sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Dubai - Complexo Madinat Jumeirah

No mesmo dia em que eu cheguei, quis conhecer um dos cartões postais mais famosos do mundo, o edifício Burj Al Arab na praia de Jumeirah, aquele em forma de vela. Jumeirah (leia Jumíra) é uma grande região da orla de Dubai. Ali um grupo empresarial com esse mesmo nome instalou alguns dos maiores conjuntos turísticos da cidade (o Hotel Jumeirah, o Burj Al Arab, o Wild Wadi Water Park e o complexo Madinat). Ouvi dizer que o Grupo Jumeirah é do Sheik, mas não sei se isso é verdade.
 

Bem, peguei um táxi e descobri que os táxis são muito baratos. Nossa moeda estava valorizada e valia o dobro dos Dirhans, uma beleza, considerando que a viagem de táxi do hotel até o Madinat custou menos de dez reais (de 3 a 4 quilometros). De cara tive uma surpresa agradável e impressionante. O Madinat é um grande centro de compras, hospedagem, restaurantes, lojas, bares, convenções e teatro. Construído com base na antiga arquitetura local, que utilizava pó de coral e areia, a sensação que se tem é de estar em uma cidade cenográfica na Disney, só que neste caso é uma cidade real, um complexo comercial, uma espécie de shopping center arábico.
No centro do Complexo Madinat existe um curso d´água por onde se pode andar de barco e se deslocar de uma ponta para a outra. Na sua orla ficam os bares e restaurantes, e numa noite seguinte voltei lá para fumar sisha (narguile) jogado nos almofadões de couro sob palmeiras. No Complexo existe um mercado (souk) que vende produtos árabes de diversas naturezas. Muitas lojas de tapetes, perfumes, souvenires e luminárias abrigadas em uma estrutura muito bem acabada em madeira. Logo que a gente entra se sente transportado para o oriente, uma sensação muito interessante e que eu voltaria a sentir muitas outras vezes.
















Neste local tirei algumas fotos, sempre impressionado pela qualidade espacial e pelas referências, pela habilidade de compor cenograficamente com elementos misturdos de arquiteturas diferentes. Na Dubai antiga, os prédios possuíam o que eles chamam e wind towers (torres de vento), uma espécie de torre com aberturas verticais estruturada em toras de madeira que capturava o ar sobre os telhados planos e canalizava para o interior das casas. Em Jumeirah tive meu primeiro contato com essa belíssima e emblemática estrutura, lá também tive o primeiro contato com o contraste entre a arquitetura local revisitada e a arquitetura high tech dos novos prédios. A imagem do Burj Al Arab em segundo plano sobre o complexo de linguagem antiga é uma imagem qe vou guardar para sempre comigo. Acho quefoi a primeira vez que achei que um neo pode ser algo interessante.

Muito bom, misturar é Dubai!

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Dubai 01

Esclarecimento: Antes de mais nada, desculpem a falsa propaganda. Não consegui postar em Dubai porque o blogspot (e outros sites de blogs), o tumblr, o facebook e o orkut são sites controlados e é bem difícil acessar. Vou me redimindo aos poucos para registrar as coisas que vi.

Depois de 18 horas de viagem (sem contar uma espera de 13 horas em Johanesburgo) eis aqui Dubai.Cheguei no amanhecer, e de cara me deparei com  o sol do nascendo sobre o Deserto da Arábia. Nem dava para acreditar. Sempre sonhei em visitar este lugar, e de repente, estava lá de verdade.
De dentro do ônibus que me levava até o hotel comecei a ver ao vivo os ícones da arquitetura que tantas vezes vemos pela internet. Aos poucos eles iam surgindo, um a um, sem me dar tempo para respirar ou ajustar a velocidade do obturador: Emirates Towers, Burj Khalifa (o prédio mais alto do mundo), Burj Al Arab (o hotel em forma de vela), Jumeirah Hotel (em forma de onda), as estações de metrô, os arranha céus, as mesquitas, centenas de placas escritas em árabe.

Confesso que eu esperava uma cidade totalmente ocidentalizada, mas de cara deu para perceber que muito da tradição da arquitetura local foi preservada, além da indescritível areia espalhada por todos os cantos.

Dubai é uma cidade de circulação fácil, espalhada ao longo da orla do Golfo Pérsico e do Creek (um braço de mar que entra pelas terras áridas em direção ao deserto), tem uma grande inclinação à horizontalidade, mantendo os edifícios altos em áreas concentradas, especificamente as denominadas de Dubai Marina, Sheik Zayed Road (leia sheik Said), Financial Center e o lado oeste do Creek.

 

Dubai é uma cidade de circulação fácil, espalhada ao longo da orla do Golfo Pérsico e do Creek (um braço de mar que entra pelas terras áridas em direção ao deserto), tem uma grande inclinação à horizontalidade, mantendo os edifícios altos em áreas concentradas, especificamente as denominadas de Dubai Marina, Sheik Zayed Road (leia sheik Said), Financial Center e o lado oeste do Creek.

No dia em que cheguei saí para conhecer poucas coisas, o fuso de seis horas me derrubou por volta do meio dia, mas me recuperei bem à tarde. Meu hotel estava próximo do maior shopping center fora da América do Norte, o Mall of the Emirates, que inclui além de uma estação do metrô uma pista de esqui com neve artificial, um pouco longe da cidade antiga e do núcleo de edificações da Sheik Zayed, mas ainda assim em um local estratégico de onde era possível sair com tranquilidade para todos os lugares interessantes.
   

Depois de todos os impactos culturais da chegada, com direito a burcas e kandurahs com gutha vermelha e branca e agal (tudo bem, estou me exibindo, mais na frente explico o que é isso), fui direto para o complexo Madinat Jumeirah (leia Madiná Jumira), ao lado do prédio em forma de vela que deu fama à arquittura de Dubai. Lá tive uma das maiores surpresas arquitetônicas da minha vida, mas isso fica para outra postagem, por enquanto só queria dizer que fui e voltei.



 
Dubai e lá!


segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Dubai? Eu bou!

Depois de idas e vindas, acabei decidindo ir mesmo a Dubai nas minhas férias. Tudo bem que a coincidência de o Internacional ir lá disputar o Campeonato Mundial Interclubes da Fifa fez alguma diferença, mas não é o motivo principal, é uma espécie de faísca numa montanha de pólvora.

Sempre tive curiosidade de visitar o Oriente e esta vai ser minha chance de começar a explorar o outro lado do mundo. Todo mundo me pergunta "Por que Dubai?", e a resposta é simples: é um lugar onde o Ocidente e Oriente podem conviver, daí que é como começar a viajar para a Europa entrando por Portugal, tudo fica mais fácil. De verdade, não sei se vai ser fácil assim como estou pensando, mas também não acho que possa ser uma coisa do outro mundo. Vamos ver se consigo postar alguma coisa de lá...a cidade é bem espalhada, e pelo que eu me conheço, vou caminhar muito (outra vez), mas assunto garanto que não vai faltar, serão 12 dias de Oriente Médio. Só de pensar que vou estar no Golfo Pérsico, ao lado do Irã, Iraque e Arábia Saudita já dá uma emoção. Talvez isto não seja assim tão emocionante, mas quero curtir essa viagem pensando nisso. Além do mais, o mundo árabe sempre tem um certo mistério, mesmo diante do high-tech de Dubai, nunca vi um deserto na minha vida, e vou começar direto pelo mais clássico da literatura, o Deserto da Arábia, quer coisa melhor?

Minha viagem começa dia 9 de dezembro, quarta-feira. Então, se você quer saber um pouco mais do que vai acontecer, siga o Ideias Recicladas (em breve também no Tumblr) e vamos nos divertindo.

Sobre a piada do título, substitua o D por T e o B por V...Tuvai? Eu vou!, sacou ou quer que eu desenhe?

Dubai vai ser aqui!

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Os lençóis do Nobel

Alfred Nobel
http://mrullom.pbworks.com/Archives

"No dia em que exércitos inimigos possam aniquilar-se em um segundo, todas as nações civilizadas evitarão a guerra e desmobilizarão seus soldados. Por isso, minhas fábricas podem pôr termo à guerra mais rapidamente que seus congressos pela paz."

Alfred Nobel em carta para uma condessa pacifista de nome Bertha

Alfred Nobel nasceu em 1833 e não teve uma educação formal. Foi educado por professores em casa, mas mesmo assim se revelou um homem de grande visão. Sua família fabricava minas de guerra para abastecer o crescente mercado da Rússia. Quando as guerras escassearam e a família abriu falência, Alfred nasceu. Exímio em química, aos 30 anos conseguiu sua primeira patente para um detonador, aos 31 seu irmão morreu numa explosão quando fabricavam nitroglicerina, e aos 33 anos inventou a Dinamite. Ficou multimilionário fabricando canhões, granadas, minas terrestres e fuzis para o exército russo - mais de 500 mil! Não bastasse, encontrou óleo à flor da terra no Mar Cáspio e tornou-se um dos maiores magnatas de petróleo do mundo. Apaixonado por uma condessa pacifista de nome Bertha, com quem jamais se casaria, incluiu em seu testamento um prêmio dedicado aqueles que promovem a paz mundial.

Colocando o lençol na minha cama, aquele que tem elásticos, cheguei a conclusão de que Alfred Nobel deveria ter instituído também um prêmio Nobel para as Utilidades Domésticas. Quando eu era criança não existia Cama Box, ou se existia estava fora dos planos da minha família. Enfiar o lençol entre a armação da cama e o colchão era uma tarefa árdua, ainda mais para quem sempre roeu as unhas. Com os lençóis de elástico, o mundo doméstico foi domesticado. A gente pode se virar à vontade que ele nunca sai do lugar, basta uma esticadinha, e pronto!

Mas não é só isso. Pense em uma panela em que as coisas que a gente cozinha não grudam. Resolvi comprar umas panelas de Inox para mim, para me sentir mais chef e menos cozinheiro de passagem, mas não deu certo. Cozinhar até que vai bem, mas lavar...não tem cabimento, tudo grudado, crostas, queima no fundo. As panelas de T-fal, ou com revestimento em Teflon, são outra utilidade doméstica que merece um Nobel. Já que estamos falando de inventores, quem inventou a panela T-fal foi a empresa Tefal, norteamericana. Já o Teflon (inventado pela DuPont), é um polímero cujo nome verdadeiro é Politetrafluoretileno, considerado o material com menor atrito do mundo. Não se preocupe, mesmo com esse nome feio dizem que não faz mal à saúde.

Depois vem o papel higiênico. Nem preciso comentar...com pouco esforço (intelectual) já dá para imaginar sua vida sem ele. Basta um dia em que o papel acabou e não tem nenhum à mão para você ir direto do vaso sanitário (aliás, outra ótima idéia) para o chuveiro. Dizem que no oriente os caras usavam folhas de alface para essa mesma função. Eu, que já não gosto de salada, ia ter maior dificuldade em enfrentar uma folha no meu prato. A invenção do papel higiênico é atribuída a Joseph Gayetty nos Estados Unidos, mas quem realmente popularizou o papel higiênico transformando-o em rolos foram os irmãos Edward e Clarence Scott, o nome Scott lhe parece familiar?

Seguindo, pensei no controle remoto. Olha que maravilha! pouco necessário, mas muito prático, exceto quando desaparece. Dependendo da sua idade você vai lembrar que a gente tinha que levantar da cadeira para abaixar o som, trocar de canal e regular "a vertical", quando a imagem da televisão começava a correr verticalmente em listras horizontais pretas. Até o meio dos anos 70 as crianças eram o controle remoto. Lembrou? Na minha casa tinha uma TV com controle remoto, uma modernidade sem precedentes, devia ser nos anos 60 porque eu era muito pequeno. O controle parecia uma caixa do tamanho de uma barra de sabão grande, e certa vez o filho de um amigo do meu pai esculhambou com o controle de tanto trocar de canal. O mais legal é que nossa TV trocava de canal se alguém sacudisse um molho de chaves perto dela. Agora fico sentado na cama, três controles na mão, só zapeando e tirando o som nos comerciais. Nobel ia gostar de ver isso.

Eu podia ficar dias aqui falando sobre essas coisas fantásticas que entram na nossa vida sem pedir licença, que se popularizam de uma hora para outra e inovam em todos os sentidos, nos dando uma vida mais tranquila e um cotidiano mais domesticado, mas como estamos falando em coisas criativas, vou deixar sua imaginação voar solta e eleger seus próprios preferidos. Gaste alguns minutos com suas utilidades domésticas e dedique um Prêmio Nobel para os inventores anônimos que simplificam nosso dia a dia.

Imaginar é o negócio!

sábado, 21 de agosto de 2010

Privacidade, Andy Warhol, George Orwell e o Facebook

Na fila do caixa eletrônico, uma camerazinha no teto fica me olhando. No cruzamento de duas avenidas, uma câmera chamada Domus filma os infratores em 360 graus. No meu blog (este) entra quem quer e lê sobre a minha vida, escreve o que quiser nos comentários e vai embora. Pelo Google, mesmo que eu não queira, colocando meu nome aparecem X citações. Onde foi parar a tal privacidade?

George Orwell em "1984" (escrito em 1949!) já tratava da privacidade como um tema que seria crítico no futuro. O tal "Grande Irmão" (Big Brother, em inglês, de onde saiu o nome do programa que assombra a TV brasileira todos os verões) ficava observando todas as pessoas do planeta o tempo todo em grandes telas que diziam: "The Big Brother is watching you", algo do tipo, O Grande Irmão está de olho em você, ou coisa parecida. Ainda não chegamos lá, mas estamos no caminho.

Depois foi a vez de The Judge (O Juiz) com Stallone, um megadetetive hiperviolento que é descongelado para perseguir um serial killer em um mundo do futuro onde tudo funciona, e as pessoas são vigiadas o tempo todo por câmeras e dispositivos que, inclusive, emitem multas quando o cara fala um palavrão.

Andy Warhol falou que  "um dia, todos terão direito a 15 minutos de fama", mas alguns filósofos contemporâneos já falam que "um dia, todos terão direito a 15 minutos de privacidade". É verdade que Warhol estava se referindo às celebridades instantâneas que estavam surgindo nos anos 60 e como a exposição pública se tornara uma meta de todos.

Atualmente cada compra que realizamos com cartão de crédito gera um banco de dados a nosso respeito. Não só informações básicas sobre onde moramos, qual banco utilizamos, nossa idade ou o número do cartão, mas informações sobre o que compramos, com que frequência, em que área física da cidade, em qual valor. Isso é uma importante ferramenta de mercado para quem que ir a fundo na pesquisa de clientes e buscar novos mercados ou mercados customizados.

Hoje o conceito de privacidade começa a mudar radicalmente. Já que estamos todos expostos, resta agora controlar o que pode e o que não pode ser exposto sobre nós. Matt Cohler, chefe da estratégia do Facebook (criado por Mark Zuckerberg), a maior rede de relacionamentos do mundo, explica que no passado privacidade era estar totalmente oculto ou totalmente visível das outras pessoas. Privado estava relacionado a segredo. Segundo Cohler, nos novos tempos, Privado não tem mais siginificado público versus oculto, mas sim quais informações quero compartilhar e com quem quero compartilhar. Dessa forma o Privado como a gente conhecia, secreto e pessoal, desaparece, e tudo que vamos ter serão níveis de acesso a nossas informações pessoais definidos por nós mesmos. Uma espécie de linha imaginária entre o que é nosso e de nossos amigos e o que é do mundo. Privado desaparece e surge o Nível de Compartilhado.

Depois disso tudo, acho que dá para dizer que a privacidade acabou, somos todos interligados, bem ao estilo de Hemingway, que tantas vezes citei aqui. Cada vez mais convergimos para uma visão familiar da humanidade, e as vezes tenho a sensação que estamos voltando para trás na genealogia da espécie, nos transformando em um único homem universal e uma única mulher universal. Adão e Eva, outra vez.
Privacidade não é aqui.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

RECICLADOS

Me hospedei em um hotel em Brasília. No final do primeiro dia tomei banho, usei uma toalha e fui dormir. No dia seguinte fui trabalhar.

Sustentabilidade é uma palavra da moda e serve para um monte de coisas. Entre elas serve para as empresas dizerem que fazem parte do movimento pelo Planeta, para na verdade não fazerem nada de diferente do que sempre fizeram e não se sentirem mal por isso. Nos hotéis, serve para fazer a gente usar vários dias a mesma toalha. Eu sei que em casa eu também uso a mesma toalha mais de uma vez, mas não é por uma questão ecológica ou sustentável, é porque dá preguiça levar a toalha na lavanderia todos os dias e não tenho lá tantas toalhas assim. Se eu usasse uma por dia teria que lavar minhas cinco toalhas todo sábado, mas no sábado e no domingo ia ter que ficar sem tomar banho, o que  vocês vão entender, não é possível. Mas os hotéis entraram nessa de salvar o planeta não lavando toalhas, e se você estiver a fim de curtir uma de milionário e jogar sua toalha molhada no chão, vai se sentir um irresponsável ecológico.

Engraçado disso é que os mesmos hotéis que pedem para a gente usar a toalha vários dias botam fora o sabonetinho mal e mal usado todo dia. Fiquei muito intrigado com isso. Como que eu não posso usar a toalha uma vez só, mas o sabonetinho que eu me ensaboei uma vez só (duas, de vez em quando, só para passar o tempo no chuveiro) pode ser jogado fora? E olha que eu nem tenho tanta área assim para acabar com um sabonetinho de hotel num banho só. Fiquei pensando por alguns dias em o que os hotéis fazem com aquele resto de sabonete que tiram do quarto da gente. Meu primeiro palpite foi que eles reciclam. Mas reciclar sabonete deve ser muito mais poluente do que lavar toalha, ou será que não?

Bom, fui procurar. A arrumadeira não sabia, o cara da portaria também não, nem o motorista do táxi (em geral eles sabem tudo). O encarregado de serviços gerais não fazia idéia, e o gerente me olhou com uma cara de quem achava que estava sendo filmado por uma camera escondida.  Eu não desisiti, alguém tinha que saber o que fazem com o sabonetinho usado. Imaginei que desmanchassem e fizessem outro sabonetinho, e naquele dia morri de nojo me ensaboando, imaginando quantos outros corpos eu estava passando no meu. Achei engraçado ter nojo do sabonete, um paradoxo. Quem me deu a resposta, obviamente, foi o Google. Pasmem, sabonete usado em hotéis é retransformado em detergente para limpeza em geral.

Fiquei muito animado com a idéia. Além disso, descobri que existe um selo sustentável para hotelaria, e que muitas pousadas já produzem sabonete e sabão a partir do óleo de cozinha utilizado por elas mesmas. Tudo muito legal e ecologicamente correto. De tudo isso, concluí que posso tomar banho e me secar com a mesma toalha várias vezes, e que não preciso ter nojo do sabonetinho do hotel. Agora só restou uma pergunta: se o hotel é mesmo tão preocupado com a sustentabilidade e lavar roupa, será que eles trocam os lençóis depois que a gente dorme lá só uma noite?

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Eles estão entre nós

Geração Y em ação
Se você nasceu depois de 1985, “eles” no título desta postagem se refere a você. Embora existam variações, para efeitos didáticos as gerações se dividem nos baby-boomers, Geração X e Geração Y. Os baby-boomers são representados pelos nascidos após a segunda guerra mundial, e o nome deriva do boom de bebês que nasceram principalmente nos EUA com o retorno das tropas para casa. A partir de 1960 a nova geração é muito mais pragmática. As guerras da Coréia e depois Vietnã, os conflitos raciais, a contracultura são marcas de que o mundo não era exatamente como se esperava após a IIGG. Na sequência, chega a Geração Y. Denominados pela literatura como Geração Digital, Geração Internet ou Geração Y (no sentido de que vem logo após a Geração X), todos são unânimes quando afirmam que coletivamente este é o grupo de pessoas mais inteligente que a humanidade já produziu.

A multiplicidade de informações e a multiplicidade de equipamentos pelos quais se pode acessar, transformar e trocar informações é a principal característica deste novo tempo. No entanto, utilizar esta tecnologia requer o uso de estruturas mentais e maneiras de pensar que as gerações nascidas antes ou durante a transição não são capazes de desenvolver integralmente. Você já parou para pensar em sua geladeira como tecnologia? Ou na TV? Ou no telefone fixo? Nascidos numa época onde estas tecnologias já haviam sido desenvolvidas, a geração X não encontra dificuldades em utilizar estes equipamentos. Por outro lado, as tecnologias ascendentes após seu nascimento, contemporâneas a nós, requerem outras formas de pensar, outras estruturas de raciocínio, outra visão de praticamente tudo que se refere a relacionamentos, interação, presença física e espacialidade.

Este tipo de estrutura intelectual a Geração Y tem de sobra. Em termos de tecnologia aplicada, pela primeira vez na história da humanidade o conhecimento da tecnologia é construído a partir dos filhos para os pais. Os reflexos dessa nova modalidade de formatação do conhecimento familiar vou deixar para discutir em outra postagem.

A Geração Y é multitarefas. Criados sob estímulos múltiplos, são capazes de assistir TV, jogar um game no computador, fazer as tarefas escolares, ouvir música e teclar com os amigos em um chat. Como diz a música dos Titãs, tudo ao mesmo tempo agora. Mais do que isto, não são assistentes passivos da comunicação (como nós fomos em frente à televisão), são interagentes no conteúdo da internet. Customizam um player de música para tocar suas músicas favoritas, escolhem o que querem ler periodicamente como assinantes virtuais, criam perfis em sites de relacionamento e escolhem com quais pessoas querem se relacionar por intermédio de ferramentas de redes sociais, de acordo com suas preferências pessoais reduzindo as barreiras de preconceito. Customizam qualquer equipamento, aprendem sem ler os manuais. São muito mais ativos em termos de participação político-social, exercitam a cultura do fazer até aprender, se expõem mais, são autodidatas ou se educam comunitariamente. Por outro lado a Geração Y também é menos dedicada a compromissos duradouros, mais focada no prazer do que na responsabilidade, menos paciente e mais questionadora. O assunto é amplo para um post só, por isso comecei o que espero que seja uma série sobre a Geração Y. Tem sido um tema que tem chamado a minha atenção e vou compartilhar com vocês o que tenho descoberto. Quem sabe não nos preparamos melhor para nossos filhos e para o mercado de trabalho no futuro? Se você é um Y e teve paciência de ler até aqui, pode aproveitar para conhecer um pouco de você mesmo. Como diz o pórtico de Delfos: Conhece-te a ti mesmo.

domingo, 18 de julho de 2010

As lágrimas de Pelé

Faz algum tempo recebi este recorte de jornal de um amigo na Espanha. Escrito por Inma López Silva (escritora espanhola), no "La voz de la Galícia".

(Pelé) É o tipo que sorriu sempre, ainda sabendo que aos 16 anos perdeu de vez a oportunidade de participar de uma Olimpíada. O mesmo capaz de ser a imagem mundial da disfunção erétil com um sorriso de propaganda de pasta de dentes. Porém, esse Pelé que passeou pelo mundo a negritude orgulhosa, esqueceu sua compostura sorridente no dia em que ouviu o nome do Rio de Janeiro como sede das Olimpíadas de 2016. Nesse dia as lágrimas de Pelé obrigaram-nos a ver que é a primeira vez que não falamos do Brasil como sede de favelas, narcotráfico e golpes de Estado. Rio, como Pelé, Lula e o próprio espírito olímpico, é a imagem de que algo fascinante acontece na América Latina e que não poderá ser detido. Quem esteve no Brasil com a mínima vontade de olhar além do ar tropical, sabe bem o sentido das lágrimas de Pelé: já faz tempo que é imprescindível virar a cabeça para a esquerda dos mapas quando falamos de valores pujantes, de novas formas culturais e, sobretudo, de um verdadeiro dinamismo no pensamento crítico que ultrapassou muitas coisas desta velha, conservadora e católica Europa. Pelo menos o COI deu-nos a lição de modernidade que precisamos de vez em quando...Junto-me com as lágrimas de Pelé e o país mais jovem do mundo, porque, finalmente, demonstrarão que o progresso se escreve com L de Latinoamérica.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Quantos mundos existem?

Somos tantos e tão diferentes, que as vezes fico em dúvida como será que conseguimos viver lado a lado. A infinidade de vivências, de percepções, de existências fazem da vida uma colagem incomparável mesmo entre criaturas nascidas na mesma cultura. Enquanto muçulmanos fundamentalistas atiram pedras em mulheres infiéis, prostíbulos vivem cheios em Porto Alegre. Se os indianos não comem carne de vaca, churrasco é o prato principal de qualquer final de semana em São Paulo.

Existem mundos vistos por tantos olhos que assumem todas as cores, e como diz alguém que eu conheço, de cores que eu nem sei o nome. São mundos vistos por muitos olhares, verdes que veem mundos verdes e imaginários; grandes olhos cor de mel vendo o mundo do topo de tudo em vestidos brancos e salto alto. Transitamos nesses mundos tentando chegar num lugar que nem sabemos onde é, mas que as vezes temos certeza de que está ali, e na maior parte das vezes, realmente está.

Vivemos num mundo de livros de Kafka e de Crepúsculo, de Trance e pagode, de viagens de avião para um casamento numa fazenda e de um show cover dos Beatles. Um mundo cheio de sabores, de bacalhau grelhado, lagostas e McDonalds, um mundo repleto de funcionários públicos e vidas duplas, ao estilo de Twin Peaks, onde nada é o que aparentemente pode ser, mas tudo realmente é o que sentimos.

Nesse múltiplo que nos tornamos, ainda convivemos (graças a Deus) com as diferenças de caminho, com as experiências diferentes entre pessoas que convivem, entre faixas etárias conflitantes e eventualmente convergentes. Convivemos com o amor, com a falta, com a alegria e com a alegria. Usamos muitas roupas, nos encontramos por semelhança, nos perdemos por diferenças. Somos diferentes em tudo, mas somos juntos um só. Como disse Hemingway, cada vez que morre um da Humanidade, é um pouco de mim que morre. Cada vez que salvo um, salvo toda a Humanidade.

Pensei em escrever este post num raro delicioso momento de minha habitual insônia deitado na cama no meio da noite, naqueles dias onde o calor da madrugada nesta época de seca me permite dormir sem camisa, enrolado parcialmente no lençol, pensando em todas as coisas que passaram por mim, e todas as pessoas por quem passei. Foram tantos mundos que se encontraram, como bolhas de sabão que por um instante estão coladas e em outro são somente água e sabão outra vez. Todos somos assim. Todos escrevemos e somos escritos, acho que isso que tanto custamos a entender. O bom é saber que ainda tem muito o que vir por aí. Serão muitos outros posts, muitas outras sensações, muito bacalhau, Trance e Eclipse. E como disse o Lama, a cada ano um novo lugar.

Não sei quanto a vocês, mas viver é bom.

A vida é aqui!

domingo, 11 de julho de 2010

¡Fúria!

Eso no ocurrió en una plaza de toros, tampoco estaba en las Ramblas con Gaudí, o cerca de los molinos de Don Quijote. No era el finestere, o en los caminos que conducen a Santiago. Fue en la cuna de la civilización que la fuerza del fútbol español insistió en proponerse a brillar en la galería de campeones del mundo. Brasil no ha ganado la Copa Mundial de Fútbol, pero nuestros hermanos españoles lo hizieran. ¡Fuerza Furia!, fue el mensaje que envié a todos mis amigos en España después de la derrota del primer partido. Bienvenidos a los campeones del mundo! es lo que los digo ahora. ¡Saludos!


Hoy, el mundo del fútbol es amarillo y rojo.
Nos encontraremos en 2014, bajo la sombra de los "morros" de Río de Janeiro.


¡OLÉ!

*Como dizem os norteamericanos, excuse my french.

Isto não aconteceu em uma Praça de Touros, tão pouco foi nas Ramblas de Gaudí, ou próximo aos moinhos de vento de Dom Quixote. Não foi no finestere, ou nos caminhos que levam a Santiago. Foi no berço da civilização que a força do futebol espanhol insistiu e propôs-se a brilhar na galeria dos campeões do mundo. O Brasil não venceu a Copa, porém nossos irmãos espanhõis o fizeram.  Força Furia!, foi a mensagem que enviei a todos meus amigos da Espanha depois da derrota na primeira partida. Bem vindos Campeões do Mundo! é o que lhes digo agora. Saudações!
Hoje, o mundo do futebol é amarelo e vermelho.
Nos encontraremos em 2014, sob a sombro dos morros no Rio de Janeiro.
OLÉ!

sábado, 3 de julho de 2010

Homo Invisibilis

No MSN tem uma opção onde a gente pode ficar Invisível. Pelas mãos de H.G.Wells ser invisível já rendeu muitas coisas boas na literatura quando um físico se tornou um vilão terrível numa pacata cidade do interior. No seriado de TV (lembra do loirinho com cabelo de Príncipe Valente?) o doutor Daniel Westin se mete em grandes aventuras ficando invisível ao retirar sua pele sintética e sumir no vazio. Depois foi a vez do cinema, um criminoso que aceita participar de uma experiência e implanta uma glândula artificial em seu corpo que o deixa invisível quando o nível de adrenalina sobe...lembram? O cara quase surta. Finalmente em Quarteto Fantástico Susan Storm também tem a habilidade da invisibilidade, pensando no corpaço da Jessica Alba fico imaginando que seria uma tragédia uma mulher dessas ficar invisível.

Na vida real também ficamos invisíveis. Qualquer um de nós experimentou a sensação desconfortável de não existir. Em minha opinião somos todos invisíveis em determinados lugares. As salas de espera de Emergências em hospitais são o principal agente da invisibilidade e em esperas de consultórios isso pode se agravar. Chegamos dez minutos antes do horário marcado de comum acordo entre médico e paciente (talvez por isso o nome seja paciente...), preenchemos a ficha, não pedimos desconto ou fiado. Nos sentamos e a invisibilidade chega. Como era de se esperar, pacientemente esperamos nosso estado de visibilidade voltar ao normal. O médico abre e fecha a porta, mas nunca é a nossa vez. E em determinado atmo de tempo (isso existe?) recuperamos nossa visibilidade e perguntamos quando será nossa vez - ou se vai demorar muito - e logo estamos invisíveis de novo, esperando pelo médico que se atrasou porque a menina gostosa com amostras grátis do laboratório entrou na nossa frente.

Também ficamos invisíveis em restaurantes. Mas aí não é uma habilidade só nossa, os garçons tem seus poderes extraordinários também. Com seu incrível olhar de raio-x eles ultrapassam nossas mãos erguidas, guardanapos agitados, seus ouvidos ignoram nossas palavras de "mestre", "parceiro", "sangue bom", e a invisibilidade toma conta de cada corpo na mesa. Na praça do garçom mau humorado somos nada. Ocupamos um espaço nas cadeiras, mas não podemos ser vistos. A conta não vem nunca, tocada por nós, transformou-se também em invisível. Como se fossemos uma espécie de Rei Midas da imaterialidade, nosso toque tudo faz desaparecer, não estamos mais ali para o garçom que vai e vem hábil entre as mesas com seu olhar selecionador.

Já fui invisível na noite vestido com minha melhor roupa, em bares, boates, no trabalho. Desapareci como todos no ponto de ônibus, na fila do banco, sendo ultrapassado por algum mal educado na fila de qualquer coisa. Me desmaterializei numa reunião onde ninguém me ouvia falar, ou na sala de aula com algum professor desinteressado na faculdade que ignorava nossa presença de alunos.

Mas de tudo, o que mais me assuta é a invisibilidade social. Caminhamos pelas ruas das grandes cidades olhando para o vazio. Passamos por esfomeados, desiludidos, desamparados, mas não vemos nada. A miséria humana se tornou invisível aos nossos olhos. Não temos mais coração frágil para crianças abandonadas, ou velhos sem teto, mendigos imundos, meninas perdidas. Os invisíveis sociais não demandam nada. São simplesmente olhos que nos seguem da sombra da transparência urbana, pedindo quase nada, equilibrados no fio da navalha entre a sociedade e o vazio do mundo material. Até quando vamos continuar fingindo que eles não existem não sei, mas tenho certeza que a luta pela erradicação da pobreza e miséria precisam continuar neste país. Avançamos bastante, mas ainda há muito a fazer. Nós brasileiros fomos invisíveis aos governos que se passaram e finalmente agora vamos recuperando nossa materialidade aos poucos.

Como H.G.Wells ou Susan Storm ou o Doutor Daniel Westin, talvez um dia a invisibilidade possa ser controlada. Melhor se juntos a tornarmos desnecessária. No final das contas, espero que eu não me torne invisível com esta postagem no mar infindável de textos da internet.

domingo, 27 de junho de 2010

Domingo

Domingo é sempre domingo. Todo domingo tem algumas coisas que nenhum outro dia tem ou pode ter. Mesmo quando tem feriado na segunda, o domingo é igual. Pior, a segunda fica com cara de domingo e a gente acha ruim. Não podia ser assim, domingo não se trabalha (pelo menos a maioria das pessoas), muita gente encontra a familia, tem futebol, passeio no parque. Mas todo mundo reclama. Ainda mais depois que a Rede Globo e sua programação inviolável batizaram o dia de Domingão. Aí sim, ficou pior.

Domingo tem Fórmula Um, almoço em família, briga em família, jogo as quatro da tarde. Tem também aquela depressão do final da noite, a sensação de que nada vai mudar, e a vontade de começar a segunda de uma vez para por em ordem as coisas que jogamos para o alto na sexta. Tem a enorme fila para o cinema no shopping, e o casal de recém namorados conversando sem parar na fila de trás. Sem contar o Fantástico, com o mesmo formato há dois mil anos, trocando as pessoas mas mantendo a falta de assunto, que mesmo assim será assunto na segunda no trabalho.

Domingo em Porto Alegre tem Brique da Redenção, com as mesmas banquinhas, sempre. Tem chimarrão na sombra do Monumento ao Expedicionário, ou debaixo do sol, dependendo da estação. No Rio tem praia lotada e avenida Atlântica fechada para veículos, meia pista. Em Brasília tem shopping desde de manhã ou correr no Parque da Cidade. Em BH tem Feira Hippie na Afonso Pena. Em Nova Iorque Central Park. Em Manaus tem cervejada com churrasco. Em São Paulo, Liberdade. 

Domingo é dia de brigar com os pais, com os irmãos, com os cunhados, com a mulher, com o marido. Dia de se olhar no espelho com vergonha do sábado, fazer planos de voltar para a academia. Domingo é dia de ir na missa, rezar para ser perdoado por faltas que cometemos sem maldade. Dia de voltar de viagem, com a fila enorme do congestionamento na subida da baixada santista, ou na descida da Serra no Rio. Dia de buscar o filho na casa da mãe para comer em um restaurante de shopping. Dia de ligar para a menina do sábado e conferir se foi mesmo tudo como a gente sentiu, dia de não atender ao telefone.

Domingo é dia de não fazer nada e reclamar por isso. Dia de não ler um bom livro, de não ouvir música. É dia de tédio, mais tédio e mais tédio. É dia de esperar. Dia de não pensar. É nesse dia que o ciclo da vida cotidiana fica mais claro, a cada sete enfrentamos ele de novo, com sua mensagem que nos diz que lá vem outra vez nossa vida do dia a dia com seus pequenos e patéticos problemas. Mas é ele quem nos diz também que lá vem de volta nossa boa e divertida vida, nossos amigos parceiros e engraçados, nossas novas oportunidades, nossas pequenas conquistas, nossas novas tentativas. Imagine um mundo sem domingos, um mundo chato, linear e contínuo, sem o ciclo óbvio e necessário dos dias e nunca mais reclame.

Domingo é hoje!

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Casamento por amor

Casamento por amor é um negócio moderno. Até bem pouco tempo os caras casavam para parar de guerrear uns com os outros. Guerra era um negócio caro e que exigia uma enorme logística além de drenar mão de obra, daí que era mais barato bancar uma festa de casamento e acabar com a discussão juntando os reinos. Mas acontece que no século passado, do início para o meio (estou falando do século XX se você não entendeu a ironia) as pessoas resolveram casar por amor.

Eu também acho mais divertido, mas não posso dizer que seja mais prático. Num mundo com X bilhões de pessoas (deixei X porque não tenho certeza de quantas são e estou com preguiça de procurar no Google porque estou com um bolo no forno)... com X bilhões de pessoas no mundo é difícil acreditar que vamos acertar naquela que é a nossa. Eu tentei várias vezes, vocês sabem... Essa quantidade de gente aumenta a pressão, ainda mais para um cara como eu que acredita em um mundo único, solidário e plano. É como jogar a responsabilidade toda sobre nossas escolhas, enquanto vivíamos simplesmente as responsabilidades escolhidas por outros. Ora, um casamento por encomenda já pressupõe que nada vá dar certo, não precisa fazer força ou se dedicar, é só deixar o tempo passar e os problemas enfrentados serão todos atribuídos a isso. É como se alguém que você nunca viu na vida fosse comprar uma camisa para você, não teria obrigação nenhuma de acertar o tamanho. Mas se você for comprar a sua própria camisa, ah...daí você tem que acertar em cheio.

E imagine agora que essa busca se resume a uns poucos quilômetros quadrados para a maioria das pessoas. Tire destes quilômetros todas aquelas improbabilidades (dependendo do caso, pessoas do mesmo sexo por exemplo) e vai sobrar menos da metade. Ou seja, se encontrar, vai ter sorte assim lá no raio que o parta! No final, para mais uma simplificação, chamamos isso de destino, porque é mais fácil jogar a responsabilidade em cima de um ente metafísico e simplificar o processo tirando a culpa de cima de nós(culpa? acho que essa palavra a igreja católica inventou na Idade Média). E ainda tem a casualidade, "...a sorte é um cupido aleatório, que muitas vezes me fez sentar ao lado de mulheres das quais eu jamais sonharia me aproximar. Fico imaginando qual delas é meu grande amor, e quantas vezes já a deixei escapar sem saber... (Walter Kirn)" .

Mais uma vez estou constatando - como tantas constatações que fiz por aqui nesses dois anos - como as coisas são complexas, imprevisíveis e aleatórias, e ainda assim podem ser mágicas, encatadoras e divertidas. Cada vez que alguma coisa dá certo, somos os escolhidos; quando dá errado, os infelizes. Isso não é verdade, talvez o destino sempre nos empurre para o melhor, mesmo que a gente não entenda como ele faz isso. Por isso que eu saio e conheço pessoas. Tenho certeza de que é o destino que está me empurrado para isto.

O destino é aqui!

imagem: http://sol.sapo.pt/

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Saramago, Saramágico

Rio de Janeiro. Quatro cervejas no calçadão do Arpoador. Lapa. Rio Scenarium. Banda Farofa Carioca.
Samba.
Funk.
Samba-funk. Caipirinhas. Caminho mais longo. Caminhada no centro. Rua do Ouvidor. Bolinho de bacalhau, cerveja gelada, Chapéu Panamá. Feijoada.

Dormimos.

Barra. Cervantes. Capital Inicial.
O mundo vai acabar, e ela só quer dançar dançar dançar.
Diagonal.

Domingão. Aniversário, seleção. Leblon, Rota 66. Barulho ensurdecedor. Morena de olhos profundos. Pizzaria Guanabara. Jobi fechado. Dormir. Avião de novo.

Minha singela e estranha homenagem a Saramago - Saramágico que muitas vezes me levou nas jangadas de pedra de sua literatura contundente, sem nomes próprios, sem vírgulas, completa de imagens, sem sentido, com todo sentido do mundo.

Boa viagem !

domingo, 6 de junho de 2010

Deus e o processo decisório

Fiquei com pena de Deus. Deve ser mesmo difícil conviver com tantos pensamentos ao mesmo tempo. São tantas as variáveis que tenho certeza que Ele de vez em quando pensa que deveria ter feio o mundo mais simples, ou os homens menos estúpidos. Só na parte de processos decisórios então, deve ser uma loucura. Veríssimo uma vez escreveu sobre isso. Imagine como Deus escolhe as pessoas que vão morrer em cada dia, milhares. Deve ser uma logística muito complexa. Ainda mais em tempos de guerra, não dá prá errar nada, senão pode ir por engano um prêmio Nobel qualquer e uma cura nunca ser descoberta. Não deve ser fácil ser Deus.

E se tomar decisões não é fácil para Ele, imagine então para nós. Estou convencido de que não existe mesmo lógica em um processo decisório de âmbito pessoal. Não dá para dizer que os processos decisórios sejam cartesianos, organizados, regulamentares. Mas que estão muito mais relacionados com esse caldo primordial que nós nos tornamos durante nossa efêmera existência, isso se pode afirmar. Acho que foi o que Freud chamou de Ego, Alterego e Superego, essas pessoinhas com vontade própria que vivem dentro da gente dando palpite, uma espécie de trio de motoristas de táxi indicando como tomar decisões sem nosso conhecimento, mas que alteram permanentemente nosso sistema de crenças e nosso papel no cotidiano. 

Pior é que por conta de fatores nebulosos na avaliação, nem sempre somos honestos em nossas decisões. Tendemos a supervalorizar nossos medos, nos protegendo como primatas recém saídos da natureza hostil (que somos!), ao passo que subestimamos o inimigo interno, aqueles problemas complexos que minimizamos porque são oriundos de pessoas próximas ou amadas. Somos perigosamente perniciosos para nós mesmos quando tomamos decisões. Sempre refletindo com base em nossos demônios, mas ignorando os fantasmas históricos de nossa relação social. Assim vamos trilhando um caminho seguro na vida, "resta saber se seremos felizes, porque infelizes por certo que não seremos, pois nos protegemos contra o sofrimento probabilístico".

Cada fase nova ou novo caminho exige esse esforço. E vamos pisando nas mesmas pedras que outros pisaram, de modo que se tornam tão lisas que não são mais verdadeiramente seguras. Mas somos bichos ainda, é parte de nossa herança natural, e não conseguimos mudar nossos medos e enfrentar caminhos alternativos. Erramos sempre do mesmo modo, não somos criativos no erro. Enquanto uma geração tem medo do futuro porque o passado passou, a outra tem medo do futuro porque ele pode não vir. Irônico e desnecessário, o futuro virá de qualquer forma. São tantas as possibilidades: posso não me aposentar se Serra for eleito e acabar com a Previdência, ainda tem o vulcão da Islândia e tantos outros escondidos, 2012, a bomba atômica que o Irã não tem. O mercado de trabalho para os formandos, o H1N1 ou outro vírus mutante nascido num mercado de animais na China. Nessas horas pensar que a vida é eterna pode ser um alívio, conversar com os mortos pode ser de grande valia, como fazia o Chico. Mas isso dá trabalho e revigora outros medos, traz responsabilidade, e a angústia de ter que acertar, afinal, é o mínimo que se espera de quem transitar em mais de um mundo. Além disso, como vamos ouvir os mortos se muitas vezes somos surdos aos pedidos de ajuda dos vivos que nos cercam, ou dos vivos que falam línguas que nem sequer sabemos o nome?

Resta seguir. Seguir com nossas decisões, nossos medos, escapando aqui e ali das pedras lisas e nos juntando em matilhas, como fazíamos quando éramos só uma criatura a mais no mundo natural, antes de decidirmos sem cerimônia que somos os escolhidos de Deus.

A vida é aqui!


* Esta postagem foi baseada em fragmentos de uma conversa por email de um texto escrito e enviado para mim pelo meu amigo Pedrinho Vieira. Ele me autorizou a usar as idéias centrais e desenvolver. Pode ser que não tenha nada a ver com o que ele quis dizer, mas a comunicação é assim. Valeu, Jovem!

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Inspiração, Papai Noel e Rilke

Inspiração é um negócio complexo.

Sempre falei para os meus alunos que inspiração não é nada mágico. Você não tem que acender um charuto cubano, ou tomar uma dose de tequila, ou acender uma vela roxa para criar. Nada disso, sempre disse que inspiração é um conjunto tão profundo de conhecimento que em determinado momento transborda e se materializa numa obra. É como aquela última gota que transborda um copo, ou aquela mãozinha salvadora para empurrar o carro que faz com que os Newtons da inércia sejam finalmente vencidos por 01 Newton a mais. Inspiração é um conhecimento profundo que não consegue mais ficar calado.

Pois eu também nunca acreditei em crises de inspiração. Sempre achei que isso era frescura, bobagem, coisa de quem tem dinheiro e não tem talento, ou tem os dois em excesso. Como vocês sabem, sou um cara assim pragmático algumas vezes, cheio de opiniões. Deve ser de família. Acho que meu próximo emprego vai ser de taxista no Rio, daí vou poder exercitar ter opinião em tudo, e o que é melhor, sempre vou ter razão. Mas o ponto não é este. O ponto é que ando mesmo sem inspiração.

Quando a gente acredita demais numa coisa (e no meu caso essa coisa era que crise de inspiração não existe) e de repente ela parece não ser completamente verdadeira é um pouco estranho. Pensando assim começo a entender os problemas da humanidade, afinal, todos nós fomos enganados pelo Bom Velhinho (não, não é o cara que vendeu o carro para você, é o Papai Noel). Deve ser horrível você ter seis anos e de repente descobrir que todo mundo sabe uma coisa que só você não sabia. Tenho certeza que é isso que nos faz ciumentos, rancorosos, gananciosos, mentirosos no futuro. Nosso modelo é esse:
- Ei, pirralho babaca! Papai Noel não existe! Hahahahahahahahaha!
É um choque de realidade absurdo, dentro de um mundo de faz de conta, pessoas coloridas na Tv, animais que falam e a Xuxa, surge um cara que fala para você que tudo que te falaram era mentira. Como assim?

Comecei este texto só para ver se conseguia escrever sem um assunto, mas parece que estou andando em círculos, ou que bebi demais. Rainer Maria Rilke (que foi o secretário de Rodin por dois anos)  uma vez disse para um cara no livro "Cartas a um jovem poeta" que ele devia escrever sobre a sua própria vida. Não devia escrever sobre o amor porque o amor é muito complexo, e porque outras pessoas já escreveram melhor do que ele porque eram mais velhas (estranho?). E disse que ele deveria escrever sobre sua própria vida, porque depois quando lesse se achasse o que escreveu chato, devia mudar de vida. Sempre achei esta idéia espetacular, mas um pouco cruel. Bem ao estilo do Papai Noel, dá medo mas é bom.

Vou ler este post amanhã, daí decido se preciso mudar de vida. Mas para quem não tinha assunto no início, acho que eu fui bem longe.

Ideías Recicladas é aqui!

terça-feira, 1 de junho de 2010

Coliseu? Essa não!

Me dói ter que dizer isso, mas estou convencido de que as cidades brasileiras não têm mais saída. A arquitetura está morta. A globalização atingiu a arquitetura da pior maneira possível, nos trouxe os exemplos falidos dos países mais ricos, mas não trouxe a idéia essencial da beleza e da adaptabilidade. Sempre viajei muito a trabalho ou por minha conta e constato que as cidades seguiram um curso que não pode ser mudado. Invariavelmente nossas cidades são feias. O amontoado de construções improvisadas, os vazios urbanos, a infraestrutura deficiente e aparente, o mau gosto na escolha de cores e revestimentos – representados pelo gosto mais barato – sempre, frutos de um repertório limitado. As cidades foram padronizadas no pior. Não há mais uma arquitetura significativa ou representativa encaixada no contexto, somente pequenas colagens reproduzidas nas classes mais pobres, e pior, nas classes mais altas, que teoricamente teriam mais acesso a diferentes fontes culturais, um descaso pela beleza ou uma incapacidade alarmante para distinguir o que tem qualidade do que é simplesmente lixo. Nossa arquitetura parece ter voltado ao estado primordial, construímos a essência do abrigo, pedra sobre pedra, não importa a beleza ou a qualidade, somente abrigar.

Nas periferias a tipologia construtiva das favelas predomina. Não só nas favelas, mas em todo o contexto urbano. Amontoados de casebres de tijolos subindo ou descendo morros, ou espalhando-se pelas áreas planas, ao redor e margeando as rodovias, acinzentados pela fuligem do progresso. Como disse Chico Buarque em Budapeste, cidades que vão se espalhando como uma doença, sem serem contidas por nada (ou coisa assim).

Cada vez que viajo fico em mais dúvida se a arquitetura como disciplina deve continuar existindo. Subtraímos de nós mesmos, pouco a pouco, o direito de ver uma cidade bela. A arquitetura deveria nos lembrar o que poderíamos ser, como me ensinou Botton, a arquitetura harmoniosa deveria representar o que perseguimos, harmonia em essência, beleza como acessório, mas tranqüilidade, equilíbrio e perfeição como finalidade. Cidades são feitas essencialmente de edificações e artérias de circulação. Como arquitetos, nossa parte deixamos para trás, a qualidade das edificações é paupérrima.

Esse descaso dos arquitetos que fazem a arquitetura média brasileira matou nossas cidades. Deveríamos ser indiciados por homicídio do belo, e a avalanche de mau gosto cria um novo ambiente urbano pior do que o espaço original, isto é inaceitável. Nas camadas mais pobres a pressão pela posse ignora o direito coletivo e vulgariza as relações sociais, e o Estado, nas esferas locais, ignorando o crescimento cancerígeno, nada faz. Estou de saco cheio, a arquitetura que estudei e impregna meu espírito é muito mais do que isto.

Não bastasse, o Tizi (meu talentoso ex aluno preocupado com os rumos da arquitetura brasileira) me conta que uma empresa chamada Indiana Mistery entrega uma idéia patética para um prefeito do interior do Rio Grande do Sul, na cidade de Farroupilha: Um parque temático com uma réplica do Coliseu. Itália é igual a Coliseu: Arquitetura para analfabetos culturais. Quarenta milhões de Reais transformados em um erro estético. E não me falem que na Disney tem réplicas também, porque lá também há espaços de qualidade superior misturados com réplicas intencionais representativas adaptadas a um contexto específico. E ainda tem mais, a entrada principal será uma réplica do Arco de Constantino, coitado.

Meus olhos estão fartos do lixo urbano, e aí vem mais um. Ser arquiteto exige paciência, temo que minha paciência tenha acabado.

* Pela qualidade da computação gráfica feita no Sketchup com os recursos básicos (veja as palmeiras) dá prá imaginar qual será a qualidade do produto final. Repare também no muro da lateral direita do Arco de sei-lá-quem, porque de Constantino esse arco aí não é. Isso sem falar nas faixas de segurança que não levam prá nada. De fato, isso pode parecer bobagem, mas uma ilustração vale por mil palavras, qualquer arquiteto sabe que ela mostra até onde o projeto não foi estudado.
fonte: http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a2933165.xml&template=3916.dwt&edition=14866§ion=1008

terça-feira, 6 de abril de 2010

Miojo

"A paz está garantida quando não se está com fome"
Momofuku Ando - criador do Miojo

Não sei o que acontece comigo, mas toda vez que vou fazer Miojo tenho que ler as instruções. Acho que tem a ver com alguma esperança sórdida dentro de mim de que a maneira de fazer macarrão instantâneo tenha mudado, e a fórmula seja mais simples ainda. Uma espécie de ultimate way to cook pasta, algo assim como uma idéia impressionante que revolucionaria o mundo da alimentação. Mas não. Meu Miojo desde os quinze anos de idade continua sendo cozinhado por 3 minutos em 450 ml de água fervendo.


Hoje, diante do desafio de mais um Miojo, fui para o Google para saber o que queria dizer Lamen (como disse Nelson Motta, imagine o que Flaubert escreveria se pudesse acessar o Google). Lamen é um macarrão japonês, e o Miojo nasceu em Taiwan, apesar de haverem registros de macarrões instantâneos desde o século XVI na China. Momofuku Ando, criador do lendário macarrão, teve a idéia após a guerra ao presenciar uma fila de pessoas famintas em frente a uma vitrine de fios de macarrão.

De fato, o que temos é que Miojo deveria ser tombado como patrimônio nacional. Por intermédio dele milhões de estudantes em repúblicas e longe da casa dos pais puderam se alimentar depois da aula, e não foram raros os casos onde um saquinho desses salvou um feriado inesperado de 7 de setembro com tudo fechado e nada para comer em casa. Unanimidade entre estudantes, solteirões, recém casados e descasados, inabilidosos cozinheiros e maconheiros, o bom e velho Nissin é praticamente uma instituição da larica provocada pelo uso de uma erva que a rapaziada fuma pelas praias do Brasil afora. 

Miojo não tem classe social, cor, raça, credo ou religião, serve sempre e para todos. Incrementado com creme de leite ou molho de latinha, ketchup, com requeijão ou ovo frito, coberto daquele corante com gosto de galinha caipira, bacon, carne (e recentemente picanha), nunca perde a essência. Basta ter um fogão, uma panelinha, água e um fósforo, e voilá! está pronta a refeição. Conheço pessoas que se tornaram psicologicamente dependentes de Miojo, e quando ele trocou de nome para Nissin tiveram que procurar ajuda especializada. Era como uma referência que desaparecia, seria como comer com um estranho toda noite depois da balada.

Se você leu todo este post, sabe do que estou falando. Se não sabe, benvindo* à Terra, estranho.

Miojo é Nissin!

*O vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, registra duas grafias para a saudação: "bem-vindo" e "benvindo".