No dia em que completei muitos anos de idade, tive uma festa hispano-brasileira. Meus bons amigos brasileiros Rafa e Lu; mais a Aline, o Antonio Amado e o Manel (de La Coruña) estavam comigo tomando umas caipirinhas na noite do dia 20 de junho. Amado e Manel trouxeram na bagagem outros sete novos amigos da Espanha, professores, arquitetos como eu, que me fazem acreditar ainda mais que a distância e as diferenças culturais são mero acaso, barreiras muito frágeis que podem ser vencidas com a facilidade de um sorriso cordial. Na festa com direito a "parabéns a você" bilíngue (uma rodada de cumpleaños felices num coral de espanhóis) nos conhecemos e entendemos como se fossemos antigos amigos, e tive mesmo a sensação de que um dia nossos territórios não estiveram separados pelo mar, assim como nossas crenças de uma arquitetura social, bela e justa compartilhavam o mesmo espaço. Nos dias seguintes passeamos por Brasília, nessa encantadora cidade planejada, vivenciando espaços e discutindo idéias de arquitetura e da vida, do modo como sempre achei que deveria ser a arquitetura: uma sifonia visual sobre uma pauta intencional, tocada pela vida cotidiana.
Visitamos as obras de Oscar, implantadas no enorme jardim urbano de Lúcio, e foi divertido ver arquitetos de uma formação cultural tão distinta da minha vivenciarem as mesmas sensações que sempre tenho diante das surpresas causadas pelo patrimônio brasileiro. A escala da catedral e sua luz; o espaço fluído do novo museu, com suas pequenas surpresas e as sombras da rampa externa projetadas na cúpula; a brancura da Praça dos Três Poderes; a escuridão do Memorial JK, com sua luz vermelha incandescente, a sombra aconchegante das superquadras, as visuais infinitas onde quase se percebe a geodésica onde chão e céu se encontram. Foi legal perceber o espanto nos artifícios arquitetônicos de Oscar, forçando as perspectivas mais bonitas, derretendo elementos rígidos em curvas sedutoras, trocando cores e aplicando tecidos brilhantes onde deveria haver mármore, granito ou concreto, como na Sala de Jantar do Palácio Itamaraty.
Um comentário:
Querido Marcelo, Cervantes decía que la gracia que no le quiso dar el cielo fue la escritura. Colmo de auto crítica. Tu blog es una delicia llena de inteligencia. En este texto tan bonito y tan emocionante, más para los protagonistas, defines arquitectura y describes la obra de Oscar de forma sublime. Dices que no eres periodista, mas eres un gran escritor. Apertas LW
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