domingo, 19 de junho de 2011

O travesseiro de hotel

Deitei a cabeça no travesseiro do hotel.

Dois minutos e um pensamento relâmpago: Quantas cabeças já deitaram neste travesseiro? Primeiro pareceu nojento, depois oportunidade. Oportunidade para eu pensar em muitas coisas. Fiquei ali, deitado e refletindo quantas cabeças passaram por aquele travesseiro de hotel. Cabeças cheia de ideias, cabeças vazias, cabeças com problemas. Quantas soluções não foram encontradas, e quantos suspiros sufocados nas tantas fronhas que o vestiram. Quanto amor aquele travesseiro de hotel de praia tinha ouvido, e quantas juras que iriam acabar no correr do ano seguinte. Mas deve também ter ouvido juras que duraram para sempre, arfados de amor, elogios verdadeiros, lágrimas de saudade e uma voz infantil ouvida distante pelo telefone sobre a cabeceira.

Esse travesseiro viu muitas cabeças. Cabeças de vento, avoadas, divertidas. Cabeças sisudas e recatadas, cabeças sem cabelo, lindas, redondas, pesadas. Sei que passaram por ali cabeças que já não existem mais, é um hotel antigo, um travesseiro surrado. Mas sei também que passaram cabeças jovens, promissoras, que fizeram descobertas assim que deixaram o hotel. Ah, se esse travesseiro falasse, quanta coisa iria me dizer.

Ia me contar que dormiu ali um senhor muito inteligente, que descobriu uma fórmula para algum medicamento. E uma mulher linda, que encontrou seu amor na beira da praia do outro lado da rua. Ia contar que uma senhora escondeu suas jóias debaixo dele, e que um menino sem jóias dormiu com ele abraçado.Talvez esse travesseiro me ensinasse muito, com os tantos pensamentos que ele ouviu, preso naquele quarto sem saber que existe um mundo lá fora, ouviu línguas estranhas, sentiu cabelos de todas as texturas, descobriu o mundo de dentro de seu pequeno mundo naquele quarto de hotel. Quantos fossem os mundos que existiam distantes, naquele travesseiro, todos eles se encontraram.

Sorte de mim, que antes de poder conversar com o travesseiro sobre as maravilhas que ele podia dizer, adormeci. No outro dia fui embora, mas o travesseiro ficou lá, esperando o próximo sonho, a próxima lágrima, uma cabeça mais pesada, uma imaginação mais tranquila. 

Não sei se sonhei este post, mas tenho a sensação de que quem me ditou, foi ele.

3 comentários:

Ana Silvia Veiga disse...

Bom, muito bom...

Marina disse...

Todas as minhas expectativas no curso foram superadas. Mas o inesperado encontro com alguém como você foi, de longe, a melhor das surpresas. Marcelo, Marcelo, seus textos são incríveis! um beijo da sua mais nova leitora. E, mais uma vez, felicidades pelo seu dia. Que seu novo ano seja leve e repleto de descobertas!

Clara disse...

nesse momento eu levanto a plaquinha: eu já sabia!!! heheheh :*** (não esquece de inclinar a cabeça pra entender)