quinta-feira, 28 de julho de 2011

Qual é o seu signo?


- Qual é o seu signo?


Acredite ou não, esta é a frase mais perguntada nos bares norteamericanos. Segundo o estudo, é uma maneira rápida de estabelecer uma relação interpessoal e identificar similaridades. Considerando que existe um signo ideal para cada outro, as chances de haver alguma relação entre os dois signos é de 01 para 11. Além disso, ainda existe a chance de duas pessoas terem o mesmo signo, o que aumenta as probavilidades em 01 para 10. Convenhamos, uma chance em dez é um excelente argumento para se tentar transar com alguém.

Bem, em tese. Este ano tudo isso mudou. Um cara chamado Parke Kunkle resolveu ir a fundo na astrologia. Já que os mapas astrais em uso tem mais de 3000 anos, ele recalculou! Kunkle descobriu que devido ao movimento do eixo da Terra e à expansão do Universo, os signos estão sendo calculados da maneira errada. É o que se poderia chamar de Kunkle Ovo, só que a Surpresa é que você não é mais do signo que você acha que é.

Não consigo entender como isso aconteceu, o horóscopo já era para ter sido varrido da crença humana desde os anos 50 quando o sistema foi alterado, e Plutão passou a constar nos cálculos astrológicos. Depois os cientistas rebaixaram Plutão a um asteróide, depois um planeta anão, agora estão cogitando sua volta à condição de planeta outra vez. Como assim? Como explicar que um monte de cientistas não consegue dizer se Plutão é um planeta ou uma pedra? Agora pense bem, uma pedra gigante flutuando no espaço (não me pergunte como...), a bilhões de quilômetros pode influenciar meus relacionamentos? Pior, se não bastasse Plutão e sua crise de identidade, agora surgiu uma nova constelação que entra no rol das constelações usadas para desenhar o Mapa Astral: Serpentário.

Tudo culpa do Kunkle...

Se o pessoal de Escorpião se achava o máximo, agora vamos ter os Serpentários. Foi o signo de Escorpião que sofreu o maior baque de todos, rebaixado a meros 9 dias do ano, em tese, 66% dos escorpianos agora são outra coisa. Nada bom para quem se acha o crème de la crème do horóscopo.

Fiquei pensando em como dar esta notícia para pessoas que procuraram seus parceiros baseados na astrologia, seria um diálogo como “...desculpe, tenho uma péssima notícia, sua alma gêmea que era de Áries, agora é de Peixes, lamento, mas Áries é seu inferno astral. Acho que vocês vão ter que se separar...”. Ou pior, o cara tatuou o signo nas costas, teria que fazer outra tatoo: PS. meu signo atual é Capricórnio. Desde sempre nós humanos tivemos essa mania de criar amigos imaginários que possam ser responsáveis por nossas atitudes. Extraterrestres, planetas, deuses, mitos. É mais fácil ser mal humorado de manhã porque seu signo é Gêmeos ou ser sistemático e chato porque é virginiano. Difícil é se consertar. Ser menos teimoso, quando se é taurino, mais rebelde quando se é de Libra.

Algumas vezes vendo essas coisas me lembro de Carl Seagan, complementado por Jorge Luis Borges, parece que vivemos em um mundo assombrado por demônios, todos imaginários. Cada dia os cientistas descobrem mais astros flutuando no Éter, e mais provas sobre nossa existência efêmera e vulgar. Somos tentados a ignorar os fatos e nos atemos ao irracional. No fundo acho que somente quando o gen do medo for isolado e puder ser destruído, vamos viver mais e melhor, livres de assombrações e amigos imaginários que ditam persitentes nosso destino.

Até lá, eu não sou mais de Gêmeos!

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Ensaio sobre para onde vai a paciência quando ficamos mais velhos

Depois de certo tempo, acho que a gente cansa de algumas coisas. Parece que o mundo andou em uma direção, levando junto com ele todas as pessoas do planeta: as novas, as velhas, as recém nascidas. Todo mundo mudou, mas alguns continuam vivendo num mundo passado, um lugar que não existe mais, com hábitos e convicções que todos sabem que não dão, nem vão dar certo. Quando encontro com uma pessoa dessas, tenho a sensação de déjà vu, parce que sei o que ela vai dizer, ou como ela vive a vida, sem nem mesmo precisar aprofundar um relacionamento social.

Pode até parecer preconceito ou pretensão, achar que pode entender uma pessoa por um ou dois atos, duas ou três declarações, mas garanto que com o tempo a gente fica mais observador, antecipa mais as coisas e percebe mais rápido onde tudo vai parar. Acho que é o que chamam de experiência, ou velhice, tanto faz.

Não tenho mais paciência nem tolerância para gente que fura fila. Nem para motoristas de trânsito que entram pelo ladinho se metendo no meio dos outros que educadamente esperam sua vez. Não suporto gente que anda pelo acostamento ou buzina assim que o sinal abre. Gente que diz que pobre é vagabundo. Tenho dificuldade para entender como alguém joga lixo pela janela do carro, ou joga lixo no chão na rua, ou pega o carrinho dos outros no supermercado. Desconfio de gente que me chama de amigão sem nem me conhecer direito, ou pessoas que dizem eu me amo (eu sei, muita gente diz isso). Também não gosto de homem de cabelo comprido (se bem que não gosto de homem de jeito nenhum...), nem careca que usa o cabelo todo de um lado e puxa para o outro. Perdi a paciência para pessoas que querem me converter para sua religião, e gente que reclama de dor e diz que não gosta de tomar remédio. Atores vestidos de dentista em propaganda de pasta de dente, teste de brancura do Omo, loto, telesena, quina, fraude em licitação, bandido com celular em presídio. Não tenho mais tempo para pedreiros, marcineiros, encanadores, eletricistas e todos os demais prestadores de serviço que marcam e não vem. Para o cara da máquina de lavar roupa que sempre quer trocar tudo. Nem para o cara que conserta o micro que sempre quer formatar meu note como se as coisas que tenho nele não tivessem importância nenhuma. Cansei de repetir para a faxineira que as roupas escuras são lavadas separadas das claras. Economistas que dizem que devo comprar tudo à vista e não ter dívidas, artistas da Globo sendo elogiados pelo Faustão ("..o cara é gente da melhor qualidade, um dos maiores talentos da TV brasileira...), novela em que o cara malvado passa um ano metendo terror e leva um tapa na cara no último capítulo, livros para "Mulheres que sabem o que querem terem relacionamentos duradouros", matérias sobre o ano novo ao redor do mundo, reportagem de baleias transando ou tartarugas nascendo, revista prometendo barriga de tanquinho, modelo e atriz, gente sem talento tentando me convencer que é artista, gente sem desejo ou vontade. Pode ser que seja só cansaço ou estresse, mas relendo essa lista, tenho quase certeza de que não sou só eu quem cansou.

Enfim, virei um chato (ou será que sempre fui?). Mas sou divertido.

sábado, 9 de julho de 2011

Beijar, verbo transitivo.


Beijar é um verbo transitivo, requer complemento. Ninguém consegue beijar mais do que poucas partes de seu próprio corpo. Mas o beijo próprio não tem graça, porque beijar é um ato coletivo. O beijo foi feito para dois: nem um, nem três. É o beijo quem encontra. É o beijo quem despacha. No braço, o beijo da mãe tem efeito curativo; na mão do pai, o beijo abençoa. Na face, o beijo recebe e despede. Na boca, o beijo ensurdece; no corpo, enlouquece.

 
Pode ser um simples movimento dos lábios quando as faces estão coladas, como a respirar a alma do outro, ou pode ser um longo silêncio, como a respirar a boca do outro. O beijo pode ser mortal, pode ser de traição, pode ser um beijinho doce que foi ela quem trouxe de longe prá mim, ou o doce pode ser Beijinho. Pode ser abreviado e virtual — bjo —, ou muito longo para ser real. Jesus foi traído com um beijo, mas o beijo também perdoa. O beijo de amigos reencontra, e durante um beijo na boca, a gente se perde. O beijo bom estala, é molhado, quente, mordido, apimentado, atropelado, necessário. É roubado.

 
O beijo é o carinho da boca.

A boca pode ferir quando fala, mas pode perdoar quando beija. O beijo une os separados, sempre dois, sempre une, sempre é bom. E já que o beijo despacha, com um beijo despacho também este texto.

Na primeira linha da foto: Uma linda mulher, Crepúsculo, ...E o vento levou, Mr e Mrs Smith, Cidade dos anjos, Encontro marcado.
Na linha de baixo: Orgulho e preconceito, Bonequinha de luxo, Escrito nas estrelas, Ghost, Um lugar chamado Nothing Hill e Titanic.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Reencarnação e a segunda-feira da eternidade

Eu não acredito em reencarnação.
Até estava a fim de começar a estudar a Cabala. Achei legal, moderno. Mas depois que descobri nas primeiras páginas que a gente podia reencarnar em bichos, seres vegetais ou coisas inanimadas...bom, ficou difícil eu me imaginar um pé de mato no meio do nada, ou mesmo uma mesa de centro tendo que acompanhar várias gerações de dentistas. No meu pesadelo particular, o filho do dentista virou dentista também, e assim por várias gerações, sendo eu a mesa de centro do consultório que nunca era reformado. Uma espécie de dívida carmática por eu ter sido arquiteto e sempre querer reformar tudo o que eu via, exceto as coisas feitas pelo Oscar.

Depois, nunca me explicaram (mas eu sei que deve ter uma explicação) como o planeta está ficando mega lotado: se as almas ficam indo e voltando, de onde vem as novas? Sei que Deus tem uma sala que se chama Guf de onde saem as almas novas que vêm para a Terra carregadas por pardais (vi isso no filme A sétima Profecia com a Demi Moore espetacularmente linda, mesmo grávida). Mas...helloooo....isso é literatura. O fato é que ando pensando em qual motivo nos faz achar que na próxima vida seremos melhores do que nesta, e porque diabos deixamos isso para depois (acho que diabos não é uma boa expressão neste tipo de post).

Pense assim, talvez viver seja só uma etapa, e ser melhor seja somente a segunda-feira da eternidade. Eu explico: é como prometer que segunda-feira você vai começar o regime, ou ir na academia, ou parar de se meter na vida dos seus irmãos. Só que na dimensão da eternidade, a segunda-feira começa depois que a gente morre. Então, ah...vamos deixar para a outra vida, temos a eternidade para melhorar, para que tanta pressa,? Afinal, a eternidade é um monte de tempo. Por que não melhoramos agora?

Essa é a questão principal. Acho que devemos reencarnar constantemente. Eu não sou mais o mesmo que era antes, e serei diferente depois. A todo momento nos reinventamos, reeducamos, reformulamos. As coisas que antes não nos diziam respeito, agora nos fazem agir. Mesmo quando não quero mudar, os outros ao meu redor mudam e obrigam a minha mudança. No fundo de mim mesmo, tenho certeza que não sou mais aquele que fui. E assim vamos avançando, achando que na próxima vez seremos melhores, mas não percebemos que já somos melhores, agora.  Talvez a ideia da vida eterna nos faça perder grandes oportunidades de mudança, sabemos que teremos outras chances, e procrastinamos. Acho que está na hora de mudarmos, perceber mais nossa mudança. Chega de esperar, chega de próximas vidas, chega de destinos escritos. Vamos nos rebelar e mudar agora. Uma nova revolução do agir! Mudar tudo, mudar todos!
Bom, mas vamos fazer isso outra hora, e enquanto isso não chega, vou tomar banho e dormir, prometo que segunda-feira vou começar essa revolução. Sem falta.

Sempre que escrevo posts que envolvem religião, me sinto meio culpado. Se você acredita em alguma dessas coisas, não fique chateado comigo, não faço por mal. Aqui eu só reciclo ideias.

domingo, 3 de julho de 2011

Lendas urbanas

Na minha infância, o mundo era assombrado por lendas urbanas. Vivíamos em um estado permanente de tensão causado por suposições não muito bem fundamentadas sobre a vida cotidiana. Se você é da geração Y, talvez não entenda como alguém pode imaginar que leite faz mal com pêssego. Basta ir no Google e resolver a questão. Mas para nós da geração X, não havia outra fonte de consulta diferente de uma enciclopédia impressa. Desse modo era fácil uma simples suposição se espalhar como um vírus, sempre embasada em fatos não documentados, pois como disse o poeta Lulu, assim caminha a humanidade, com passos de formiga e sem vontade.

Talvez a pior época fosse o verão no Rio Grande do Sul. Nesse tempo ainda não tínhamos uma distribuição de frutas e verduras o ano todo como hoje em dia, então para comer melancia e uva tinha que ser verão. Nessa época do ano eu, meu irmão e meus primos estávamos sempre alertas para que nenhum de nós morresse desavisadamente por ter comido um cacho de uvas depois de uma fatia de melancia. O risco era tão grande que quando meu pai chegava com uvas vindas da parreira do meu avô, as melancias iam para o lixo.

Mas não parava por aí. Minha mãe e suas irmãs juravam que meu avô tinha colocado um pedaço de melancia dentro de um copo de coca-cola, e a melancia tinha virado pedra. Mesmo que a gente repetisse a experiência diversas vezes todos os verões, nunca conseguimos o mesmo resultado, o que me faz imaginar que talvez meu avô Valdomiro fosse uma espécie de alquimista, como o cigano de “Cem dias de solidão”. A gente também não podia cortar cabelo, nem tomar banho depois de comer porque dava congestão. Não podia apontar para estrelas que nascia verruga, especialmente as Três Marias, que muito tempo depois descobri que fazem parte do cinturão de Órion. Não podia tomar café quente no vento porque a boca ficava torta. Não podia usar Havaianas porque separava os dedos. Não podia comer bolo quente porque dava dor de barriga, e nunca entendi a diferença entre a quentura do arroz e a do bolo, mas por certo a lógica não era o forte nas lendas urbanas.

No campo dos apavoramentos sociais tínhamos o “velho do saco”, pessoas que colocavam drogas nas balas e malucos que colocavam gilete em escorregador. Ou seja, não aceite nada de estranhos, não brinque sozinho no parquinho, não se aproxime de mendigos. Hoje as lendas que rondam a internet são mais pesadas: gatos criados dentro de garrafas, roubo de órgãos em festas, amostra de perfume com éter, coisas assim. Em compensação, é muito fácil desmascarar uma lenda urbana, basta ir ao site www.quatrocantos.com.br ou mesmo no Google e está tudo lá, desmistificado.

Não sei se nossas lendas me parecem mais ingênuas agora, mas tenho certeza que foram marcantes para toda minha geração. Algumas dessas coisas se desmascararam pela entrada em nossa família de outras famílias, que traziam suas próprias lendas diferentes das nossas. Mas o fato é que hoje eu bebo iogurte de pêssego sem medo, tomo banho depois que janto, uso Havaianas. Quanto a comer uvas e melancia, bem, sou obrigado a confessar que ainda não tenho coragem. Como dizia Sancho Pança, Yo no creo em bruxas, pero que las hay, las hay!

Já discuti alguns desses temas em outra postagem, se você quiser conhecer, vai lá.
http://ideiasrecicladas2.blogspot.com/2009/10/vou-bem-obrigado.html