sábado, 24 de outubro de 2009

O buraco negro lá em casa

Isaac Newton formulou a Lei da Gravidade. Basicamente disse que uma coisa muito grande atrai outras coisas menores. Mas foi Einstein quem me explicou que o Universo é como um colchão macio. Se você colocar bolas pesadas em cima dele e depois largar bolinhas menores, as menores vão rolar na direção das maiores. As coisas que vemos são resultado da luz que reflete nelas e volta para nossos olhos. Um Buraco Negro é uma coisa que existe no Universo e é tão grande que atrai todas as outras coisas que existem ao seu redor, inclusive a luz, e por isso não conseguimos ver eles (mais ou menos...porque o Hubble é meio como o Google e 'tudo vê'). Lá em casa tem um Buraco Negro.
Não que isso seja um privilégio meu, toda casa que se preze tem o seu. É aquele lugar que atrai todas as coisas que não tem utilidade nenhuma, mas que sempre guardamos. Quando eu comecei a trabalhar recebíamos documentos das operações de câmbio fechadas com importadores e exportadores. De vez em quando chegava um papel que ninguém sabia o que era e colocávamos ele numa gaveta que apelidamos de 'bota fora mas não rasga'. Foi meu primeiro Buraco Negro profissional. Muitos outros vieram em seguida, mas o lá de casa continua sendo o mais bem elaborado de todos.

Nesse fenômeno da vida doméstica cotidiana é possível encontrar de tudo. Ali tem uma caneta que não escreve, incenso, cartões de visita, baralho, fio dental, contas pagas no débito automático, cartões de embarque, um extrator de grampos, uma caixa de balas de goma que comprei na ONU. Tem negativos de fotografia, duas cartelas de Neosaldina, um crachá de congresso, oitenta centavos de Euro, um cubo de acrílico com Jesus dentro (?), um rolo de filme para máquina fotográfica, agenda telefônica de bolso, mais contas pagas. Um pacote de lenços de papel inutilizados pelo cheiro do incenso, duas pilhas, fita crepe, uma máscara contra gripe, carregador de celular para carro, quatro chaves de fenda muito pequenas. Tem também sobras de algum evento como lembrancinha do primeiro aniversário de não-sei-quem, um adaptador de tomada, um pedaço de fita de presente, CD gravado e a carteira de vacinação do meu cachorro Frank. Moedas, lápis, caixinha vazia. Lindo, um pequeno universo em formação. Se Tom Hanks tivesse ficado preso na ilha do Náufrago com meu Buraco Negro, ia viver muito melhor.
Agora comecei meu projeto pessoal individual de Buraco Negro em uma pequena gavetinha de minha escrivaninha na sala. Por enquanto está apenas começando, mas antevejo que em breve terá vida própria, meu pequeno buraquinho se tornando um terrível sugador de coisas sem utilidade. Mal posso esperar. O Universo também é aqui!

Um comentário:

santigonzalz disse...

Todos tenemos agujeros negros que son imposibles de vaciar, es como si te resistieses a borrar los trozos de la memoria que arrastra cada objeto. A pesar de todo haces un esfuerzo y en un intento de ordenar el presente, desordenas tu pasado lo tiras a una papelera de reciclaje, con la inconsciencia de no poderlo volver recuperar.
Un placer leer tu Blog Marcelo.