quarta-feira, 8 de abril de 2009

Faxineira, fascinante

Nei Lisboa escreveu uma música que diz que as faxineiras são fascinantes. Como podem ser assim, num instante tão perfeitas, noutro instante tão ruins?. Nunca vi pessoalmente minha faxineira (ou devo dizer, como algumas pessoas social-ironicamente dizem, "secretária"?).
Depois que aluguei o apartamento em BH, conversei com o porteiro e ele me indicou uma pessoa que semanalmente faz limpeza aqui em casa. Como nunca nos encontramos, deixo recados para ela em cima da mesa, ao lado dos reais que representam o valor do trabalho (ou o valor que ela atribui ao trabalho, que para mim é um trabalho quase de valor incalculável). Costumo deixar algumas orientações também, do tipo: "favor limpar a panela que está na geladeira", mas com uma vontade louca de acrescentar:"antes que ela comece a caminhar pela casa" ou "antes que ela coma o iogurte". Não escrevo isto, sempre tenho a aristocrática e odiosa sensação de que meu senso de humor está além do entendimento de garçons, porteiros e faxineiras (nem acredito que escrevi isto). Mas ter uma "secretária" que tem suas próprias concepções de decoração talvez seja o carma para um arquiteto como eu sou. Toda semana os enfeites horrorosos que guardei nos armários quando cheguei no apartamento alugado voltam à tona. Retomam seus lugares. Esse prédio foi um apart-hotel antes de ter as unidades vendidas e alugadas aleatóriamente para pessoas de passagem como eu. Assim, a arrumadeira, agora minha faxineira, obviamente sabe qual é o lugar de cada coisa, e como eu troco as coisas de lugar, ela insiste em que a ordem deve permanecer a mesma, ignorando que eu sou o novo dono, ou temporariamente o dono do lugar. Assim, um vaso triangular e hediondo retorna para a mesa da sala toda quarta-feira, meu cavaquinho é enfurnado no armário, um conjunto de baianinhas retorna do além-fundo do armário e toma de assalto o espaço ao lado da TV, onde meu Wii é retirado e substituído por dois pinguins feitos de cabaça (cuia para os gaúchos). Minhas roupas sujas são cuidadosamente dobradas e misturadas com as limpas, ignorando a ordem em que as deixei, se estão fora do armário, é porque estão sujas. Minha lógica arcaica não funciona com ela. Na cozinha é o mesmo. Nojento como sou, separei alguma louça que uso cotidianamente. É incrível como um homem só é capaz de se alimentar relativamente bem com um garfo, uma faca, um copo e um prato raso. Ela insite em devolver ao armário tudo que uso e me obrigar a lavar tudo outa vez antes de usar na próxima refeição. Em compensação, chego em casa com o apartamento limpo, organizado (não à minha maneira, mas, enfim, organizado), com aquele ar de casa nova, o mesmo ar que sentimos depois de um banho e uma roupa confortável, aconchegante e meu. Nesse instante perdôo minha secretária por seus deslizes, até que passe a tarde inteira procurando uma palheta, que estava dentro da gaveta, e a gaveta, dentro do congelador.

Um comentário:

Anonymous disse...

Marcelo só vc mesmo.