quinta-feira, 3 de junho de 2010

Inspiração, Papai Noel e Rilke

Inspiração é um negócio complexo.

Sempre falei para os meus alunos que inspiração não é nada mágico. Você não tem que acender um charuto cubano, ou tomar uma dose de tequila, ou acender uma vela roxa para criar. Nada disso, sempre disse que inspiração é um conjunto tão profundo de conhecimento que em determinado momento transborda e se materializa numa obra. É como aquela última gota que transborda um copo, ou aquela mãozinha salvadora para empurrar o carro que faz com que os Newtons da inércia sejam finalmente vencidos por 01 Newton a mais. Inspiração é um conhecimento profundo que não consegue mais ficar calado.

Pois eu também nunca acreditei em crises de inspiração. Sempre achei que isso era frescura, bobagem, coisa de quem tem dinheiro e não tem talento, ou tem os dois em excesso. Como vocês sabem, sou um cara assim pragmático algumas vezes, cheio de opiniões. Deve ser de família. Acho que meu próximo emprego vai ser de taxista no Rio, daí vou poder exercitar ter opinião em tudo, e o que é melhor, sempre vou ter razão. Mas o ponto não é este. O ponto é que ando mesmo sem inspiração.

Quando a gente acredita demais numa coisa (e no meu caso essa coisa era que crise de inspiração não existe) e de repente ela parece não ser completamente verdadeira é um pouco estranho. Pensando assim começo a entender os problemas da humanidade, afinal, todos nós fomos enganados pelo Bom Velhinho (não, não é o cara que vendeu o carro para você, é o Papai Noel). Deve ser horrível você ter seis anos e de repente descobrir que todo mundo sabe uma coisa que só você não sabia. Tenho certeza que é isso que nos faz ciumentos, rancorosos, gananciosos, mentirosos no futuro. Nosso modelo é esse:
- Ei, pirralho babaca! Papai Noel não existe! Hahahahahahahahaha!
É um choque de realidade absurdo, dentro de um mundo de faz de conta, pessoas coloridas na Tv, animais que falam e a Xuxa, surge um cara que fala para você que tudo que te falaram era mentira. Como assim?

Comecei este texto só para ver se conseguia escrever sem um assunto, mas parece que estou andando em círculos, ou que bebi demais. Rainer Maria Rilke (que foi o secretário de Rodin por dois anos)  uma vez disse para um cara no livro "Cartas a um jovem poeta" que ele devia escrever sobre a sua própria vida. Não devia escrever sobre o amor porque o amor é muito complexo, e porque outras pessoas já escreveram melhor do que ele porque eram mais velhas (estranho?). E disse que ele deveria escrever sobre sua própria vida, porque depois quando lesse se achasse o que escreveu chato, devia mudar de vida. Sempre achei esta idéia espetacular, mas um pouco cruel. Bem ao estilo do Papai Noel, dá medo mas é bom.

Vou ler este post amanhã, daí decido se preciso mudar de vida. Mas para quem não tinha assunto no início, acho que eu fui bem longe.

Ideías Recicladas é aqui!

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