terça-feira, 10 de junho de 2008

O Telectroscope

Há alguns anos atrás o artista plástico Paul St George encontrou no sótão da casa de sua avó um conjunto de plantas que explicavam um curioso mecanismo datado do final do século XIX. Tratava-se do Telectroscope, um gigantesco tubo submarino capaz de trasmitir imagens entre Londres e Nova Iorque por meio de uma complexa trama de espelhos. Segundo Paul, seu bisavô, o engenheiro Alexander Stanhope St George teria inventado o mecanismo e gastou toda sua fortuna tentando colocá-lo em prática. Depois de sua morte em estado de insanidade, a criação foi perdida para sempre. Somente após quase um século esquecido em meio a memórias de família abandonadas, as plantas originais foram reencontradas por Paul que iniciou sua empreitada para trazer à vida o sonho do bisavô.


Esta é a história de fundo para a montagem do artista plástico Paul ST George que visitei sob a Brooklyn Bridge em um sábado muito quente. A instalação é uma viagem. Segundo Paul, antigas tubulações que serviam de abrigo para cabos de transmissão por telégrafo abandonadas foram arrendadas para que o telescópio pudesse ser criado nos dias de hoje. O Telectroscope, instalado simultaneamente sob a Ponte do Brooklyn em Brooklyn Heights e sob a Ponte de Londres na Inglaterra, permite que pessoas nas duas cidades possam se ver simultaneamente em tempo real e compartilhar a experiência ao mesmo tempo. O material promocional da instalação é uma espécie de cartaz antigo, cujo slogan é "Quem você vai encontrar do outro lado?"


Mesmo que a fábula contemporânea criada pelo artista plástico seja improvável, o Telectroscope é uma atração divertida, e as pessoas parecem entrar na brincadeira. A gente para em frente ao grande tubo de mais de dois metros de diâmetro e espia para o outro lado. Do lado de lá, em Londres, as pessoas espiam a gente… Não é farsa não, tem gente lá mesmo. As reações variam de pessoa para pessoa e eu, particularmente, achei muito legal. A galera abana ou fica só olhando, como se as pessoas do outro lado estivessem na Lua. O que acontece bastante é que os caras marcam encontro com familiares ou amigos distantes e ficam se falando por telefone celular e se vendo de corpo inteiro. Mesmo numa época em que a transmissão de imagem e som é tão comum através da internet, o Telectroscope encanta pela ingenuidade. Vi uma menina segurando uma placa onde estava escrito Siôn, I love you, parada em frente ao tubo sem dizer uma palavra, enquanto uma lágrima escorria pelo rosto. Do outro lado um cara chamado Siôn segurava outra placa e respondia com o mesmo olhar apaixonado, Me too (eu também). Vi um cara de Londres escrever na placa que estava fazendo aniversário, e várias pessoas do lado de cá escreveram Happy Birthday, o cara ficou superfeliz e saiu pulando lá em Londres. Plaquinhas escrito Miss You (sinto sua falta) tornaram-se comuns na paisagem do píer em Brooklyn Heights em frente à gigantesca lente e o tubo dourado com design clássico do final dos século XIX, mais parecendo uma peça retirada de algum livro de Julio Verne. Criativo e ingênuo, a proposta do Telectroscope não se importa em ser somente uma promessa falsa que traz uma realidade aparente, ela cativa e diverte simplesmente por colocar pessoas diante de pessoas esquecendo que existe um oceano entre nós.
Acreditar é assim!

Um comentário:

Anonymous disse...

seven, tu não viu o zubaran do outro lado? ahahahahah!
g