domingo, 20 de janeiro de 2013

O BBB E O MURO ELETRÔNICO DAS LAMENTAÇÕES

Depois que o BBB recomeçou, tenho recebido diversas mensagens diárias em meu Facebook de gente falando mal do programa, foram essas mensagens que me fizeram pensar nesse assunto. Fiquei por um tempo imaginando o motivo que leva alguém a criar uma campanha desse tipo, porque, certamente, existem muitas outras coisas que essa mesma pessoa não tolera no seu dia a dia e contra as quais não milita. Se você pensar friamente, quinze minutos de BBB por dia durante 90 dias são pouco mais de 22 horas de programa, ou seja, cinco edições do Domingão do Faustão, ou dois domingos de Gugu Liberato e Silvio Santos, ou dez dias de um programa sensacionalista comandado pelo Ratinho ou Datena, convenhamos, não tão melhores assim que o BBB.

Depois, pensei nas coisas pelas quais milito e estaria disposto a ir às últimas consequências, são poucas: democracia, tolerância e igualdade. Por outro lado, há muitas coisas com as quais não me identifico, mas contra as quais não faço nada. E essa lista, essa sim, é maior. Não tolero música sertaneja, e agora mesmo estou ouvindo uma rádio que não toca esse tipo de música, está tocando Bob Dylan, não preciso dizer mais nada. Só escrevi contra os sertanejos uma vez copiando alguém, "Tomara que o Sertanejo Universitário se forme logo e arrange emprego fora do Brasil". Não gosto de ver televisão, prefiro um livro, nem precisa ser bom, uma hora qualquer de livro é melhor do que qualquer uma hora de programação na TV aberta. Livros são como pessoas, sempre há algo que se pode aproveitar. Não gosto de gente que fura a fila, conversa durante o filme no cinema ou atende o celular falando alto em ambientes públicos, mas não faria uma campanha contra essas pessoas no Facebook.

Também não gosto de fundamentalistas, pessoas que querem me convencer que seu Deus é melhor que o Deus do outro, ou me convencer que o meu Deus é pior do que o Deus do outro, ou mesmo que Deus não existe. Me deixem em paz com meus amigos imaginários! Não gosto de fotos de cachorro abandonado no meu Facebook, nem de "quantas curtidas merece esse campeão" mostrando velhos moribundos, pacientes terminais, crianças estraçalhadas, próteses e coisas assim. Acredito que até no sofrimento devemos respeitar a dignidade humana, e, como diz meu pai, deixar que cada um lamba suas próprias feridas. Mas isso é o que eu penso, você pode pensar diferente. A liberdade individual, apesar de intangível, deve ser preservada, todos sabemos que não é nas semelhanças que evoluímos, mas pelas diferenças que nos tornamos melhores.

O Facebook se transformou num Muro Eletrônico das Lamentações, nas suas fendas virtuais as pessoas depositam, como papéis dobrados eletronicamente, todas as suas crenças, sofrimentos, compartilham seus medos, riem solidariamente, exercitam a intolerância, expõem suas verdades. Inclusive eu. A nova relação entre pessoas inclui agora um espaço cibernético onde tudo é permitido. Uma bricolagem da cultura pop misturada com convicções fervorosas, que atesta que nunca em toda a história da humanidade nos manifestamos tanto publicamente sobre as diversas matérias que compõem a vida humana. E o BBB não está fora dessa, um micro-universo das relações interpessoais reproduzido em tempo real, uma fórmula mágica que vem colhendo resultados há treze anos, um bando de pós-adolescentes trancafiados em uma casa, hormônios efervescentes, tramas, sussurros, amores, desilusão, brigas, liderança, comportamento de grupo. Nada diferente de uma repartição pública ou uma empresa privada, o zoológico humano, afinal.