quinta-feira, 4 de junho de 2009

Mazinho


Desde que me mudei para Brasília, sempre cortei o cabelo com o Mazinho. Agora em BH, fica difícil pagar a passagem só para cortar o que me resta de cabelos na cabeça. Verdade seja dita, o Mazinho ajudou o presidente Lula desde o primeiro momento de seu primeiro mandato, não aumentou os R$ 20 do corte de cabelo sequer uma vez nesses poucos anos. Mas essa semana fui obrigado a cortar o cabelo em outro barbeiro, ao lado do meu trabalho, e trair o Mazinho. Já tinha traído uma vez, é verdade, mas estava em Nova Iorque, e não tinha como passar seis meses escabelado e arranhando o inglês sem parecer um terrorista e arriscar ser preso pelo FBI, por isso não contei como traição. Mas agora foi real.
No Mazinho mensalmente colecionei algumas das pérolas que divertem uma mesa de bar por - ao menos - uns quinze minutos garantidos. Mais do que um salão de barbeiro, aquelas duas cadeiras são um portal para um mundo surreal, mitológico, onde as lendas urbanas povoam as conversas entre cabelos cortados e revistas de mulher nua. Nesse universo particular do salão o que importa não é a realidade, mas o que a realidade parece ser. O que é verdade para cada um, isso é o que importa, acho que foi um filósofo quem disse isso...ou será que foi a Madonna? Neste ambiente com revistas de carros e mulheres nuas aperfeiçoadas pelo Photoshop, trajados com um babador branco como se fossemos juízes da suprema corte de um mundo sem censura, cada um dá sua opinião, e todas são levadas a sério. Não é a notícia, ou a verdade, mas o que a notícia poderia ter sido, ou a interpretação particular de cada um sobre ela. Não é a lenda, mas a lenda recontada e aumentada. Foi nas cadeiras do Mazinho, sendo atendido pelo Jorge (que foi demitido porque sua popularidade aumentava a cada dia, mesmo que o Mazinho se refira a ele como "aquele rapaz" depois de trabalharem juntos por seis anos) que vimos no telejornal a notícia de que na ditadura do Haiti 70mil mulheres haviam sido violentadas. E ali mesmo o Mazinho fez o sábio comentário de que "reclamavam tanto do Saddam Hussein, mas agora que ele saiu, era pior sem ele". Ali também ouvi a história do menino que respirou um mosquito, mas que o mosquito não morreu e picou todo o pulmão dele. O menino entrou em coma, e o Mazinho jura que cortava o cabelo dele no hospital todo mês. Jorge viu chover peixe no sítio do pai dele, e um senhor de uns 80 anos jurava que tinha 124, e contava bem sério como foi a virada do século dezenove para o vinte. O jorge colheu uma abóbora de 30 quilos no sítio, e o Mazinho já tinha visto uma onça "toda listada" numa pescaria. Ali reclamamos do Maluf, do Roriz, criticamos a oposição, mesmo que ninguém soubesse direito quem era a oposição. Escolhemos candidatos e demos vereditos sobre quem era culpado de quê. Um dia vou voltar para Brasília e cortar o cabelo com o Mazinho outra vez, mas vai ter que ser logo, porque meu cabelo tá indo embora.

3 comentários:

Eleudo disse...

Mazinho, 216 norte? Quase sem cabelos (também)! Fui lá, aliás fui "criado" lá. Até os 25, portanto há algum tempo, ele cuidava da minha também vasta cabeleira. Um forte abraço, Eleudo.

Marcelo Pontes disse...

Salve professor Eleudo! Que legal a gente se encontrar por aqui! Depois que escrevi fiquei pensando em quanta gente de BSB conhece o MAzinho...hehe...mais de uma geraçãode cabelos cortados! Abraço.

gabriel gallina disse...

todos tem boas histórias sobre cabelereiros, mas acho que só homens um pouco mais rodados tem sobre barbeiros. bons tempos aqueles...

meu pai dempre me levou no santinho, aqui em porto alegre. barbeiro que ele vai até hoje, desde que chegou a porto alegre a uns 40 anos atrás. depois na época do cabelo comprido eu ía no nélson, que era um travesti e cortava o cabelo da minha mãe.

depois que comecei a ficar careca achei que não precisava pagar pra raspar a cabeça e comprei uma máquina, que uso até hoje. é mais prático e barato, mas o papo de barbearia com certeza deixa saudade.

enfim, belo post. como sempre.

abração,