domingo, 1 de março de 2009

RIO DE JANEIRO - I

Em 1968, (durante a ditadura militar que arrasou o Brasil) Gilberto Gil e Caetano Veloso foram presos após o Natal vítimas do AI5. Liberados só depois do Carnaval, na quarta-feira de Cinzas, Gil viu o Rio de Janeiro ainda enfeitado com motivos carnavalescos e escreveu: "O Rio de Janeiro continua lindo".
O tempo passou, e Gil ainda tem razão. O Rio de sambas e batucadas, dos malandros e mulatas, de requebros febris, da desigualdade social, dos meninos de rua dormindo espatifados na calçada como frutas caídas aos pés da sociedade organizada. O Rio das favelas e senhoras repuxadas de Copacabana, da mistura democrática da praia, do cheiro de urina e gás, do biscoito Globo e do Mate Leão. Das AR15 e do Bope. Do metro quadrado mais caro do mundo, e da vista da favela do Vidigal acendendo o morro Dois Irmãos. Do caos da Maré, do conforto de Botafogo, dos famosos na Barra, dos congestionamentos da Linha Amarela. Do Túnel Rebouças - escolhido para separar as classes -, e do Cristo de braços abertos - escolhido para reunir as classes. Toda vez, o Rio me fascina. Saio de lá com a sensação estranha de que deveria ficar, coisa que sinto por pouquíssimos lugares. Talvez sejam os bares da praia, ou os bares longe da praia, de onde se pode sentir o cheiro do mar. Ou os bares da Lapa, ressonando e fervilhando o samba, e o Rap, o Funk, o House e todos os ritmos numa mistura ardente e pecaminosa. Talvez seja porque lá, como no samba da Mangueira, me sinto povo, raça, missigenação; crioulo, caboclo, retrato mestiço de fato. No Rio de Janeiro, me sinto brasileiro, graças a Deus!

Um comentário:

Viviane Viana disse...

Entendo bem o que é isso, como entendo... Imagina como é pra mim, que sou de lá?