Lina Bo Bardi nasceu em Roma, em 1914. Formada em arquitetura pela Universidade de Roma, assumiu sua personalidade ativista desde cedo, filiando-se ao Partido Comunista. Quando a Itália se uniu à Alemanha na Segunda Guerra Mundial, Lina se juntou à resistência antifascista, lutando para derrubar o nazismo e o regime de Mussolini.
Após a guerra, quando seu escritório havia sido bombardeado e destruído, sem esperanças na reconstrução e sem fé num povo que se associou e foi condescendente com os horrores do nazismo, viajou para o Brasil a trabalho e encontrou novas oportunidades. Lina se apaixonou pelo país quase que automaticamente e encontrou aqui uma nova razão para sua energia transformadora. Apaixonada pela liberdade, descobriu a cultura brasileira justamente quando despontavam ideais e ícones culturais que se espalhariam em breve pelo planeta, morou e trabalhou na Bahia, viajando por todo o país, encontrou o Brasil, cada vez sentindo-se mais parte de uma nação que prometia um futuro extraordinário.
Aqui, iniciou uma coleção de arte popular e coletou milhares
de informações sobre o patrimônio histórico brasileiro. Seu trabalho como
arquiteta mesclou as ideias da arquitetura do Movimento Moderno, cujo expoente brasileiro era Oscar Niemeyer, com a cultura nascida nas populações mais pobres, nos
terreiros, na música e na natureza. Sua obra de arquitetura remete a um espaço
construído pelas pessoas, uma obra inacabada, onde os brasileiros e brasileiras, com a cultura
brasileira, haveriam de preencher os vazios a seu modo.
Em 1958, Lina Bo Bardi projetou o edifício do Museu de Arte
Moderna de São Paulo, com a convicção de que o espaço sob o MASP seria ponto de
encontro, troca e construção de um país de oportunidades. Na época, arriscou
projetar o maior vão livre do mundo, com 74 metros de comprimento. Em
arquitetura, vão livre é um espaço coberto sem pilares. Para ter uma ideia, o
vão livre do MASP cobre a distância equivalente entre uma goleira e a linha da grande
área do outro lado de um campo de futebol, são praticamente três quartos do gramado...
sem pilares. Assim, o vão livre do MASP, voltado para a avenida Paulista era, então,
o maior vão livre do mundo e colocou o Brasil no topo da tecnologia mundial em
engenharia de concreto.
Lina Bo Bardi era comunista, ex-guerrilheira revolucionária
contra o fascismo, defensora da cultura e do patrimônio histórico brasileiro e... imigrante
italiana.
Em 07 de setembro de 2025, dia da comemoração dos 203 anos
de independência do Brasil, um bando de manifestantes, vestidos com as cores da
camisa da seleção brasileira, abriram bem em frente ao edifício do MASP, em São
Paulo, uma enorme bandeira dos Estados Unidos. Os manifestantes, que se intitulavam patriotas, queriam demonstrar
seu apoio ao governo Trump, que persegue e deporta imigrantes, que retirou os
EUA do acordo de Paris pelo clima, que baniu a obrigatoriedade de vacinas em
crianças, que alterou aleatoriamente o nome do Golfo do México para Golfo da América, que
sugeriu anexar o Canadá como 51º estado americano, que ameaçou invadir a
Groenlândia, que proibiu pessoas trans de praticarem esportes fora de seu sexo
de nascimento, que tem mensagens pedófilas trocadas com Epstein. Mais que isso, autointitulados patriotas, manifestavam apoio a uma pessoa que infligiu uma série de medidas contra o
governo brasileiro, que se refletem diretamente em bilhões de reais de
prejuízo ao país, milhões de empregos perdidos e milhões de famílias brasileiras sem sustento. Esses
patriotas, pediam anistia para pessoas que tramaram um golpe de estado depois de serem derrotados nas urnas pelo voto popular, tramaram assassinar não só o
presidente eleito do Brasil, mas o vice-presidente eleito e os magistrados da
Suprema Corte Federal. Ironicamente, pedem o retorno da intervenção militar, um
regime de governo que cassou o direito a manifestações, torturou, matou e
despareceu com centenas de pessoas, na sua maioria jovens brasileiros que lutavam
pelos direitos previstos na Constituição.
Olhando tudo isso com algum descrédito, fico pensando em
todas as possibilidades reais que a ignorância representa, e me pergunto quem seria mais
patriota, se a comunista Lina Bo Bardi, ou a escória de verde e amarelo
manchando a história do país enquanto ofende a memória da imigrante italiana justamente em frente de sua obra prima.
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