sexta-feira, 25 de maio de 2012

Frustação e o muro da realidade

“Os acessos de fúria são causados por uma convicção quase cômica de que determinada frustração não consta no contrato da vida. Gritamos quando não conseguimos algo que desejávamos porque em nosso mundo perfeito e particular algo indesejado por nós simplesmente não pode ocorrer."











A frustração é um choque entre nossos desejos e a realidade imutável. É como um muro rígido que aparece em nosso caminho e que julgamos, sob a ótica do momento, intransponível. Essa reação cômica (se analisada friamente) começa na infância, quando percebemos que as fontes de nossa satisfação estão além do nosso controle, e que o mundo não se ajusta aos nossos desejos de forma confiável. São inúmeros momentos na infância em que somos confrontados com nossa impotência diante dos fatos, e como estamos ainda nos adaptando ao modo de viver de todo o resto da humanidade, fica difícil entender onde está a lógica, ou onde foi que o mundo nos traiu.

De acordo com o filósofo Sêneca, a sabedoria plena é atingida quando “aprendemos a não agravar a inflexibilidade do mundo com nossas reações, nossos ataques de raiva, autopiedade, ansiedade, amargura, hipocrisia e paranóia”. Não parece fácil. Nossos instintos foram desenhados para agredir ao ser agredido, e uma ação contrária aos nossos desejos desencadeia um torrente de frustração, transformada nos ataques de raiva, autopiedade, ansiedade, amargura, hipocrisia e paranóia de Sêneca.

A função do autoconhecimento é nos preparar para que nossos desejos batam com a maior suavidade possível contra o muro inflexível da realidade, ou que ao chocarem-se contra este muro, saibam contorná-lo até o resultado esperado, sem traumas. Isso requer treino, mas acima de tudo vontade. A mudança ocorre primeiro e unicamente em nós, depois o mundo real vai lentamente e cada vez com maior freqüência, se adaptar (ou ser adaptado) aos nossos desígnios.

Quando não conseguimos encontrar alguma coisa, batemos portas, destruímos plantas, jogamos objetos na parede e esbravejamos. Mas o muro da realidade continua ali. Com um pouco de calma e algumas vezes uma boa dose de paciência e autoeducação constante, somos capazes de encontrar nossas chaves, desamarrar um nó, afrouxar um parafuso, abrir uma porta, estacionar um carro, conquistar um coração.