quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Teoria Universal da Perversidade dos Materiais

Em algum lugar fica alguém que decide como as coisas vão acontecer. Chame de Deus, destino, acaso ou o que quiser, mas essa coisa tem mesmo esse poder todo. Não fosse assim, quando eu comprei o edrédon porque fazia um frio desgraçado em BH, o frio teria durado pelo menos mais de três dias, o que não aconteceu. Quando eu comprei um guarda-chuva, parou de chover. Mudei para um apartamento no décimo andar, sem ninguém em cima para perturbar, e tem uma zona do outro lado da avenida perpendicular à minha rua e o barulho vem todo parar na minha sala (no bairro mais nobre de BH), a gente compra passagem para o último vôo e atrasa, compra para o primeiro e não tem teto. Alguém, alguma coisa, em algum lugar decidiu que nessa hora, nesse dia ou nesse ano, você iria se dar mal. Isso já aconteceu com todo mundo, chame de azar, falta de sorte, coincidência, mas eu tenho certeza que é proposital. A máquina de lavar que funciona quando chega o técnico, a TV que volta ao ar quando chega o cara do cabo, sua caneta que não escreve quando você precisa anotar o telefone, a bateria do celular bipando, a fila no trânsito que não anda, o papel higiênico que desapareceu, a roupa perfeita para o evento que está suja, o gás que acaba, o tomate que falta para o molho, a farinha do churrasco com bichinhos dentro ou o ovo para o omelete. Isso não pode ser coincidência, faz parte de um grande plano universal para tornar a vida das pessoas mais selvagem, um plano chamado Teoria Universal da Perversidade dos Materiais. É ele quem faz desaparecer sua chave dentro da bolsa, a caneta de cima da mesa, sua carteira quando você sai de casa atrasado, o congestionamento porque um cara esqueceu de colocar gasolina, o elevador estragado, o grampo do grampeador que acaba, o papel do xerox que entope, o computador que trava, os táxis que desaparecerem, a chuva que para, a chuva que começa. Tenho certeza de que existe um exército organizado e impetuoso por detrás disso tudo, elaborando, articulando, projetando, planejando para tornar pequenos eventos cotidianos em infernos permanentes. Mas de tudo, nos resta aceitar, procurar as chaves, sair em busca do gás, desistir do omelete, encaixotar o edrédon. O universo é aqui.

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