terça-feira, 28 de junho de 2011

Meu amigo, Roberto Carlos

Uma professora que coordenava o curso de arquitetura quando eu dava aulas no Rio Grande do Sul era Monarquista. Entre os “excelentes” argumentos que ela tinha para uma família ter mais privilégios que todas as outras pessoas e ser sustentada pelo povo sem trabalhar, estava a idéia de que os brasileiros adoram reis. Temos o rei do futebol, o rei da soja, a rainha do volei, a rainha dos baixinhos, o rei da música. Ou seja, brasileiros são monarquistas.

Parece um argumento engraçado, mas é lamentável. Lamentável também é começar uma postagem sobre monarquia para falar do Rei, meu amigo, Roberto Carlos (leia com sotaque carioca e imagine a voz do Tremendão...se você é da geração Y, por enquanto basta saber que o Tremendão é o Erasmo Carlos. Não, ele não está morto).

Sexta fui a um show no Circo Voador no Rio, “Teresa Cristina e os Outros cantam Roberto Carlos”. Primeiro pensei que ela cantaria em ritmo de samba, sua praia, mas estava enganado. Com arranjos novos ela tocou somente músicas do Rei, e pela empolgação da galera posso dizer que me convenci (já estava convencido, mas nunca tinha parado para pensar nisso) que o cara é mesmo nosso Rei.

Apesar da obra extensa e com alguns momentos lamentáveis, Roberto Carlos cobriu praticamente toda a população brasileira: cristãos, gordinhas, caminhoneiros, taxistas, amantes, além da ampla gama de sentimentos cotidianos, ou não tão cotidianos assim. Fiquei lá pensando em uma ou outra música que eu nunca tinha ouvido, mas que muitas pessoas cantavam. O Rei falou com simplicidade e uma voz melodiosa sobre coisas do coração, as mais difíceis de entender, mais fáceis de sentir e terríveis de perder. Assim como os Beatles (me perdoem, Mirella e Gabriel) RC tem uma obra tão produtiva que possui pérolas pouco exploradas comercialmente de uma imensa variedade musical.

Também prestei atenção em algumas frases às quais nunca dei atenção, arduamente dividindo meu interesse entre as pernas magras da Teresa Cristina de minisaia rodada, e as letras que ela cantava tão bem. Em O Portão, sempre fiquei tão irritado com o "cachorro que sorriu latindo" que nunca percebi essa estrofe cheia de entrelinhas:

     Fui abrindo a porta devagar
     Mas deixei a luz entrar primeiro
     Todo meu passado iluminei
     E entrei.

E não pense que são poucos acordes, são acordes suficientes em cada música para ter uma musicalidade que, se não é Jobim, também não é Chitão. Enfim, o Rei merece todo meu respeito e o de milhões de brasileiros que correm atrás de ingressos para um show dele onde quer que seja. Achei que tinha que dizer isso aqui, já que disse tantas outras coisas, não ia mudar nada expor detalhes tão pequenos de nós dois.

O Rei é o cara!



Desculpem a qualidade do video, mas ilustra sem foco as pernas da Teresa Cristina e o ambiente energizado do show. Prometo que vou comprar um celular que faça bons filmes.

domingo, 26 de junho de 2011

Você não pode

Você pode desejar muito que faça sol amanhã, mas pode amanhecer chovendo. Pode precisar sair de casa e chegar rápido ao trabalho para fazer uma apresentação para seu chefe, e o trânsito pode estar ruim. Culpa da chuva, por isso você queria sol. Um caminhão tombou na pista escorregadia, e sua cidade está com 150 quilômetros de congestionamento. Pode comer um sanduíche no café da manhã na cantina do escritório, depois de chegar atrasado, e pingar sua camisa branca. Você vestiu branco porque lhe daria um ar mais jovial e você nem imaginava que naquele sanduíche tinha molho. Você pode querer, e não conseguir nada do que você quer. Mas não há nada a fazer pelas coisas que você não tem, você só pode decidir o que fazer em relação aos sentimentos que tem sobre as coisas que não saem como planejado, e aprender.

O Lama disse que devemos aprender uma coisa nova a cada dia, e conhecer pelo menos um novo lugar por ano. É verdade que ele também disse que a gente devia dançar como se ninguém estivesse olhando, e isso me fez parecer maluco na sexta. Mas ele está certo, acho que por isso ele é o Oceano da Sabedoria (Dalai Lama).

Alguém me falou que as coisas que acontecem não podem ser mudadas, estão fora de nosso controle. Elas são resultado de outras interações das quais não há critérios, o Fernando disse que “viver não é preciso”, e não é mesmo. Não há precisão nenhuma nas atitudes da vida. Você pode ir num show e não conhecer ninguém, e dois anos depois pode ir em outro e conhecer alguém que também estava no primeiro, ser tudo perfeito e você nem suspeitar que perdeu dois anos. Nada garante nenhuma das duas opções. O que você pode fazer, e isso é o mais difícil, é lidar com seus sentimentos. Viver o que estiver recebendo.

Como a vida é aleatória e cheia de variáveis incontroláveis, acabei descobrindo por intermédio de outros que o máximo que posso fazer é reduzir os problemas para um parâmetro um pouco mais racional. Posso nutrir o sentimento que eu quiser sobre o que me acontece (e o que acontece com os outros), e escolher entre sofrer ou ser feliz. O que me lembra da Liz Gilbert do Comer Rezar Amar, você pode escolher seus pensamentos todo dia da mesma forma que escolhe suas roupas. Por que vestir pensamentos feios e que não combinam com você? Pensamentos acabam se tornando atitudes, pensamentos positivos, atitudes positivas.

No final das contas, acho que o difícil é entender que somos limitados a coadjuvantes de uma grande trama da humanidade, onde cada peça faz do seu jeito e a seu modo, vamos tecendo nossas vidas de maneira coletiva. Da próxima vez que chover, você ficar preso no trânsito e sujar sua camisa minutos antes de uma apresentação importante, lembre disso, não havia nada no mundo que você pudesse fazer para acontecer diferente. Nem sempre a culpa pelo erro é nossa, por outro lado, somos nós os únicos responsáveis por nossa felicidade. Basta pensar. E sonhar. E viver.

Filosofia é aqui!

domingo, 19 de junho de 2011

O travesseiro de hotel

Deitei a cabeça no travesseiro do hotel.

Dois minutos e um pensamento relâmpago: Quantas cabeças já deitaram neste travesseiro? Primeiro pareceu nojento, depois oportunidade. Oportunidade para eu pensar em muitas coisas. Fiquei ali, deitado e refletindo quantas cabeças passaram por aquele travesseiro de hotel. Cabeças cheia de ideias, cabeças vazias, cabeças com problemas. Quantas soluções não foram encontradas, e quantos suspiros sufocados nas tantas fronhas que o vestiram. Quanto amor aquele travesseiro de hotel de praia tinha ouvido, e quantas juras que iriam acabar no correr do ano seguinte. Mas deve também ter ouvido juras que duraram para sempre, arfados de amor, elogios verdadeiros, lágrimas de saudade e uma voz infantil ouvida distante pelo telefone sobre a cabeceira.

Esse travesseiro viu muitas cabeças. Cabeças de vento, avoadas, divertidas. Cabeças sisudas e recatadas, cabeças sem cabelo, lindas, redondas, pesadas. Sei que passaram por ali cabeças que já não existem mais, é um hotel antigo, um travesseiro surrado. Mas sei também que passaram cabeças jovens, promissoras, que fizeram descobertas assim que deixaram o hotel. Ah, se esse travesseiro falasse, quanta coisa iria me dizer.

Ia me contar que dormiu ali um senhor muito inteligente, que descobriu uma fórmula para algum medicamento. E uma mulher linda, que encontrou seu amor na beira da praia do outro lado da rua. Ia contar que uma senhora escondeu suas jóias debaixo dele, e que um menino sem jóias dormiu com ele abraçado.Talvez esse travesseiro me ensinasse muito, com os tantos pensamentos que ele ouviu, preso naquele quarto sem saber que existe um mundo lá fora, ouviu línguas estranhas, sentiu cabelos de todas as texturas, descobriu o mundo de dentro de seu pequeno mundo naquele quarto de hotel. Quantos fossem os mundos que existiam distantes, naquele travesseiro, todos eles se encontraram.

Sorte de mim, que antes de poder conversar com o travesseiro sobre as maravilhas que ele podia dizer, adormeci. No outro dia fui embora, mas o travesseiro ficou lá, esperando o próximo sonho, a próxima lágrima, uma cabeça mais pesada, uma imaginação mais tranquila. 

Não sei se sonhei este post, mas tenho a sensação de que quem me ditou, foi ele.