quarta-feira, 26 de junho de 2013

São 15h55min.
Crianças não costumam nascer a tarde, mas afinal, era eu.
Desconsiderando as voltas da Terra, e pensando de modo simplista, acabo de fazer 50 anos de idade. Não posso dizer que não usei bem esse tempo, mas também devo considerar que poderia ter usado melhor. Não sei tocar piano, não tive um filho, Não plantei uma arvore, não fiz a volta ao mundo. Mas fiz outras coisas bem legais, e "provei tantas frutas, que te deixariam tonto". Botei o pé no mundo, desapareci por uns dias, toquei numa banda improvisada, conheci todas as capitais do Brasil. Li muitos livros, muitos mesmo. Senti saudade. Descobri que amigos vão e voltam, mas que inimigos ficam para sempre, e então, com todas as perspectivas a meu favor, descobri que ainda não sei perdoar. Fiz campanha política, escrevi meu próprio blog. tive mais de 50 mil acessos num post sobre o Big Brother, descobri que muita gente me lê, aumentei a responsabilidade… Morei em várias cidades, comi comidas estranhas, mas nada nojento. Perdi tudo, recuperei tudo outra vez, perdi tudo de novo, recuperei tudo outra vez. Desisti de comprar um apartamento, fiquei muito doente, me curei. Vi as pessoas que eu amo caírem e se levantarem; vi as pessoas que eu amo conquistarem seus sonhos; vi as pessoas que eu amo dizerem coisas lindas pra mim, quando eu nem sequer esperava. Dirigi em autoestradas nos EUA, fiz feijão com arroz em Nova Iorque, chorei ao ver alguém que não conhecia cantando. Nunca aprendi a tocar piano. Mas aprendi a tocar os teclados de letras, bem ao meu jeito, na ordem certa, compassada, expressando o que eu sinto. Em 50 anos, escolhi os musicais como minha forma preferida de arte, junto com meu grande amor à arquitetura, sem deixar para trás a literatura e as artes plásticas. Tudo bem, em 50 anos não decidi ainda qual das artes mais me encanta, mas sei que não é a poesia. Conheci menos lugares do que pretendia, mas conheci lugares que nem sonhava. Na minha cidade natal conheci todos os becos, adotei outra cidade como cidade natal, e pelas ruas estreitas do velho mundo "vi tanta moça bonita, tanta rua esquisita, tanta nuança de parede, nas ruas por onde andei, e vi uma rua encantada, que nem em sonhos sonhei". Desembarquei em Manaus em um dia quente de verão vestindo camisa estampada e de mangas compridas com colarinho fechado ao estilo dos anos 90, fui recebido por um estranho que se tornaria meu amigo por toda a vida, atravessei a selva, andei de barco, aluguei um táxi para viajar pelo Acre e Rondônia…atravessei os dois estados por uma estrada estranha cercada de floresta, de táxi! Quase caí de um telhado em Roraima, almocei a bordo de um restaurante que flutuava no maior rio do mundo, dormi em uma acampamento de mineiradores no Amapá, passei a noite acordado. Conheci uma cantora sertaneja quando perdi minhas malas na Bahia, viajamos dois dias de ônibus para descobrir que o caminho era outro. Mergulhei clandestinamente sem licença, caí de um barco, votei 20 anos no mesmo candidato e quando ele se elegeu chorei de alegria sob fogos de artifício enrolado em minha bandeira vermelha. Me senti grande. Atravessei Portugal de carro, visitei o túmulo de Santiago, falei em várias línguas, me perdi no caminho de uma cidade chamada Jaquirana. A verdade? Me perdi inúmeras vezes no Rio Grande do Sul, em Minas e Goiás, fiquei mais de uma hora perdido de carro em BH, nunca me localizei muito bem. Enjoei nas estradas de terra, correndo ralli no Paraná. Mesmo sendo passageiro, empurrei um táxi estragado em Fortaleza. Reformei um prédio histórico em Belém, depois outro, muito maior. Acompanhei o meu time do coração do outro lado do mundo, conheci o deserto da Arábia, li as Mil e Uma Noites, cheguei em Atlanta após o furacão, andei de camelo e vi o pôr-do-sol no deserto. Me senti pequeno. Escrevi para uma revista, escrevi para um jornal, escrevi três livros, perdi um inteiro, não publiquei. Aprendi a dormir tarde e acordar cedo, a ver um filme mais de uma vez,a perceber quando meu corpo precisa descansar, e quando preciso comer mais verduras. Aprendi a ouvir antes de falar quando os ambientes eram hostis ou competitivos, aprendi a respeitar quem sabe mais do que eu, aprendi a querer ser igual a quem sabe mais do que eu. Sofri por amor, me curei; sofri de novo, me curei; sofri de novo, me curei; sofri de novo, me curei, numa exponencial infinita que agora sei que jamais acabará, porque também descobri que o amor não acaba e que tem muitas formas. Entendi que qualquer forma de amar vale a pena. Entendi que brigar as vezes é a única opção, mas nunca a melhor. No fim das contas, fazendo um balanço, descobri que fazer 50 anos de idade não é o fim do mundo, nem o começo, nem a metade, é só mais um número, preferia que ele fosse menor, mas como disse Paulo Autran, para viver mais a gente tem que envelhecer, então, que venha o resto, mas devagar, por favor.