sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

VEM ME BUSCAR !



Me desculpem, mas é carnaval!

O carnaval tem essa capacidade indescritível de me fazer feliz, uma afinidade ao ritmo que meus amigos diriam ser resultado de uma descendência africana que na verdade não tenho na família, declaração inegável por meus olhos verdes e pele clara, uma clássica miscigenacao brasileira entre portugueses, alemães e italianos. Basta um bater de tambor para me abandonarem os motivos de lamentação e perder o controle de minhas pernas deixando que me levem. Diga-se de passagem, não são boas pernas para o som dos tambores, mas sigo pelos conselhos do Dalai Lama, "dance como se ninguém estivesse olhando", mais vale um péssimo sambista feliz do que um excelente dançarino cabisbaixo.

Sei que em parte os tambores mexem com minha alma em honra à minha filiação orgulhosa do matador de dragões, santo católico, orixá da umbanda, guerreiro, meu Pai Ogum. Meus tambores internos batem por ele. Pois quando você ler este texto, estarei no Rio de Janeiro, que nem preciso dizer, continua lindo. Entendo que estamos vivendo um momento difícil, onde a compreensão passa longe da razão, e a emoção não dá espaço para a vida recomeçar. Existem sentimentos que o tempo aplaca, mas não apaga. Para o resto, há a música, e para o que for amor não correspondido, existe o carnaval.

A festa do coração partido vai tomar as ruas do Rio, vai espalhar espuma e confete pelas calçadas. Vai encantar gringos de todas as nações, vai ecoar pelos morros pacificados, e o som dos inúmeros blocos vai se perder no mar. Vamos acordar cansados, mas decididos. Vamos comer pouco, beber muito, e nem vamos precisar dirigir. Nossos pés cansados vão desvendar o asfalto na Cidade Maravilhosa. O Cristo vai fechar os olhos, desviar o olhar para o oceano, depois, na quarta-feira, como bom pai, nos olhar de frente e perdoar nossos pecados adolescentes cometidos em uma festa mundana.

Agora somos o que quisermos, uma mistura de Vadinho e Camisa Listrada, árabes, bruxas, bailarinas. Drag queens, colombinas, hippies extraterrestres, ritmistas desencontrados. Mágicos, noivas, virgens. Somos uma legião espalhafatosa numa batalha de quatro dias, nunca somos derrotados, sempre há um de nós ainda em pé, como na música "somos um bando, um bando, um bando e muitos outros", e mesmo que você nao faça parte de nossa trupe, ainda assim lhe perdoamos.

Chegou a hora, vem carnaval, vem nos buscar!