quarta-feira, 22 de abril de 2009

Brasília, 49 anos



"De uma cidade, não aproveitamos as suas sete ou setenta e sete maravilhas, mas a resposta que dá às nossas perguntas."
Marco Pólo, por Ítalo Calvino in As cidades invisíveis, 1972

Brasília, 1956 - Eixo Monumental

Brasília, 2009 - Eixo Monumental

Em Brasília, tem-se a sensação de que a cidade está no fundo do mar. Quando se olha para cima se vê um céu de ensurdecedor azul profundo, pincelado por nuvens crocantes de um branco ofuscante. É uma cidade que tem linhas do horizonte. Tênues calmas aconchegantes femininas reconfortantes linhas do horizonte. Numa distância não maior do que trinta quadras, vislumbra-se a geodésica, como uma espinha dorsal, a se curvar contra o azul abobadado. Em seus largos espaços vazios, permeados por cheios planejados, floresce o espaço necessário ao pensamento. Como no amor, as idéias não florescem nos lugares oprimidos. Espalhada com suas asas estendidas, é a idéia que decola, e por isso alça vôo teimosamente na solidão do exercício singular, tal qual seus gramados que morrem e ressuscitam a cada nova estação de chuvas, reafirma-se como as esperanças de um sonho possível.
Brasília bem que poderia ser uma das cidades maravilhosas descritas por Marco Pólo para Kublain Khan se Ítalo Calvino um dia a tivesse conhecido. Como as fantásticas cidades do romance possui um nome de mulher. Tem também os atributos da insurreição da forma, da inovação e da descoberta, do experimento e a leveza — por mais simbólica que seja — de sua brancura sempre jovem.
Nascida de um esforço coletivo e improvável, num país repleto de diferenças regionais entre o litoral e o agreste, corroboradas por uma realidade social díspar, a cidade suplantou as expectativas mais negativas e aconteceu. Brasília consolida-se como o maior esforço de projeto da história da arquitetura contemporânea, baseando-se nos princípios do Racionalismo arquitetônico e recuperando conceitos dispersos do urbanismo espalhados através da história.


Brasília é a tomada de posse de um espaço agreste, é a tomada de posse de um pensamento ufanista, experimento de cidadania, “... Não pretendia competir, e na verdade, não concorro, — apenas me desvencilho de uma solução possível, que não foi procurada mas surgiu, por assim dizer, já pronta (Lúcio Costa) ...”, repleta de singularidade e simbólica, seu símbolo primeiro é a cruz: dois eixos que se cruzam em ângulo reto, alinhavando a estrutura urbana que viria a seguir, traço tão simples e tão corriqueiro, cardus e decamunus maximus do urbanismo romano, risco das fortalezas portuguesas, marca de posse, sinônimo de lugar, adição.
Depois a cidade criou vida própria, teve de suportar militares, oportunistas, playboys e lunáticos, até se reencontrar com os brasileiros outra vez. Conheceu a pobreza, a maior renda per capita do país, uma das maiores do mundo, a desigualdade das cidades satélites. Projetada para 700 mill, tem mais de 2 milhões e meio de habitantes. O sonho cresceu, e por ter sido sonhado para ter autonomia, caminhou sozinho. Mas como todo sonho, entre acertos e erros, Brasília continua me trazendo uma sensação boa. Patrimônio da Humanidade, 21 de abril de 2009, 49 anos.

2 comentários:

Anonymous disse...

seven, compra o livro 'deus não é grande' do hitchens. tô lendo e a cada página lembro de ti. é massa. vai atrás.

abração,

g

cmm disse...

Essa é nossa Brasília!!
Aê Marcelo, quanto tempo hein?? até hoje a gente fala de você, lembrando as aulas de Projeto Arquitetônico!! Quando vc volta hein?? rsrsrsrs
bjs
Cinthia - Unip Brasília