelo grisalho podia cobrar até cinco mil. Em pouco tempo sites especializados em eventos publicavam dicas de como contratar o melhor garçom no mercado alternativo, ou como saber se sua festa bombou considerando o desempenho dos garçons. No Facebook, socialites se exibiam em selfies abraçadas em garçons, as vezes mais de um, quanto mais garçons na foto, maior a popularidade. Na análise política sempre qualificada da classe média ascendente, todo o problema estava nesse mimimi de direitos trabalhistas, nessa bolsa esmola que fazia as pessoas pobres deixarem de trabalhar e naquele ex-presidente comunista que, graças a Deus, e em nome da família, estava preso. Melhor mesmo só se os militares interviessem para acabar de uma vez por todas com esta pouca vergonha. Bom mesmo foi sessenta e oito.

Na mídia a discussão se ampliava. Agora outros especialistas em coisa nenhuma começavam a debater a formação do preço da gorjeta. As correntes principais consideravam se o governo devia intervir ou não no preço da gorjeta, e se valia a pena privatizar os bares e restaurantes. E quando alguém parou para pensar e argumentou que bares e restaurantes já eram privatizados, levou uma grande vaia cibernética seguida de uma série de comentários que sugeriam sua ida para Cuba.

O debate ressoou nas redes sociais, e em algum momento houve uma forte polarização entre quem era a favor da gorjeta e quem era contra. Os grupos tornaram-se antagônicos, e grandes bolhas de ideias se formaram. Os diferentes não conviviam mais uns com os outros tornando impossível o diálogo, e a sensação de qualquer um dos lados era de que o outro lado não existia ou representava uma minoria mentalmente incapaz. As fazendas de postagens eletrônicas da Rússia e Coreia viram o Brasil como um grande cliente e os trolls se multiplicaram. Pequenos movimentos reacionários aproveitaram o cenário de confusão e ignorância coletiva para se autopromoverem. O Movimento Garçons Livres – MGL, surgiu do nada trazendo um menino mal desmamado como representante oficial do povo, autodesignado por ele mesmo (sic). Organizaram-se passeatas contra o governo e um balão gigante de borracha imitando um chope foi inflado em plena Avenida Paulista em São Paulo.

E então o governo decidiu que bastava! Preparou uma grande negociação e fez uma oferta irresistível aos garçons. Os garçons aceitaram a proposta e a mídia comemorou. Fim da greve! Só que não. No seu afã de resolver o problema o governo conversou com pessoas que não representavam os garçons em greve. Uma nova crise institucional se instalou. As filas em restaurantes eram cada vez maiores. Alguns prefeitos decretaram estado de calamidade pública, um instrumento constitucional que permite não pagar o salário a professores, médicos e ao pessoal da saúde, além de considerar justo o calote das prefeituras nas dívidas federais.

Com o fracasso das negociações do governo os pré-candidatos à presidência começaram a se manifestar em apoio à greve. Um senador mimado filho de uma tradicional família brasileira também pensou em se manifestar, mas suas ideias viraram pó. Surgiram grupos de whatsapp em apoio e em repúdio à greve, e num domingo de manhã, entre famílias, ciclistas e crianças que passeavam em Ipanema, uma moça apareceu totalmente nua, com o corpo pintado com as cores da bandeira do país, sambando em sandálias de salto alto e pedindo a volta da  moralidade.

O governo voltou à carga. Decidiu conversar com os manifestantes outra vez e agora resolveu ir até o reduto da manifestação. Mas na hora de entrar para a reunião só havia dez lugares e haviam muitos líderes do movimento, então o governo decidiu que só entrariam sete. Na reunião, além de todo o estafe do presidente estavam também as pessoas selecionadas pelos assessores: cinco sindicalistas representantes dos grevistas, um vendedor de algodão doce que tinha vendido quase nada, e dona Célia, que estava por ali de passagem e segurava um cartaz pedindo a intervenção militar conforme lhe pediu um rapaz muito simpático que queria uma foto de impacto para o jornal.

Ao final da reunião o governo divulgou os três pontos da discussão: aumento de 50% no valor da gorjeta (que ele prometia que em hipótese alguma seria repassado aos consumidores) e aumento de 10% no preço do algodão doce. O terceiro ponto da discussão era proibir o vizinho da dona Célia de tocar funk ostentação até altas horas da noite, assunto que chamava muito a atenção dela ultimamente.

Como era de se esperar, a negociação não triunfou, e passados cinquenta e cinco dias de greve o presidente finalmente ficou sabendo que havia uma paralisação. Foi no mesmo dia em que descobriu que tinha o maior índice de rejeição da história da política. Os assessores sugeriram que o exército fosse chamado para acabar com a greve. Aborrecido, o presidente determinou que a greve fosse encerrada pelo exército imediatamente, mas levou mais dois dias para ele entender que a greve não era do exército, mas que o exército seria chamado para acabar com a greve. O assunto foi parar no supremo tribunal federal, que pelo currículo de seus integrantes estava mais para diminuto tribunal federal. Mas os sujeitos vestidos de Batman não conseguiram chegar a um consenso. Uma hora estavam de um lado, outra hora estavam do outro. E o supremo foi apelidado de musgo, porque sempre ficava em cima do muro.

Passados três meses do início da greve dos garçons o país estava metido em uma guerra civil sem precedentes. Mas um dia, numa declaração emocionada no youtube, o Pereira, aquele garçom de origem humilde, pediu o retorno de todos os colegas ao trabalho. Ele estava com saudade de deslizar graciosamente entre as mesas com sua bandeja de chopes, de ser chamado de parceiro, amigo, companheiro, sangue bom, camarada, capitão. Queria estar de novo entre as risadas altas, as discussões de futebol, os bêbados chatos e as gostosas de vermelho. Não aguentava mais ficar em casa olhando o Facebook e assistindo um jornal nacional numa rede de televisão de grande abrangência territorial. A internet foi solidária com o Pereira, e milhares de vídeos de apoio chegavam a cada minuto. A expressão "Somos todos Pereira" viralizou na internet, e uma rede de rádio fez um programa especial de reportagem sobre esse sujeito originado do povo. Carros apareceram na rua com pintura nos vidros dizendo "Pereira Vive". Nos camelôs de todo o país camisas com a foto de Pereira eram vendidas por vinte reais. Pereira foi cotado como possível candidato à presidência para unir o país e foi capa de uma revista. Todos estavam emocionados. A gorjeta agora era de 50% e obviamente quem pagava a conta era o povo, mas o povo estava feliz outra vez! E assim, com a massa dominada, tal qual começou sem motivo, a greve, sem motivo, terminou.

Os eventos narrados aqui ocorreram em 2018.