sexta-feira, 20 de junho de 2008

Robie House

Fui à Robie House, uma das Prairie Houses mais conhecidas. Lá me impressionei com o trabalho de tijolo e como Wright ordenou que as juntas verticais fossem feitas com argamassa com corante de pó de tijolo, a fim de que as linhas horizontais da casa se sobressaíssem aumentando o efeito da horizontalidade. Algumas das suas criações se repetem com maturidade na Robie, completada em 1910. Volumes avançados e espaços dentro de espaços. As cadeiras de espaldar alto ao estilo Mackintosh formam uma amurada ao redor da mesa de jantar, desníveis marcam o local de encontro ao redor da lareira, o ambiente de estar é voltado para a visual das pradarias (hoje tomadas por prédios da Universidade). Wright criou para si mesmo o logotipo do círculo e o quadrado e reproduziu essa imagem em todos seus projetos de alguma forma. Na Robie House são as jarnineiras da entrada principal. Quando se está dentro da casa é que se percebe que ela não é contemporânea. O mobiliário e a decoração são do início do século XX, quando a eletricidade recém estava chegando, os automóveis eram um luxo (Robie tinha 2!), algumas divisões internas eram feitas com cortinas, e a estética dominante eram os modelos rebuscados da França. O hall de acesso é como uma casa de vó, com retratos amarelados nas paredes, sancas de gesso em desenhos que reproduzem frisos gregos, um verde pesado nas paredes salpicado com pequenos desenhos feitos com estêncil. É proibido fotografar.






Mas, de repente, a Robie se transforma numa casa do século XX recém inaugurado e avança em conceitos espaciais e formais. Pelo lado de fora, espetacular, parece uma linha do horizonte em tijolos, uma peça rara da arquitetura histórica, um retrato sólido do talento do arquiteto da América. As esquadrias tem um ar de novidade, bem ao Art Nouveau que chegava, um protomoderno (como diria Soraluce) indiscutível. Wright sabia para onde estava indo, estava caminhando lentamente na construção de uma identidade. Naquele mágico instante em que entrei na casa, parecia que voltava ao século XIX, mas alguns degraus depois estávamos outra vez nos salões repletos de mulheres fumando, com o barulho dos novos motores na rua e o som do jazz negro avançando sobre os brancos novos ricos na região dos Grandes Lagos.

Infelizmente a Robie estava em restauro e não era permitido fotografar, mas ficaram na memória cada detalhe, cada ambiente, cada parede descascada. Dizem que as paredes não tem ouvidos e nem podem falar, mas os sussuros que os tijolos vermelhos de Wright sopraram, me fizeram entender um pouco mais de seu talento e seu espírito inovador, nas pedras vermelhas da Robie, mais uma vez pelas mãos de Wright, reencontrei o sentido da arquitetura.

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