quarta-feira, 30 de abril de 2008

Chinatown

Domingo foi dia de Chinatown. Saí de metrô e desci no coração do bairro étnico oriental mais famoso do mundo. Letreiros em chinês me receberam, e a confusão, barulho e mistura de cheiros que havíamos sentido semanas atrás quando desembarcamos ali perto por engano era a mesma. A idéia era visistar alguns pontos mais clássicos e dar uma volta pelas redondezas para sentir o clima das diferenças. A primeira parada deveria ser o templo budista Mahayana Buddihist Temple, mas o mapa que levamos estava um pouco confuso e acabamos perdendo a noção do lugar. Depois de muitas voltas acabamos descobrindo que o templo era exatamente onde nós desembarcamos...amadorismo.



Apesar do vermelho e dourado predominantes e da pouca luz, internamente um ambiente muito descontraído que contrastava com a austeridade dos leões dourados contra o fundo vermelho da fachada. Um Buda gigantesco tomava o centro das atenções, rodeado por flores e oferendas de frutas, o que nos fez pensar que no final das contas todas as religiões são a mesma. Vimos orientais chegando e fazendo reverências ao Buda, três flexões com a cabeça, três bastões de incenso acesos. Pessoas ajoelhadas dando graças ou pedindo, e quando pedi para tirar fotos o encarregado respondeu sorridente com um No problem com sotaque oriental.

Antes de chegarmos de volta ao templo, nos perdemos pelas ruelas intricandas de Chinatown. Lojas com produtos na rua e muitas, muitas pessoas se acotovelando na manhã gelada de New York. Toda a sinalização é escrita em chinês, mas em muitos locais é acompanhada em inglês. Os cheiros de incenso, azeite, fritura e perfume se misturam porque uma loja pode vender roupas, peixe cru, peixe vivo e remédios. Patos assados ou um bicho que não sabemos o que é ficam dependurados nas vitrines, aparentemente uma especiaria, mas longe da idéia de algo saboroso para um pobre ocidental criado em Porto Alegre. A gordura escorre pelo vidro.




Descemos até um templo cristão, a Church of the Transfiguration com seu teto de cobre esverdeado, incrustrada em pleno bairro budista. Entramos cuidadosamente, desconfiados. Lá dentro, em meio a um cheiro ardente de incenso oriental um padre pregava em chinês para uma dúzia de chineses cristãos. Uma música oriental em instrumentos de corda dava o clima de filme trash, e fotografias de um monge enchiam as paredes ao redor de sua própria imagem em tamanho natural. Muito estranho. Saímos dali em silêncio para entrar numa loja de especiarias em comida. Estômago de peixe seco inflado como um balão era a coisa mais conhecida que encontramos. No mais havia barbatanas, rabos e gosmas, bolas, caroços, geléias pretas e roxas em vidros repletos de líquidos, que mais pareciam um museu de ciências de colégio do que uma loja de gourmet. Diferanças totalmente culturais.


Depois entramos em algumas lojas de presentes, compramos umas coisinhas para lembrar de tudo isso e na saideira demos de cara com uma peixaria que vendia peixe morto e peixe vivo, assim como lagosta, camarão, ostras e outras conchinhas andando em aquários azulados com um calendário da miss universo como decoração de fundo. Mas o mais impressionante foi uma coisa meio bege, cor de gordura e forma de feijão, do tamanho de um mamão papaya, enrrolada em um saco plástico ao lado dos peixes mortos, com linhas vermelhas e pretas, que chamou nossa atenção. Ficamos os dois em silêncio por uns instantes olhando aquilo enquanto parecia que Chinatown havia parado. Não dava para saber o que era de tão estranho. Passados alguns segundos nos viramos e voltamos a caminhar, ainda num silêncio contemplativo, que só foi quebrado quando eu consegui discursar filosoficamente propondo que mantivéssemos o silêncio por mais alguns minutos em respeito àquela coisa estranha que podia ser qualquer coisa.
De volta para casa comecei a sentir uma coceirinha na gaganta, e a gripe que se seguiu segunda-feira para mim só pode ter sido resultado daquela loucura urbana que é Chinatown, superpopulosa e frenética mistura de todas as coisas num espaço disputado, caótico que sobrecarrega os sentidos, mas que vale a pena ser visitado pelo menos uma vez na vida.




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