segunda-feira, 27 de julho de 2009

Bingo do Caminho das Índias

Para participar do Bingo da Novela das Oito - Caminho das Índias - basta você ter paciência suficiente para assistir (como eu) e seguir as instruções abaixo:

1. Reúna a família e imprima uma cartela para cada participante;
2. Marque com um círculo cinco expressões ou situações que você acha que podem ocorrer em um mesmo capítulo;
3. Distribua um punhado de feijão cru, para cada um dos participantes (não importa a cor do feijão);
4. Escolha uma superfície plana ou relativamente plana (para os feijões não rolarem);
5. Sintonize na novela das oito da Rede Globo, Caminho das Índias, e comece a marcar;
6. Ganha quem completar as cinco opções escolhidas primeiro;
7. Mãos à obra, e boa diversão!


















Atenção: Esta atividade requer a assistência de adultos, já que a novela contém temas de:
- abandono de menor (Filhos de Maia e Duda)
- triângulos amorosos (Maia, Duda, Bahuã, Haj, Norminha, Ramiro)
- adolescente contraventor (filha da Sílvia e Zeca)
- esquizofrenia (Tarso)
- amor não correspondido (todos do triângulo amoroso)
- amores proibidos (todos do triângulo amoroso, mais um monte)
- traição marital (Ramiro, Raul, Norminha)
- falsidade ideológica (Raul e pai da Maia que rouba nos pesos da loja)
- psicopatia perigosa múltipla (Yvone)
- mal gosto para escolher roupas (Vera Fischer, por culpa do figurinista)
- estelionato (171) generalizado (advogado pai do Zeca e indiano falso que eu não sei o nome)
- exploração de menores (filha mais nova do Tony Ramos em Bolywood, triângulo amoroso entre crianças)
- violência entre jovens (Zeca)
- apostadores compulsivos (irmão da Maia)
- difamação e calúnia (professora da escola do Zeca)
- feminismo e maternidade (a outra que fez inseminação artificial e não quer o pai por perto)
- pais irresponsáveis (Pai e mãe do Zeca)
- perjúrio (a malvadinha que mora com a Maia, entre outros mentirosos de plantão)
- sequestro (Raul)
- racismo e segregação entre classes, o mais estúpido dos crimes.

Ou seja, uma novelinha leve, para você se distrair todo dia à noite, jogando seu bingozinho. A Índia é aqui!

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Viagem à Lua

Ontem fez quarenta anos que o homem foi na Lua. Quer dizer, se é que foi. Não. Não é que eu seja uma dessas pessoas que acredita que isso não aconteceu, mas é um bom assunto para escrever a respeito. Quando eu visitei o Air and Space National Museum em Washington fiquei um pouco apreensivo. Lá está exposta a cápsula do Apollo 11 que voltou da Lua, e - para ser sincero - eu não iria nem até a padaria naquela lata velha, que dirá voltar do espaço entrando na atmosfera e pegando fogo. Me lembro muito bem desse inverno de 1969, um ano triste para o Brasil, mas feliz para mim que adorava desenhar. Fiz milhares de desenhos da Apollo 11 em diversas e complexas situações; decolando com fumaça, decolando inclinada com fumaça, fumaça ao decolar, decolando com fumaça e céu azul. Praticamente o que poderia ser chamado de uma série "Apollo" se eu tivesse ficado famoso, da mesma maneira como chamaram as séries de Picasso "Os touros" ou a fase dos girassóis de Van Gogh. Desenhar a Apollo 11 indo para a Lua era realmente um desafio gigantesco para meus 6 anos recém completados, exigia que eu soubesse o que era um foguete, como ele decolava e principal, e mais difícil, o que era a Lua e onde era a Lua. Não sei se vocês lembram da infância de vez em quando, mas eu tenho certeza que só descobri a Lua quando era adolescente. Minha fonte de inspiração deve ter sido mesmo os Thunderbirds (eu era o número 2) e se você não sabe o que é isso, procure no Google. Independente de minha ignorância artística, o foguete chegou mesmo lá. No museu aeroespacial de Washington também estão os protótipos do módulo lunar que aterrisou na Lua (o original, você sabe, ficou por lá), e mais uma vez, a impressão que tive era de que tinham reformado meu antigo Jeep 66 (meu primeiro carro, mesmo sem capota), colado fita adesiva e enrolado com papel laminado e metido fogo. Uma das coisas que mais me impressionou foi a quantidade de fita adesiva, cheguei a pensar que poderia mesmo ser um truque de marketing americano, e concordar com as centenas de milhares de teorias conspiratórias sobre o tema. Mas revendo os filmes do cinema da época, concluo que não havia tecnologia de propaganda suficiente para aquela superprodução. Depois, tem os cintos de segurança. Praticamente um daqueles cintos de exército que foram moda em certo momento nos anos 80, só que muito mais largo. A roupa do astronauta então...muito vagabunda. O fato é que esqueci de um detalhe importante quando visitei o museu, o equipamento não precisava ser bonito, tinha que ser leve, simples e eficiente, e parece que deu certo. Quarenta anos depois não temos a menor idéia do que fazer com a Lua, continua sendo um pedaço de pedra flutuando (nem tente me explicar como) e influenciando as marés, as colheitas, os lobisomens e outras criaturas das trevas, a sexualidade e os cortes de cabelo. Aliás, sobre os cortes de cabelo sou um pouco cético, sempre usei o método lunar do Capiloton, mas parece que não deu muito certo. A Terra é aqui!

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Exame de trânsito

Você estaciona seu veículo em lugar proibido e é multado. Qual sua atitude em relação ao guarda que lhe aplica a multa?
a.Tenta suborná-lo, oferecendo dinheiro;
b.Tenta intimidá-lo, dizendo que ele não sabe com quem está falando;
c.Tenta se fazer de desentendido, alegando que não sabia que ali era um local de estacionamento proibido;
d.Mantém-se calmo, guarda o recibo da multa e retira seu veículo do local.
e.Não fala nada, rasgando o recibo da multa na frente do guarda de trânsito

Pergunta do simulado do Detran RS na página oficial na internet



Minha carteira de motorista venceu. Primeiro, não sei porque chamam de carteira de habilitação se todo mundo sabe que é uma carteira de motorista. Segundo, porque eu tenho que renovar se me deram a carteira na primeira vez? As leis de trânsito mudaram tanto assim? Se fosse cair algum conteúdo de internet ou sobre política internacional, como o fim do Comunismo ou a abertura da China, ainda vá. Mas vai me dizer que os sinais de trânsito mudaram? Claro que não.
Minha carteira venceu e eu estava em Nova Iorque, adoro usar isso como desculpa para o fato de estar sem uma habilitação válida, parece que não é relaxamento ou vagabundagem, mas dá um certo ar formal para a coisa.
"-...pois é, como que ele ia renovar a carteira se estava fora do país? bem razoável ficar com a carteira vencida."
Isso é o que eu imagino, mas difícil é explicar porque ela ficou vencida 13 meses, mesmo eu voltando dos EUA há 8 meses atrás. Bem, para tudo tem uma explicação. O fato é que hoje fui fazer o exame de renovação da habilitação no Detran DF. Escolhi fazer a prova, na verdade só conheço um cara que fez o curso, meu padrinho. Passei o dia estudando em uma apostila que comprei em um CHC aqui perto de casa. No final, na parte de primeiros socorros, comecei a me sentir meio apreensivo, era tanta parada cardíaca e hemorragia, estado de choque, atropelamento, queimadura, perfuração, caco de vidro e sangue, que achei que estava me preparando para ir para a guerra ou para ser plantonista da BR116 ou da Linha Amarela, e não para a prova de renovação de uma carteira de motorista que eu conquistei fazendo exames (depois de rodar duas vezes no exame de direção, é bem verdade). Mas não é só. Se você já fez a renovação deve ter percebido como tem dicas impressionantes na apostila, não posso dizer que não foi proveitoso, por exemplo:
- Não dirija com o freio de mão acionado (pág 12)...
- O carro deve ser abastecido sempre que estiver com pouco combustível;
- A água da bateria deve ser verificada uma vez por semana (! pág. 20)...
- "As tampinhas das válvulas de ar dos pneus não são simples enfeites" (pág. 19)(sic), uau!
- O motor de carro com ignição eletrônica não deve ser lavado, o que me ajudou a tolerar o fato de fazer 7 anos que não lavo o KA;

Lá fui eu para a prova, uma mistura de mecânico, ambientalista, motorista e paramédico, com minha caneta azul ou preta, capaz até de diagnosticar cistite em caso de acidente com vítimas. A prova era feita na mão mesmo, com folhas de papel, e a menina que aplicou a prova, muito simpática e bem preparada, desabafou que deveriam ser três examinadores, mas que os outros dois não haviam aparecido ainda. Fui aprovado com 26 de 30.

De qualquer modo, eu, paramédico, ambientalista, mecânico, motorista e cidadão, já estou preparado para o Vietnã do trânsito brasileiro. Posso voltar a dirigir legalmente meu Ka, quer dizer, assim que ele voltar a funcionar, se voltar.

foto: http://www.humorbabaca.com/

quinta-feira, 16 de julho de 2009

A sala mágica

Existem lugares no mundo que são mágicos, mas precisam ser operados por pessoas mágicas também. Na casa da minha mãe, em Ipanema, está um desses. Um quartinho pequeno, de três por três, metido em um corredor com um tapete-passadeira, definitivamente uma peça de decoração de casa de vó. Nesse quartinho nasceram coisas espetaculares confeccionadas com tecido, lã e qualquer outro material que fosse preciso. É dessas salas mágicas - que se escondem aleatoriamente pelo mundo - que alguém mágico pode atender a pedidos tão bizarros quanto "vó, preciso de uma fantasia de pizza", ou "amanhã tenho que entregar um trabalho no colégio sobre os Incas". Ninguém deixa de entregar trabalho escolar sobre tema algum do mundo tendo uma sala dessas ao seu alcance, com uma avó capaz de manuseá-la. Dessa sala saíram enxovais completos para recém nascidos abandonados em maternidades ou com mães em extrema pobreza, peças para filhos de reis, que me ensinaram que todas as pessoas são iguais e devem ser respeitadas assim. Dali saíram vestidos de noiva, glamourosos, brilhantes, bordados á mão para noivas em incontida felicidade. Saíram pijamas, blusões, gorros, bandeiras do Inter, mantas, de cores e tamanhos diversos, mas carimbados com o carinho de sempre. Não sou habilidoso em lidar com uma sala dessas, mas vou me esforçando para aprender. Junto de minha mãe aprendi tantas coisas, mas a manusear a sala sempre tive dificuldades. A manusear a sala e a cozinha, confesso. É difícil concorrer com alguém que é capaz de preparar um refeição simples, com 8 pratos, em 40 minutos; encher uma casa de vida em segundos, acender uma lareira instantâneamente. Acho que isso vem pela energia, uma energia tão forte que as crianças a adoram, e com seu olhar firme é capaz de acabar com qualquer baldo. Talvez seja essa energia que a mantém firme, depois de tantas quedas - fisicamente falando - já que o jeito agitado não permite tempo para pensar duas vezes, e a gravidade se torna inimiga ferrenha no piso molhado da cozinha e nas escadas.

Nos dias de inverno, chuvosos e frios do sul, o som da máquina de costura naquela salinha mágica era interrompido por instantes, e surgiam na frente da TV bolinhos de chuva, chocolate, café. Um bolo saído de sabe-se-lá-onde, ou uma cuca de laranja. Também tivemos as fases da torta de maçã e do peteleco, doces de pessêgo em calda, de abóbora e laranja. Considerando a quantidade de comida que minha mãe fez nesses anos em que morei com ela, eu deveria pesar uns 300 quilos. Apesar da praticidade, sempre foi minha parceira para filmes, por um tempo fomos fãs de terror, encolhida no sofá ou esticada na poltrona, procurando os óculos nos cinco primeiros minutos do filme, coisa que sempre me irritou e que - por motivos de DNA - eu repito sem perceber.

Mas nem tudo são flores. Há também uma personalidade forte, a qual o DNA outra vez me delegou um igual, mas um coração enorme e uma bondade avassaladora, que as vezes me irrita, porque sei que nunca conseguirei ser assim (e então o DNA me traiu). Minha mãe é um cochilo na frente da TV assistindo Friends, seu pé-ante-pé a noite para ver se estamos dormindo, um bife Argentino, um pote de vidro cheio de chocolates durante o jogo de futebol e o dinheiro escondido dentro da Bíblia. A amabilidade com meus amigos, a adoração pelos netos, a parceria no restaurante com meu irmão, o amor por meu pai. Não pensava em escrever outra vez sobre minha família (já estou me sentindo invadido) mas não posso deixar passar em branco esse dia, 19 de julho, Dia Internacional do Futebol, por um desses mistérios da vida, aniversário de minha mãe. Dona Lygia, eu também te amo. Feliz aniversário.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Insetos comestíveis

"De todos os insetos alados, que caminham sobre quatro pés, vocês só poderão comer aqueles que, para saltar no chão, tem as patas traseiras maiores do que as dianteiras...Os outros insetos de quatro pés serão imundos."

Levítico, 11:22



Pode parecer loucura, mas na Bíblia aparece uma referência direta sobre quais insetos podem ser comidos. Está em Levítico (o Livro das Leis do Antigo Testamento, ou um dos cinco livros conhecidos como Torá), uma lei específica que indica quais insetos podem ser comidos. Eu sei que a gente já viu chineses comendo insetos durante as Olimpíadas em 2006, e que todo mundo ouviu falar disso, mas sempre me pareceu que era uma espécie de excentricidade individual dos orientais impulsionada pelos anos de fome em um país gigantesco como a China. Descobri isso lendo The year of living biblically (de A.J.Jacobs, O ano de viver biblicamente, o relato de um editor que resolveu seguir todas as regras da Bíblia durante um ano), e fui atrás para pesquisar mais. Segundo o Livro Sagrado, não era permitido comer nada que fosse inseto e voasse, mas grilos e gafanhotos eram benvindos. Inclusive tem uma passagem em que João Batista sobrevive um período comendo somente gafanhotos e mel...inacreditável.

Avançando na minha pesquisa descobri que insetos são uma grande fonte de proteínas concentrada, praticamente um composto multivitamínico, e são conhecidos no mercado de comedores de insetos (acredite, existe um mercado internacional disso) como "microlivestock", algo em torno de "micro depósitos de vida", num trocadilho com a palavra "livestock" que é usada para os animais criados em fazendas. Insetos também são conhecidos como "o verde alternativo", para aqueles super-vegetarianos ortodoxos que não podem comer carne de jeito nenhum e precisam de proteínas, comer insetos pode ser considerado um comportamento altamente ecoresponsável. Mais impressionante ainda é que se você acredita que comer insetos é estranho, considerando a população mundial e de acordo com a National Geographic, você faz parte de uma minoria cultural. Insetos são considerados por muitos entomofagistas (especialistas em insetos comestíveis) como a comida do futuro, existem mais de 1400 espécies comestíveis e. Comparando 100 gramas de grilos com um bife, os grilos têm metade das calorias e o dobro das proteínas.

Na internet você pode encontrar cardápios completos de insetos, basta digitar "eat bugs", "edible bugs" ou "Fluker´s Farm" (preste atenção no Fluker´s porque além de vender insetos para comida humana eles vendem insetos para alimentar insetos que você pode criar em casa para comer mais tarde, vendo o futebol domingo à tarde com cerveja), sites especializados que entregam no mundo todo formigas com queijo Chedar, grilos e gafanhotos cobertos com chocolate, aranhas levemente fritas com páprica, vermes na manteiga. Não parece delicioso? Mal posso esperar para fazer meu pedido...

Mas a coisa não para por aí. O site especializado do departamento norteamericano de administração de alimentos calcula que comemos insetos cotidianamente sem saber. Numa pizza tradicional, considerando os alimentos que são utilizados, para cada 100 gramas estima-se que existam 30 ovos de insetos não eliminados na lavagem e cocção. Existem 20 larvas não detectadas em cada 100 gramas de cogumelos Shytake e para cada 10 gramas de orégano podem existir até 1250 fragmentos de insetos triturados. Isso sem contar os pepinos em conserva, em cujas embalagens está escrito "eventualmente você poderá encontrar pepinos com broca, descarte-os e consuma os demais normalmente". Broca, no caso, é um inseto nojento. Se você não acredita, verifique em qualquer rótulo de pepinos.

Para mim, que não comia estrogonofe quando era criança porque parecia vômito de cachorro, acho foie gras assustador e não como coração de galinha até hoje porque faz parte da abominável família dos miúdos, comer insetos parece mais do que uma excentricidade, parece uma aberração, mas nunca poderia imaginar que grande parte da população mundial fazia isso há 4000 anos atrás e continua fazendo. No final, fiquei me imaginando rico e poderoso dono de uma fazenda de insetos, mas deixei a idéia de lado, acho que eu não ia conseguir dormir sabendo que minha casa estava cheia desses bichos nojentos.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

A revolução começou

Demócrito foi um dos últimos filósofos naturalistas da Grécia antiga (filósofos que pensavam sobre o mundo natural). Foi ele quem chegou á conclusão de que as coisas eram formadas por outras partículas muito pequenininhas para as quais deu o nome de átomos, que na época (e em grego) queria dizer “indivisível”. Daí que o mundo atual continua sendo assim, exatamente igualzinho ao que era na Grécia antiga, mas muito mais complicado e incluindo aceleradores de partículas, blue-ray e equipamentos de TV que podem ser programados para gravar. Fora do mundo material, o mundo das idéias também é assim. Basta entrar na internet para confirmar. Se a matéria ainda é formada por partículas, também são as ações e idéias muito pequenas que comandam o cotidiano. Hoje vi um carro bater na traseira de outro no eixão, uma via de seis pistas, 15 quilômetros de extensão ligando as duas extremidades do Plano Piloto em Brasília. Um acidente estúpido e sem grandes novidades que causou um congestionamento de 6 quilômetros durante uma hora. Três travestis entraram no carro e foram para um motel com o Ronaldo Fenômeno há um tempo atrás, um morreu ontem e a internet só fala nisso. Quer coisa menor do que isso? O Twitter (no qual estou inscrito... http://www.twitter.com/arqmarcelo) tem centenas de mensagens sobre isso (na página do Twitter acesse #forçaronaldo). Quando o Michael Jackson morreu, o Google ficou fora do ar duas vezes, coisa raríssima. É que todo mundo estava acessando o Twitter e outros sites ou redes sociais para saber notícias, causou um congestionamento enorme nas comunicações, inclusive dizem que o Pentágono entrou em contato com o Google para saber o que estava acontecendo (quando o Google sai do ar, o Pentágono acha que é um ataque terrorista e liga pra lá...!). Isso quer dizer que foram milhões de ações independentes e únicas, uma pessoa de cada vez, sem ligação com as demais, que se somaram numa mesma ação ao mesmo tempo (estimaram que 1 bilhão de pessoas estava assistindo ao funeral em diversos canais de mídia). Praticamente um tecido internético atômico.
Um cara chamado Pierre Lévy, que escreveu o livro que deu a idéia para o filme Matrix (O que é o virtual?), previu isso nos anos 90: que o mundo seria uma rede de unidades autônomas e interdependentes, e que cada ação individual iria se somar às demais criando um novo produto. Não é uma loucura? Complexo, mas é o que está acontecendo. Cada um dá sua contribuição, e um novo conjunto se forma. Acho que estou muito impressionado porque nas minhas férias passo o dia em frente ao computador, conectado na internet. De uma certa forma isso causa um estresse grande também, somente em 2006, estimam que a quantidade de informação produzida na internet poderia fazer uma pilha de livros da Terra ao Sol...doze vezes! Difícil é acompanhar isso tudo, mas não dá mesmo é para desistir, tem que insistir. Twitte-se e me encontre lá. Este texto é um dos átomos da internet, e você acessando, outro, juntos, vamos revolucionar o mundo. A revolução é aqui!

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Tiradentes II - Igrejas

A região do ouro em Minas Gerais tem um quê de arquitetura. Tiradentes, São João del Rei e Ouro Preto, acompanhadas de Mariana, Sabará e muitas (e menos conhecidas) outras, representam uma parcela do criativo Barroco mineiro do Ciclo do Ouro. Aqui o Barroco originado da Europa se misturou com a precariedade colonial e a liberdade tropical para criar uma arquitetura expressiva e única, somente encontrada no Brasil. Os traços da corrente original são identificáveis, mas também é fácil ver a inventividade e a disparidade ao modelo da Metrópole em cada detalhe, seja numa fruta. Para quem curte arquitetura do passado, e acredita que aprendemos a fazer melhor com isso, vão algumas dessas que encontrei em Tiradentes, 6000 mil habitantes, 307 anos e muita história.
Iniciada em 1710 (e finalizada 42 anos depois), A Igreja da Matriz de Santo Antônio é a segunda do país em quantidade de ouro na ornamentação interna, quase meia tonelada. Com projeto da portada de Aleijadinho (em 1810, sobre o projeto original), o interior rico e decorado impressiona quando consideramos a rusticidade do restante da vila e nos reportamos ao passado. Um enorme órgão de origem portuguesa pende sobre a cabeça dos fiéis. Não são permitidas fotos no interior da igreja (por isso as fotos do interior estão um pouco desfocadas), e no exterior a posição estratégica da implantação lembra bem o urbanismo colonial português com a localização no topo da colina mais alta.




Tradicionalmente as igrejas consagradas a Nossa Senhora do Rosário são chamadas de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, hoje fora do contexto, o título se refere ao fato de que quem construía essas igrejas eram os escravos convertidos, normalmente trabalhando à noite, depois de um dia inteiro em outras atividades. A igreja dos escravos de Tiradentes é de 1708, aparentemente com uma torre sineira agregada posteriormente, tem uma simplicidade aconchegante, em um recuo urbano muito acolhedor. Tem o traçado básico da Igreja colonial primordial brasileira, onde as diagonais da fachada marcam o posicionamento das quinas das janelas e a altura da porta, teoria da arquitetura na prática e ao vivo. Muito branco e beleza rustica, simplicidade que me lembra um Deus mais humano. É minha preferida.

No casarão que abriga o Museu Padre Toledo (figura importante na Inconfidência) mobiliário e peças da época nos arrastam para o país adolescente, ávido por se libertar da mãe opressora, mas ainda não preparado para os desafios da maioridade. Confesso que senti algo de nacionalismo naquela casa, onde o Padre se reuniu pela primeira vez com o grupo que mais tarde se denominaria Inconfidentes Mineiros, durante um batizado. Sei que os motivos foram econômicos, como em todas as revoluções - o alto custo dos impostos, a cobrança radical dos débitos atrasados (a Derrama) motivou sobremaneira ao levante que não teve o êxito almejado, justamente no mesmo ano da Revolução Francesa (1789).












Ainda há muitas outras atrações, casarões muito antigos, capelinhas que se abrem na Semana Santa com os passos da via crucis, uma Casa de Câmara totalmente independente da Cadeia, um avanço no Brasil desta época. Pombas de barro nos telhados (lembrando o Divino Espírito Santo) e pombas de verdade mostrando de onde vem a idéia. Passeios de charrete (nosso cavalo se chamava Cazuza), e o segundo maior pólo gastronômico de Minas, 5 restaurantes estrelados da Quatro Rodas, oferecendo comida mineira e contemporânea. Comi um bacalhau espetacular no Santo Ofício com vinho português, um filé de primeira no estrelado Tragaluz com vinho chileno, e comida tradicional no Confidências Mineiras com canelinha (cachaça com canela). Tudo num clima de passado, em casarões muito bem adaptados, com a melhor companhia do mundo, à luz de velas e cercado de prováveis fantasmas que por sorte não vi, mas que certamente habitam as ruas silenciosas de Tiradentes. O Brasil foi aqui!